Era
sábado a noite de carnaval e Marco Antonio saiu para se divertir. As ruas
estavam empilhadas de foliões, pierrô e colombinas pulando alegremente em meio
de confetes e serpentinas. Palhaços, piratas, super-heróis e outras fantasias completavam
o bloco da alegria.
A
banda da saudade ia abrindo caminho arrastando os foliões ao som da marchinha,
fantasiados ou não, caiam na folia cantando as marchinhas, pulando feito pipoca
lembrando-se dos carnavais de quando era menino.
Marco
Antonio também não resistiu e saiu seguindo o trenzinho formado pelos foliões, cantando
as modinhas antigas de carnaval fazendo coro junto com a banda da saudade. Eram
velhos, jovens e crianças, famílias inteiras se divertindo juntas.
Ninguém
conseguia ficar parado ouvindo a banda cantando músicas antigas de carnaval. “Tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil
palhaços no salão, Arlequim está chorando pelo amor da Colombina no meio da
multidão”.
Essa
marchinha antiga de carnaval ainda hoje toca fundos os corações dos foliões e
com Marco Antonio não podia ser diferente, mesmo sem querer lança um olhar no
passado.
Carnaval
tem essa magia, não é só folia, é também saudades, saudade dos tempos de menino
quando saía com a mãe e os irmãos pro carnaval de rua fantasiados de super-
heróis. Durantes muitos anos o seu favorito foi o Zorro, claro que não podia esquecer-se
das bisnagas coloridas pra fazer guerra de água e martelinhos para fazer muito barulho.
O jovem sorrindo, pensa alto.
“Tempos
bons que não voltam mais”. Diz Marcos Antonio saudoso, de volta a sua realidade
fantasiado de pierrô e segue cantando: “Allah-lá-ô,
ô, ô, ô, ô, ô, ô, mas que calor, ô, ô, ô, ô, ô, ô. Atravessamos o deserto do
Saara, o sol estava quente, queimou a nossa cara”. De repente ao seu lado
surge uma graciosa bailarina escondida por detrás de uma máscara, o jovem ficou
encantado, desde então só tinha olhos para a linda foliona. O cupido do amor estava
à solta e os tinha enfeitiçado. O casal enamorado desde então, de mãos dadas pularam
e cantaram as marchinhas até que a bailarina mascarada o convida a entrar em um
baile de salão, o rapaz hesita, não era muito fã de baile de salão, o bom do
carnaval é brincar nas ruas, é sambar atrás dos trios elétricos, no entanto,
enfeitiçado pela meiguice da bailarina ajeitou a máscara de pierrô e se deixou
ser conduzido.
O
baile de salão estava fervilhando com a alegria dos foliões e Marco Antonio de
mãos dadas com a bailarina se rendeu aos seus encantos, passaram a noite
trocando beijos e abraços, não conseguiam tirar os olhos um do outro, chegando
até a fazer promessas de amor trocando olhares profundos através das máscaras
de carnaval, apesar do jovem em alguns momentos ter a estranha sensação que
conhecia aquela menina.
O
dia estava amanhecendo quando o baile de carnaval terminou. O rapaz, gentilmente
se ofereceu acompanhar a sua amada até em casa, quando chegaram em frente do
prédio que a garota morava o sol já ia alto e ainda assim os jovens continuavam
usando máscaras, quando Marco Antonio diz sorrindo da coincidência:
__
Engraçado, meu pai também mora nesse prédio, você disse que se chamava Maria
Clara, eu não sei se você ouviu o meu nome com todo aquele barulho no salão, me
chamo Marco Antonio.
A
moça bonita diz enquanto retira a máscara:
__
Mas todos me conhecem por Clarinha.
__
Clarinha!!!
O
rapaz sente um grande baque no peito diante do rosto familiar e também
lentamente retira a máscara.
A
jovem surpresa dá um grito como se estivesse sentindo uma grande dor.
__
Mano!!! Então é você?
Marco
Antonio, trêmulo, completamente atônito, muito sem graça se apressa em corrigir.
__
Alto lá Clarinha! Irmãos apenas por parte de pai!
Os
dois jovens, pálidos feito papel, constrangidos pela surpresa evitavam se olhar,
até que Marcos Antonio de voz rouca quebra o gelo.
__
Lembra quando eu ia passar os finais de semana com o nosso pai, você ainda era uma
menininha, pena que você foi estudar no estrangeiro, terminou que crescemos separados.
Hoje quis o destino nos pregar essa peça, nunca mais vou esquecer esse baile de
carnaval.
A
garota, de olhos baixos, acanhada riscava o chão com a sapatilha, arrependida
diante do sacrilégio.
Sem
mais nada a dizer os dois se despedem silenciosamente com um simples aceno de mão.
A bailarina com o olhar triste ainda se volta jogando um beijo na direção do pierrô.
Depois
desse dia os jovens foliões nunca mais se viram, preferindo guardar os momentos
vividos daquela noite pra sempre na memória, no entanto a imaginação não tem
fronteiras, nem parentescos e nas noites de carnaval o pierrô e a bailarina se encontram
em sonho revivendo a única noite de amor que um dia eles tiveram!
Dilma Lourenço Moreira
Carnaval realmente fica na memória,ó quanta saudades!!
ResponderExcluirÉ, nem me fale Augusto, realmente o carnaval sempre nos deixa saudades.
ExcluirObrigada pelo comentário e volte sempre.
Abraços
Dilma