O coelho Zé
estava muito doente, com reumatismo nas duas pernas. Era de dar pena a situação
do pobre do Zé. Até a pouco tempo ele era ágil, esperto, conhecia a floresta
como ninguém, mas com o passar dos anos o coelho ficou com as pernas
atrofiadas, dependendo da caridade dos amigos até para tomar um copo de água.
Zé nunca quis se casar, sendo assim não tinha ninguém para cuidar dele,
passando seus dias deitado na toca esperando apenas, a hora da morte chegar,
até que um dia passava pela floresta uma bruxa, ficando condoída com a situação
do Zé se ofereceu para ajudá-lo, dizendo que sabia fazer uma poção milagrosa
que ia curá-lo, só que para preparar a receita, necessitava de uma lasca de
unha de crocodilo.
__ Unha de
crocodilo, dona bruxa? Pergunta o Zé coelho, assustado.
__ Isso mesmo
Zé, basta ir até o pântano e roubar um pedaço da unha do velho crocodilo.
__ No
pântano, dona bruxa?
__ E qual é o
espanto, coelho! Você quer ou não quer ficar curado? Perguntou a velha bruxa,
zangada.
__ É que lá
no pântano dona bruxa, mora o maior crocodilo do mundo! Diz o coelho, com o
olhar assustado só em ouvir falar do animal.
__ Dizem quem
ousou andar por aqueles lados jamais voltou. O bicho é um verdadeiro monstro, é
do tamanho desta árvore. Olhos vermelhos, mal humorado feito um cão, calda
enorme. O povo conta, que até hoje nunca ninguém conseguiu escapar de suas
garras.
__ Besteira,
coelho! Eu ando tanto tempo nessa floresta e nunca ouvi falar de nenhum
crocodilo gigante e de qualquer forma preciso de pelo menos uma lasca de unha
de crocodilo, para preparar o remédio que vai devolver as forças de suas pernas.
__ E como vou
até o pântano pegar essa unha de crocodilo, se estou inválido?
A bruxa,
responde nervosa:
__ Bem! Como
você vai conseguir pegar essa unha, isso aí já não é problema meu! Eu também
não posso fazer tudo sozinha, dá teu jeito, Zé!
O
coelho, que naquele momento estava cercado pelos amigos, dando um sorrisinho
sem graça, olha um por um nos olhos, ficando a espera de algum voluntário
valentão que se oferecesse a fazer esse favor.
O leão foi o
primeiro a se despedir.
__ Bom Zé, eu
vou indo! A patroa fica uma fera quando me atraso para o jantar.
A dona onça
também saiu de fininho, alegando que tinha que por seus filhotes pra dormirem.
A raposa e o
macaco também saíram apressados, anunciando um temporal preste a cair.
Logo, todos
os amigos sumiram, restando apenas na frente do coelho Zé, um caracol, com cara
de assustado.
A bruxa se
aproxima, dizendo com um olhar sinistro.
__ Então fica
assim Zé! Quando tiver em mãos a unha do crocodilo, você me avisa. Tenho
certeza que quando tomar esse caldo poderoso, logo vai voltar a correr pela
mata! Vou para casa, adiantar no preparo da poção.
Chegando mais
perto do coelho, cochicha em seu ouvido.
__ Pede para
esse caracol aí, pegar a unha do crocodilo! Ka, ka, ka, ka, ka,
ka, ka, ka, ka!
Depois disso,
sai a bruxa gargalhando, se escafedendo em cima da vassoura feito um relâmpago,
fazendo ressoar pela floresta suas gargalhadas debochadas, deixando o coelho
desanimado olhando para o pequeno caracol.
__ Está me
olhando com essa cara de decepção, por que, coelho? Acha que não sou capaz de
ir ao pântano buscar a unha do crocodilo, só porque sou pequeno?
__ Com essa
lerdeza você vai demorar a vida inteira a chegar ao pântano e além do mais,
você não tem medo do crocodilo gigante?
O pequeno
caracol, com ar de orgulhoso estufa o peito, respondendo:
__ Posso ser
pequeno, vagaroso, mas sou valente! Deixa comigo Zé, vou arrancar a unha desse
crocodilo, nem que seja a dentada, ou não me chamo Cassiano!
O coelho Zé,
de cabeça baixa diz entristecido:
__ Deixa pra
lá Cassiano, é muito perigoso! Não tenho o direito de pedir que arrisque sua
vida por minha causa!
__ Coelho, eu
já disse que vou! Além do mais, tem mais alguém aqui se oferecendo a te ajudar?
Se for pela tua saúde, vale à pena correr o risco! Não se preocupe, tomarei
cuidado! Eu sou tão pequeno, que o crocodilo gigante nem vai me ver no meio da
vegetação.
E assim,
apesar de incrédulo, o coelho não teve outra alternativa, a não ser aceitar a
ajuda do caracol valente.
E lá se foi
Cassiano se arrastando no meio da mata. Depois de viajar alguns dias o caracol
chega ao pântano, olha para um lado, olha para outro a procura do tal
crocodilo, de repente sente um bafo quente na nuca. Cassiano, suando em bicas,
devagar se volta, olha para trás e se depara com uma enorme cabeça, esse, de
olhos fumegantes, pergunta:
__ Quem ousa
entrar aqui no meu pântano?
O caracol valente,
com voz trêmula, responde:
__ Eu sinto
muito seu crocodilo, estava colhendo algumas ervas para fazer uma poção para um
amigo meu que está muito doente! Nem percebi que tinha invadido o seu
território. Se apressa o caracol, enchendo sua casa móvel com algumas ervas.
__ Não se
preocupe, já estou indo embora!
__ Nada
disso, já que veio, vai ficar! Não conhece a lenda do crocodilo, ninguém sai
daqui vivo!
O caracol,
completamente aterrorizado diante da figura monstruosa do crocodilo, tenta
negociar sua vida.
__ Veja, seu
crocodilo! Sou pequenino, não tenho carne pro senhor comer, mas se o senhor me
deixar viver, posso ser o seu escravo, posso coçar suas costas, lhe trazer
algumas frutas, lhe fazer companhia. Ter alguém pra conversar, é muito bom!
Ficar o tempo todo sozinho, deve ser muito chato.
O crocodilo
ficou um tempo pensando.
__ Sei não!!!
Você parece do tipo que fala demais! Vai terminar me incomodando!
__ Não
senhor, seu crocodilo! Prometo só lhe dirigir a palavra, quando for solicitado!
__ Tá certo,
não sou mesmo chegado a lesmas! Resmungou o velho crocodilo, retirando a pata
da frente do caracol, fazendo cara de nojo.
__ Não
senhor! Não sou lesma, sou um caracol! Responde Cassiano, ofendido.
O crocodilo
se volta bruscamente, olhando o caracol com ódio, deixando claro que não
gostava de ser contrariado.
O pobre do
caracol se vendo acuado, diz com um sorriso amarelo:
__ É, o
senhor tem toda razão! Sou uma lesma mesmo!
__ Assim está
melhor! Agora comece logo a trabalhar, escravo! Estou com muita fome, me traga
algo para comer!
__ Como
quiser, senhor! O que o senhor deseja? Pergunta o caracol, solícito.
__ Um coelho!
__ Um coelho?
__ Ficou
surdo, escravo? E volte logo com a minha refeição, nem pense em fugir! Se
demorar muito, saio a sua procura. Hum! Pensando bem!!! Você bem que me serve
como aperitivo! Fala o crocodilo, babando de fome.
Diante do
olhar guloso do crocodilo, o caracol Cassiano saiu ventando, pensando em como
ia trazer um coelho até o pântano. Desesperado, voltou à toca do Zé, contando a
história.
__ Então foi
isso, Zé! Além de não ter conseguido nem chegar perto da unha do crocodilo,
ainda me tornei escravo do monstro!
__ Não se
preocupe, amigo Cassiano! Tenho uma ideia! É um coelho que o crocodilo quer
para refeição? Então é isso que ele vai ter!
__ Mas como
Zé, que você vai chegar até o pântano, esqueceu que está inválido?
__ Você volta
lá e diz para o crocodilo que achou o coelho, mas que não consegue carregar,
ele vai ficar furioso, mas vai terminar vindo buscar a comida. Vou pedir para o
macaco armar uma armadilha, jogando uma rede naquelas duas árvores ali na
entrada de frente da minha toca, quando o crocodilo passar por baixo da rede
vai ficar preso, enquanto ele se debate tentando se livrar da rede darei um
jeito de tirar uma lasca da unha do crocodilo. O perigo, é a rede não agüentar
o peso do bicho, aí é, salve-se quem puder!
E então, o
caracol retornou ao pântano.
Depois de um
longo tempo, chega o caracol todo suado, cansado da viagem.
A armadilha
foi preparada. O coelho se deitou em baixo da rede segurando uma pedra na mão,
fingia-se de morto, ficando a espera do crocodilo gigante.
O crocodilo
ansioso, pergunta:
__ E então
caracol, cadê o meu jantar? Vai me dizer que não encontrou nenhum coelho?
__ Encontrei,
sim senhor! Respondeu o caracol Cassiano em total exaustão, mas não consegui
carregá-lo até aqui, é um coelho grande, gordo, bem apetitoso do jeito que o
senhor gosta, está logo ali na entrada da floresta! Com dois passos, o senhor
chega até o seu banquete.
__ Mas que
escravo incompetente, deixa que eu mesmo vou buscar o meu jantar, antes que
esfrie.
E lá foi o
crocodilo gigante buscar o seu jantar, derrubando tudo que esbarrava pela
frente.
Não demorou
muito só se ouviu um berro aterrorizador rasgando o silêncio na mata, o coelho
estava lá quietinho estirado no chão se fingindo de morto. Mal respirava, até
que viu a pata do crocodilo bem próximo do seu corpo e ZÁS.
Acertou a
pata do bicho com a pedra que tinha em uma das mãos, com tanta força, que invés
de arrancar apenas uma lasca, pulou a unha inteira da fera para fora,
espirrando sangue por todo lado.
O animal
gigante, apavorado pulava, rolava de dor, ficando cada vez mais enganchado na
rede.
Enquanto
isso, o coelho Zé era carregado pelos amigos, claro, levando a unha do
crocodilo na mão, indo direto para a casa da bruxa, que preparou a poção para o
Zé coelho, que hoje está novo em folha, correndo pela mata, feliz da vida, em
cima das suas pernas.
Dilma Lourenço Moreira
Gostei!Muito.
ResponderExcluirVotado e compartilhado.
Seguindo...
Um abraço.