O tigre Márli
fugiu do circo, cansado dos maus tratos do senhor Barone, o domador. Esse
estava sempre mal humorado e quem pagava a conta eram os animais, que não
tinham como se defender da fúria do bruta homem, que parecia estar sempre com o
demônio no corpo, descendo o chicote sem dó e nem pena, até ver o sangue
escorrer no coro de quem ousasse desobedecer suas ordens.
Certo dia,
aproveitando a distração do rapaz que limpava a jaula, Márli escapou e se
embrenhou mata adentro, esse era o momento que ele sonhava há muito tempo.
Desde que era filhote que era obrigado a fazer o que o senhor Barone queria, se
não obedecia, sofria sérias torturas. Ele não batia apenas de chicotes, mas com
pedaços de paus, a pedradas e até uma espécie de lança era usado para ferir os
animais, quando não os colocava de castigo, sem comida, trancado no fosso
escuro. Era um buraco feito com esse fim, perto do trailer do senhor Barone.
Era lá que jogavam os animais, que ficavam muito feridos por conta dos maus
tratos, muitos nem voltavam, morrendo por lá.
Márli já não
aquentava aquela vida, estava com os nervos à flor da pele. O senhor Barone
estava cada dia mais agressivo, o jeito foi fugir, antes que cometesse um
desatino com o domador malvado.
O tigre
Márli estava feliz, correndo no meio da floresta. Sentindo o vento batendo de
encontro ao seu rosto, gritava de satisfação:
__ Finalmente
estou livre! Viva a liberdade! Adeus Circo, adeus domador! Iupi! Comemorava o
tigre, feliz da vida.
O tigre andou
mais um pouco deslumbrado com cada canto da floresta, parou para descansar no
ponto mais alto da mata, ficando a apreciar o panorama do alto. Avistando a
cidade ao longe, sorriu aliviado.
__ Agora sim,
isso que é vida! Nada pra fazer, a não ser respirar esse ar puro. De hoje em
diante só vou fazer o que eu quero. Nada de pular em círculos com fogo, nem
andar sobre cabos de aços, não sou artista, sou apenas um animal felino, criado
pra viver livre em meio da natureza.
O tigre Márli
rosna o mais alto possível, feliz por estar de volta ao seu habitat. Ele
caminhou mais um pouco, parou para beber água no rio, quando avista o domador e
alguns policiais na outra margem, com armas nas mãos a sua procura. O animal se
assusta e procura um lugar para se esconder, entrou em um túnel e foi sair na
cidade, quando ouve uma voz:
__ Hei
bonitão! Nem pense em ir à cidade!
__ Quem está
falando?
__ Eu! A rã!
Chamo-me Drica! Se você entrar na cidade, provavelmente vai ser um alvo fácil!
Se estiver fugindo de alguém, o melhor é continuar na mata!
__ Mas o
domador está aqui com a polícia, me caçando!
__ Venha
comigo, bonitão! Sei de um lugar que eles nunca vão te achar! Acompanhe-me!
__ Obrigado,
Drica! O meu nome é Márli! Você mora há muito tempo por aqui?
__ Nasci no
brejo, aqui perto! Você está vendo aquela cachoeira, atrás da cortina de água
esconde uma caverna que é um ótimo esconderijo. Logo ali, tem uma entrada que
vai levá-lo ate lá.
__ Mas você
não vem comigo?
__ Bem que
gostaria, mas a minha família me espera para o almoço.
__ Você que é
feliz, Drica! Eu nunca tive uma, não sei o que é ter pai, uma mãe! Cresci
sozinho, apanhando do domador. Quando me recusava a obedecer, ele me batia
muito, me deixava sem água e alimentos. Nunca recebi um carinho, nem muito
menos um muito obrigado quando participava dos shows e a bilheteria lotava
enchendo os bolsos dos homens de dinheiro. Hoje, tive a oportunidade de fugir e
se depender de mim pro circo, não volto nunca mais, eles só me levam de volta,
morto. Se for para morrer nas mãos dos homens, então que seja aqui no meio de
minha floresta.
Enquanto o
tigre contava sua história de vida, a rã Drica chorava, com pena do novo amigo.
__ Venha
Márli! Vou te apresentar a minha família.
__ E o
domador? Pergunta Márli, assustado.
__ Ele está
do outro lado do rio! Não se preocupe, está escurecendo, logo eles vão embora.
A mata é muito perigosa pro bicho homem, os animais selvagens assim do seu
tipo, se pegarem eles aqui em nosso território, não perdoam! Do mesmo jeito,
somos nós. Animais na cidade ficam muito desprotegidos, um alvo certo para os
caçadores, que adoram enfeitar as suas salas com cabeças de animais selvagens,
eles acham que isso lhe impõe respeito, eu particularmente acho bizarro, um
tremendo mal gosto. Chegamos Márli! Esta é a minha casa! A minha mãe cozinha
muito bem, às vezes a família exagera na proteção, se torna até sufocante, mas
todo mundo tem o direito de ter uma família.
Márli
foi muito bem recebido por todos, no brejo. Ficou encantado com a família de
Drica. Dona rã serviu um ensopado, que era de comer rezando. Tinha também
gelatina, eram todos muito simpáticos, chegava ser até emocionante o carinho
que eles tratavam um a outro. Depois do almoço minha amiga rãzinha me
acompanhou até a caverna, onde me esconderia do caçador.
Estava
feliz, finalmente teria um lar. Eu e Drica conversávamos animadamente, quando
vejo outro tigre se aproximando. A amiga percebendo meu olhar de curiosidade se
adiantou e foi logo falando:
__ Lola, esse
aqui é o Márli! Você não se incomoda se ele ficar por aqui, não é?
Nisso,
aparece dois filhotes de tigres correndo um atrás do outro, fazendo algazarra
em volta da tigresa.
__ De jeito
nenhum! O difícil vai ser ele aquentar a bagunça desses dois!
__ A senhora
me desculpa! Não sabia que a caverna estava ocupada!
__ Na
verdade, não moro aqui! A minha caverna fica um pouco mais adiante, pode ficar
a vontade! Você é o tigre que os caçadores estão procurando?
__ Sim! Fugi
de um circo e só volto pra lá, morto!
De repente
uma sombra de tristeza toma conta de Lola, seus olhos enchem de lágrimas,
lembrando do seu filhote e demonstrando um grande sofrimento, narrar à história
de sua vida.
__ Há alguns
anos atrás, os caçadores levaram meu filho para longe de mim, quase morri de
desgosto, foi a minha primeira cria!
Nisso surge
outro tigre.
__ Lá vai ela
contar outra vez a mesma história! Disse o outro tigre, saindo de uma das
fendas da caverna.
__ Papai,
papai! Correram os filhotes ao encontro do velho tigre. Então foi aí que o
senhor se escondeu dessa vez?
__ Esse é o
único lugar que consigo ter sossego, vocês estão atrapalhando a minha soneca
com todo esse falatório!
Enquanto
isso, os tigrezinhos pulavam em cima do papai tigre, na farra peculiar dos
filhotes.
__ E então,
Lola? A senhora estava dizendo que o seu filhote tinha sido roubado por um
caçador? Pergunta a rã, interessada na conversa.
__ É isso
mesmo, Drica! Todo o tempo que encontrá-lo eu vou reconhecê-lo, porque meu
filhotinho tinha um desenho em forma de trevo em uma das patas, mais exatamente
na pata direita da frente.
Márli,
surpreso deu um passo para trás, dizendo:
__ Será esta?
Lola entre
surpresa e feliz custou a acreditar, com os olhos arregalados começou a gritar.
__ É ele, meu
velho! É ele! Nosso filho voltou!
O tigre pai
se aproximou assustado, verificando a marca de nascimento na pata de Márli. A
emoção toma contas dos três, se juntando em um longo abraço.
Márli não se
agüentava de tanta felicidade, agora ele não era mais sozinho, tinha
reencontrado a sua família.
A notícia se
espalhou pela mata, que o animal que o caçador estava procurando era o filhote
desaparecido de Lola.
Os animais se
reuniram pra por o domador pra correr da floresta. Lola e papai tigre fizeram
as honras juntamente com um grupo de leões, escorraçando com o velho Barone
para bem longe do seu filhote.
__ Esse, com
certeza não volta mais! Disse papai tigre, com o pedaço da calça do homem, na
boca. De longe, se avistava o domador correndo apavorado a caminho da cidade,
com as roupas em farrapos.
Dilma
Lourenço Moreira
Olá minha querida, que belo conto, muito interessante, uma linguagem direta, um grande abraço e até mais, estarei às ordens na medida do nosso pouco tempo, fica com Deus.
ResponderExcluirSão nessas histórias contadas assim, utilizando-se dos recursos das fábulas que muito se aprende.
ResponderExcluirAdorável!!
Abraços
Este é o poder da escrita!
ResponderExcluirAtravés dela conseguimos passar grandes lições de vida! Gostei muito
Um beijo
belissimo texto.
ResponderExcluirisso que a gente tem que ver
atraves dela temos que aprender muitas liçoes de vida.
um abraço.
Querida Dilma, Parabéns!...Pois não sei como vim de encontro a teu blog? Mas são essas coisas de internet mesmo, e... por momentos voltei a ser criança ao ler c/paixão a estória do Tigre, que criatividade, graça e beleza...MARAVILHA!...bjs e saiba que sempre que dispuser de tampo aqui estarei...
ResponderExcluir@RangelObrigado Rangel pela visita, volte sempre.
ResponderExcluirAbraços
Dilma
@Malu
ResponderExcluirObrigada Malu pelo seu comentário e pela visita.
Volte sempre.
Bjs.
Dilma
@ana costa
ResponderExcluirObrigada Ana Costa pelo seu comentário e pela sua visita.
Volte sempre.
Bjs.
Dilma
@Luiz Scalercio
ResponderExcluirObrigado Luiz pelo seu comentário e pela visita.
Volte sempre.
Abraços
Dilma
@Joice Almeida
ResponderExcluirFico muito grata por você me prestigiar.
Obrigada pela visita e volte sempre.
Bjs.
Dilma
Suas histórias são um encanto. Fico imaginando, quantos profissionais da educação relegam a segundo plano uma ferramenta tão gostosa para dar vida ao aprendizado.
ResponderExcluirGrande abraço!
@BLOG DE POESIAS DO PROFEX
ResponderExcluirObrigado pelo elogio.
Na realidade estou tentando ver se aparece alguém interessado em minhas histórias que publico em meu blog, inclusive como você pode ver, já tenho 4 livros publicados, mas só que a publicação é no clube de autores, site que publica grátis seus livros e é vendido sob demanda, só que o custo do livro sai muito caro pra passar para o leitor, então estou tentando ver se aparece um salvador(editora, que se interesse em publicar meus livros, pois não tenho condições financeiras de publicá-los diretamente com um a editora, então é só rezar. Tenho certeza que um dia vai aparecer.
Sou paciente.
Bom, obrigado pela visita, volte sempre.
Abraços.
Dilma