Maurício
mora no alto da colina, em um casebre muito pobre. Seu pai, o senhor Joaquim é mineiro.
Um dia ele levou o filho para a mina e em um descuido o garoto caiu de uma
ribanceira, depois desse tombo Maurício nunca mais andou.
Hoje,
ele passa o dia na janela sentado na cadeira de rodas olhando o vai e vem dos
mineiros, mas o que lhe encanta mesmo são os voos dos pássaros, o vento
brincando em seus cabelos negros encaracolados lhe dando a sensação de liberdade.
Dona Antonia a mãe, fica entristecida olhando o filho na cadeira de rodas, com
os olhos compridos olhando além da janela, o pior que nada ela pode fazer para
tirá-lo daquela situação. O que ainda faz o menino sorrir é brincar de carrinho
nos trilhos da mina, apesar do acidente que sofreu não ficou com medo de voltar
na gruta, ao contrário, esse é o seu lazer preferido.
Maurício
grita de emoção com o carrinho em alta velocidade chegando a soltar fogo dos
trilhos, seus olhos brilham sentindo a adrenalina ferver, o sangue queimar a
pele fazendo o coração bater forte dentro do peito, porém tinha momentos em sua
vida que o garoto se sentia triste, solitário, principalmente na escola na hora
do recreio enquanto todas as crianças corriam para o pátio para brincarem de
pega-pega, pique esconde, futebol. Ele se refugiava na biblioteca e assim
ganhava o mundo através da leitura, viajava deixando a imaginação fluir, voando
sobre as minas negras feito carvão alcançando o azul do céu, velejando sobre nuvens,
cavalgando em arco-íris em busca da felicidade, até que alguém o chama para a
realidade e o menino sorria tristemente reconhecendo sua vidinha sem graça de sempre.
Se não fosse os momentos que passava brincando nos carrinhos da mina sua
infância seria sem cor e sem luz, a emoção que sentia era intensa, quando
estava no comando do carrinho se sentia senhor de si, por dentro a adrenalina
pipocava em todos os poros do seu corpo aflorando sobre o seu ser, só assim o
garoto se sentia vivo outra vez.
Outro
dia, quando Maurício estava correndo, se divertindo nos trilhos da mina, quando
ouviu uma gargalhada infantil, de princípio teve medo, pois os mineiros
costumavam dizer que a mina era mal assombrada e o susto foi maior quando ele
olha para trás e vê outro menino sentado no banco de trás do carrinho, feliz
esse também se divertia com o vento brincando em seus cabelos.
__
Quem é você? Não vi você subir!
__
Ola Maurício! Que bom que agora você está me vendo, sou o teu parceiro, há
muito tempo brinco com você nessas minas.
Mal
o garoto se recupera do susto quando se vê em um lugar reluzente, florido, assustado,
olha a sua volta.
__
Que lugar é este? Onde estamos?
__
Esse é o seu mundo imaginário!
__
Se é imaginário, não existe!
__
Existe se você acreditar! A propósito, me chamo Sócrates! E hoje é um dia para
se comemorar, não são todos os dias que conseguimos entrar no mundo real imaginário.
__
Aqui é o paraíso? Pergunta Maurício encantado com tudo a sua volta.
__
Se você o vê assim, é! O paraíso somos nós que fazemos, vem comigo! Tem mais
alguém aqui que você precisa conhecer. Diz Sócrates correndo na frente.
__
Hei, espere por mim! Esqueceu que eu não consigo andar?
Sócrates se volta sorrindo, dizendo:
__
Aqui no mundo da imaginação você pode!
__
Poxa é mesmo, eu estou de pé, que maravilha!
Maurício
sai correndo sentindo a relva macia debaixo de seus pés, extasiante de
felicidades, fazendo piruetas, plantando bananeiras, enquanto Sócrates sorria diante
da felicidade do amigo.
__
Sócrates, é aqui que você mora?
__
Moro dentro de sua imaginação, meu mundo é você quem faz!
__
Então quer dizer que você também não é real?
__
Maurício, eu repito! Tudo aqui é real se assim você acreditar!
De
repente o garoto da mina para de sorrir quando seus olhos esbarram com algumas
crianças em cadeiras em rodas.
Com
voz triste e decepcionado Maurício pergunta para o amigo:
__
Por que essas crianças estão em cadeiras de rodas, se você diz que esse mundo
foi criado por minha imaginação?
__
Não amigo! Você não as criou assim, porém elas se sentem presas como se
estivessem em uma cadeira de rodas.
__
Não entendi Sócrates!
__
No mundo real dessas crianças elas não são paralíticas, mas é como se fosse,
são crianças com mentes de adultos, cresceram antes do tempo, nem sequer
tiveram infância, nem muito menos imaginação, essas crianças têm mentes e corpos
atrofiados.
__
E vão serem assim para sempre?
__
Isso depende delas, é preciso apenas que deseje despertar, são chamadas as
crianças sem imaginação, falar em imaginação, já está na hora de voltar para o
mundo, de fato real.
__
Há, logo agora que estava ficando bom?
__
Calma Maurício, sempre que você quiser pode voltar com a imaginação fértil que você
tem, não vai ser uma cadeira de rodas que vai te podar.
__
É uma pena que as minhas pernas só funcionam aqui no mundo do faz de conta.
Sócrates
olha bem nos olhos do amigo e diz com voz firme:
__
Maurício, querer é acreditar! Tem coisa pior que ser paralítico, é não saber sonhar!
Se você tem a mente plena de imaginação, você pode andar e até mesmo voar!
O
garoto da mina desperta com esse pensamento fixo ressonando em mente, que se
acreditasse podia andar e até voar.
Lá
na boca da gruta o garoto ouve a mãe chamar, esse se põe de pé e se vê firme em
cima das próprias pernas, perplexo de felicidade corre ao encontro da mãe, seu
corpo estava tão leve que parecia realmente voar.
A
mãe abraça o filho, gritando:
__
É milagre! É milagre! O meu filho está andando.
Em
volta do garoto se formou um burburinho, todos querendo saber o que tinha acontecido.
Maurício
eufórico de contentamento, explica:
__
O milagre só acontece se você acreditar e quando se deseja muito o seu querer
toma força, fazendo o milagre acontecer!
Dilma Lourenço
Moreira
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