Ivan
desde menino tinha um sonho, ser capitão de navio. Ele passava horas na orla do
mar assistindo os transatlânticos desembarcar no cais, o cheiro da maresia
embalava a alma do garoto sonhador, que se deixava levar pelas ondas do mar viajando
mundo afora.
Ainda
na adolescência Ivan entrou na escola da marinha se tornando um aluno aplicado,
responsável, se empenhando cada vez mais em busca da realização de seu sonho. Feliz,
sorria com o vai e vem de navios a sua volta, imaginando que logo a sua vida
seria sobre as águas do oceano, seu íntimo se enchia de contentamento
inspirando a brisa refrescante que vinha do mar aberto correndo livre sobre o
céu.
O
tempo passou e o menino enfim, já era um rapaz continuando firme no leme a
caminhando do tal sonho dourado, desgarrou de pai e mãe para viver um desejo de
criança. Ivan ainda não era um capitão, mas tinha uma função importante dentro
do navio, esse tinha uma vida solitária na correria do dia a dia entre trabalho
e estudos, não tinha tempo para grandes amores, mesmo porque as mulheres que
passaram por sua vida eram passageiras e o amor que sentia por elas, idem, chegando
ao fim com término da viagem.
E assim Ivan continuava seguindo o rumo do seu
destino traçado por ele mesmo, vencendo pacientemente patentes por patentes com
o intuito de alcançar o seu objetivo, até que em um belo dia primaveril é
chegado à hora do garoto sonhador que um dia foi viver na pele o seu grande sonho.
Na proa do navio está acontecendo uma grande festa, Ivan está sendo condecorado
como capitão do maior transatlântico do mundo. O capitão sorria orgulho com a
medalha brilhando no peito, porém lá no fundo de seus olhos passa uma sombra de
tristeza.
Sargentos,
coronéis, marujos e cadetes que acompanharam a sua trajetória lhe batem
continência o parabenizando por seu sucesso.
__
Parabéns capitão! Diz um cadete sorrindo. Quando eu crescer quero ser igual ao senhor!
Ivan
abaixa a cabeça deixando agora a tristeza transparecer, que teima fincar raiz
em seu peito, enquanto discretamente com mãos nervosas seca uma grossa lágrima
que lhe escorre pelo rosto.
__
Não filho, não queira ser igual a mim!
__
E por que não capitão, chegar a sua posição não é motivo de orgulho?
__
Sim, hoje estou realizando um sonho, mas para viver esse momento deixei para
trás as pessoas mais caras desse mundo, ignorei a tudo e a todos, sonhei esse
tempo todo sozinho, não me importei com mais ninguém, só em minha realização, hoje
estou aqui no topo desse leme, porém me sinto vazio, como se faltasse um pedaço
de mim que ficou em meu passado.
__
Capitão, nada de tristeza, hoje é dia de comemoração, não vai deixar uma mulher
acabar com a sua festa!
O
capitão Ivan com o olhar triste, perdido ao longo do oceano, responde:
__
Não me refiro a esse tipo de amor, cadete, para alcançar o meu objetivo me
afastei demais da minha família, nem sequer permiti que compartilhassem comigo
o meu sonho!
__
É verdade capitão, não conhecemos ninguém da sua família, o senhor tem pai, mãe,
irmãos?
__
Claro que sim, cadete! Apesar do meu jeito frio não fui gerado em uma chocadeira,
no entanto faz muito tempo que perdi contato com eles! Saí de casa muito cedo,
aos treze anos de idade para estudar em outra cidade, eu estava cego, muito
ocupado correndo atrás do meu sonho, no começo mamãe sempre me escrevia, eram
cartas cheias de saudades e carinhos, mas eu na época não tinha tempo para
perder com melodramas e fui deixando essas missivas regadas de amor de mãe, de
lado, ignorando por completo o afeto da família, nem sequer me preocupava em
responder por achar que esse sentimento me sufocava, me enfraquecia perante o
rumo que eu tinha traçado para a minha vida, hoje sou um homem realizado, porém
com medo de voltar ao meu passado, nem sei como vou ser recebido ao retorno do
meu lar e pior, tantos anos sem notícias que nem sei se meus pais ainda estão
vivos ou mortos, tenho consciência que devo ter feito eles sofrerem com o meu
abandono, consegui realizar o meu sonho de menino, em compensação fui omisso na
parte familiar, um filho relapso, egoísta,
ingrato, colocando na frente apenas o meu desejo, por conta desse meu comportamento falho,
cadete eu te digo, não sou um exemplo a seguir, corra atrás dos seus sonhos sim,
mas nunca desista de sua família, sonho realizado, sem ter com quem compartilhar
se perde a importância, se perde o brilho! O pior cadete, o tempo não volta e a
colheita é necessária, o preço de ter um sonho realizado só é válido e valoroso
quando não precisamos causar dor a ninguém para alcançar um sonho desejado!
Dilma Lourenço Moreira
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