quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O tigre




O tigre Márli fugiu do circo, cansado dos maus tratos do senhor Barone, o domador. Esse estava sempre mal humorado e quem pagava a conta eram os animais, que não tinham como se defender da fúria do bruta homem, que parecia estar sempre com o demônio no corpo, descendo o chicote sem dó e nem pena, até ver o sangue escorrer no coro de quem ousasse desobedecer suas ordens.

Certo dia, aproveitando a distração do rapaz que limpava a jaula, Márli escapou e se embrenhou mata adentro, esse era o momento que ele sonhava há muito tempo. Desde que era filhote que era obrigado a fazer o que o senhor Barone queria, se não obedecia, sofria sérias torturas. Ele não batia apenas de chicotes, mas com pedaços de paus, a pedradas e até uma espécie de lança era usado para ferir os animais, quando não os colocava de castigo, sem comida, trancado no fosso escuro. Era um buraco feito com esse fim, perto do trailer do senhor Barone. Era lá que jogavam os animais, que ficavam muito feridos por conta dos maus tratos, muitos nem voltavam, morrendo por lá.

Márli já não aquentava aquela vida, estava com os nervos à flor da pele. O senhor Barone estava cada dia mais agressivo, o jeito foi fugir, antes que cometesse um desatino com o domador malvado.
O tigre Márli estava feliz, correndo no meio da floresta. Sentindo o vento batendo de encontro ao seu rosto, gritava de satisfação:

__ Finalmente estou livre! Viva a liberdade! Adeus Circo, adeus domador! Iupi! Comemorava o tigre, feliz da vida.

O tigre andou mais um pouco deslumbrado com cada canto da floresta, parou para descansar no ponto mais alto da mata, ficando a apreciar o panorama do alto. Avistando a cidade ao longe, sorriu aliviado.

__ Agora sim, isso que é vida! Nada pra fazer, a não ser respirar esse ar puro. De hoje em diante só vou fazer o que eu quero. Nada de pular em círculos com fogo, nem andar sobre cabos de aços, não sou artista, sou apenas um animal felino, criado pra viver livre em meio da natureza.

O tigre Márli rosna o mais alto possível, feliz por estar de volta ao seu habitat. Ele caminhou mais um pouco, parou para beber água no rio, quando avista o domador e alguns policiais na outra margem, com armas nas mãos a sua procura. O animal se assusta e procura um lugar para se esconder, entrou em um túnel e foi sair na cidade, quando ouve uma voz:

__ Hei bonitão! Nem pense em ir à cidade!

__ Quem está falando?

__ Eu! A rã! Chamo-me Drica! Se você entrar na cidade, provavelmente vai ser um alvo fácil! Se estiver fugindo de alguém, o melhor é continuar na mata!

__ Mas o domador está aqui com a polícia, me caçando!

__ Venha comigo, bonitão! Sei de um lugar que eles nunca vão te achar! Acompanhe-me!

__ Obrigado, Drica! O meu nome é Márli! Você mora há muito tempo por aqui?

__ Nasci no brejo, aqui perto! Você está vendo aquela cachoeira, atrás da cortina de água esconde uma caverna que é um ótimo esconderijo. Logo ali, tem uma entrada que vai levá-lo ate lá.

__ Mas você não vem comigo?

__ Bem que gostaria, mas a minha família me espera para o almoço.

__ Você que é feliz, Drica! Eu nunca tive uma, não sei o que é ter pai, uma mãe! Cresci sozinho, apanhando do domador. Quando me recusava a obedecer, ele me batia muito, me deixava sem água e alimentos. Nunca recebi um carinho, nem muito menos um muito obrigado quando participava dos shows e a bilheteria lotava enchendo os bolsos dos homens de dinheiro. Hoje, tive a oportunidade de fugir e se depender de mim pro circo, não volto nunca mais, eles só me levam de volta, morto. Se for para morrer nas mãos dos homens, então que seja aqui no meio de minha floresta.

Enquanto o tigre contava sua história de vida, a rã Drica chorava, com pena do novo amigo.

__ Venha Márli! Vou te apresentar a minha família.

__ E o domador? Pergunta Márli, assustado.

__ Ele está do outro lado do rio! Não se preocupe, está escurecendo, logo eles vão embora. A mata é muito perigosa pro bicho homem, os animais selvagens assim do seu tipo, se pegarem eles aqui em nosso território, não perdoam! Do mesmo jeito, somos nós. Animais na cidade ficam muito desprotegidos, um alvo certo para os caçadores, que adoram enfeitar as suas salas com cabeças de animais selvagens, eles acham que isso lhe impõe respeito, eu particularmente acho bizarro, um tremendo mal gosto. Chegamos Márli! Esta é a minha casa! A minha mãe cozinha muito bem, às vezes a família exagera na proteção, se torna até sufocante, mas todo mundo tem o direito de ter uma família.

 Márli foi muito bem recebido por todos, no brejo. Ficou encantado com a família de Drica. Dona rã serviu um ensopado, que era de comer rezando. Tinha também gelatina, eram todos muito simpáticos, chegava ser até emocionante o carinho que eles tratavam um a outro. Depois do almoço minha amiga rãzinha me acompanhou até a caverna, onde me esconderia do caçador.
Estava feliz, finalmente teria um lar. Eu e Drica conversávamos animadamente, quando vejo outro tigre se aproximando. A amiga percebendo meu olhar de curiosidade se adiantou e foi logo falando:

__ Lola, esse aqui é o Márli! Você não se incomoda se ele ficar por aqui, não é?

Nisso, aparece dois filhotes de tigres correndo um atrás do outro, fazendo algazarra em volta da tigresa.

__ De jeito nenhum! O difícil vai ser ele aquentar a bagunça desses dois!

__ A senhora me desculpa! Não sabia que a caverna estava ocupada!

__ Na verdade, não moro aqui! A minha caverna fica um pouco mais adiante, pode ficar a vontade! Você é o tigre que os caçadores estão procurando?

__ Sim! Fugi de um circo e só volto pra lá, morto!

De repente uma sombra de tristeza toma conta de Lola, seus olhos enchem de lágrimas, lembrando do seu filhote e demonstrando um grande sofrimento, narrar à história de sua vida. 

__ Há alguns anos atrás, os caçadores levaram meu filho para longe de mim, quase morri de desgosto, foi a minha primeira cria!

Nisso surge outro tigre.

__ Lá vai ela contar outra vez a mesma história! Disse o outro tigre, saindo de uma das fendas da caverna.

__ Papai, papai! Correram os filhotes ao encontro do velho tigre. Então foi aí que o senhor se escondeu dessa vez?

__ Esse é o único lugar que consigo ter sossego, vocês estão atrapalhando a minha soneca com todo esse falatório!

Enquanto isso, os tigrezinhos pulavam em cima do papai tigre, na farra peculiar dos filhotes.

__ E então, Lola? A senhora estava dizendo que o seu filhote tinha sido roubado por um caçador? Pergunta a rã, interessada na conversa.

__ É isso mesmo, Drica! Todo o tempo que encontrá-lo eu vou reconhecê-lo, porque meu filhotinho tinha um desenho em forma de trevo em uma das patas, mais exatamente na pata direita da frente.

Márli, surpreso deu um passo para trás, dizendo:

__ Será esta?

Lola entre surpresa e feliz custou a acreditar, com os olhos arregalados começou a gritar.

__ É ele, meu velho! É ele! Nosso filho voltou!

O tigre pai se aproximou assustado, verificando a marca de nascimento na pata de Márli. A emoção toma contas dos três, se juntando em um longo abraço.

Márli não se agüentava de tanta felicidade, agora ele não era mais sozinho, tinha reencontrado a sua família.

A notícia se espalhou pela mata, que o animal que o caçador estava procurando era o filhote desaparecido de Lola.

Os animais se reuniram pra por o domador pra correr da floresta. Lola e papai tigre fizeram as honras juntamente com um grupo de leões, escorraçando com o velho Barone para bem longe do seu filhote.

__ Esse, com certeza não volta mais! Disse papai tigre, com o pedaço da calça do homem, na boca. De longe, se avistava o domador correndo apavorado a caminho da cidade, com as roupas em farrapos.

                                 

                                                Dilma Lourenço Moreira 

12 comentários:

  1. Olá minha querida, que belo conto, muito interessante, uma linguagem direta, um grande abraço e até mais, estarei às ordens na medida do nosso pouco tempo, fica com Deus.

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  2. São nessas histórias contadas assim, utilizando-se dos recursos das fábulas que muito se aprende.
    Adorável!!
    Abraços

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  3. Este é o poder da escrita!
    Através dela conseguimos passar grandes lições de vida! Gostei muito
    Um beijo

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  4. belissimo texto.
    isso que a gente tem que ver
    atraves dela temos que aprender muitas liçoes de vida.
    um abraço.

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  5. Querida Dilma, Parabéns!...Pois não sei como vim de encontro a teu blog? Mas são essas coisas de internet mesmo, e... por momentos voltei a ser criança ao ler c/paixão a estória do Tigre, que criatividade, graça e beleza...MARAVILHA!...bjs e saiba que sempre que dispuser de tampo aqui estarei...

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  6. @RangelObrigado Rangel pela visita, volte sempre.
    Abraços
    Dilma

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  7. @Malu
    Obrigada Malu pelo seu comentário e pela visita.
    Volte sempre.
    Bjs.
    Dilma

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  8. @ana costa
    Obrigada Ana Costa pelo seu comentário e pela sua visita.
    Volte sempre.
    Bjs.
    Dilma

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  9. @Luiz Scalercio
    Obrigado Luiz pelo seu comentário e pela visita.
    Volte sempre.
    Abraços
    Dilma

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  10. @Joice Almeida
    Fico muito grata por você me prestigiar.
    Obrigada pela visita e volte sempre.
    Bjs.
    Dilma

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  11. Suas histórias são um encanto. Fico imaginando, quantos profissionais da educação relegam a segundo plano uma ferramenta tão gostosa para dar vida ao aprendizado.
    Grande abraço!

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  12. @BLOG DE POESIAS DO PROFEX
    Obrigado pelo elogio.
    Na realidade estou tentando ver se aparece alguém interessado em minhas histórias que publico em meu blog, inclusive como você pode ver, já tenho 4 livros publicados, mas só que a publicação é no clube de autores, site que publica grátis seus livros e é vendido sob demanda, só que o custo do livro sai muito caro pra passar para o leitor, então estou tentando ver se aparece um salvador(editora, que se interesse em publicar meus livros, pois não tenho condições financeiras de publicá-los diretamente com um a editora, então é só rezar. Tenho certeza que um dia vai aparecer.
    Sou paciente.
    Bom, obrigado pela visita, volte sempre.
    Abraços.
    Dilma

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