Dona Francisca mora na beira do mar. Leva uma vida feliz. Ela, o sol, o
mar e bolinha, a cadelinha. Era a sua única companheira, viviam sozinhas
naquele recanto da natureza.
Dona Chica, era assim que era conhecida pelos amigos, todos os
dias acordava bem cedo e de sua janela diante de um magnífico panorama assistia
o sol nascer espalhando seus raios brilhantes, levando luz por onde passava.
Assim era também dona Chica, onde passava levava alegria, fraternidade
e sempre uma palavra amiga era dirigida a quem ela encontrava. Logo após o sol
nascer pegava o seu barquinho e lá ia ela e bolinha buscar no mar, o alimento
do corpo. Na volta da pescaria, dona Chica e bolinha se banhavam e se
preparavam para começar a tarefa do dia.
Não demorava muito e as duas saíam nas ruas, vestidas de palhaças a
caminho do hospital infantil que ficava a poucos quarteirões dali. Crianças e
adultos paravam para cumprimentá-las. A mulher e a cadelinha vestidas de
palhaças dançavam em meio de centenas de bolinhas de sabão, colorindo o dia de
quem passava. Assim que adentravam no hospital infantil, dona Chica e bolinha
eram recebidas com uma grande recepção. Lá, elas eram conhecidas como as
palhaças do riso.
As crianças iam surgindo e a alegria tomava corpo, se espalhando
por todo hospital. Não tinha mais choros, nem dores, eram apenas as palhaças
dos risos que chegavam, trazendo amor, distribuindo sorrisos. Até mesmo as crianças
em estado mais graves, nessa hora tinham uma melhora, contagiadas com a alegria
trazida pelas duas palhaças do riso.
As gargalhadas se espalhavam pelos corredores do hospital, invadindo
alas, quartos, espalhando saúde e iluminando os corações de todos aqueles
meninos e meninas, que já não tinham mais caras de doentes. Com os olhinhos
brilhantes, transbordando de alegria, rindo sem parar das piruetas e
brincadeiras de dona Chica e bolinha, que agora eram simplesmente as palhaças
do riso.
Com suas roupas coloridas, caras e engraçadas, arrancando
gargalhadas constantes, cantando, fazendo brincadeiras animadas agitando a
garotada, com pequenos gestos espalhavam sonhos e fantasias, devolvendo a
esperança para aqueles pequenos seres de corpos debilitados castigados pela
doença, mas as palhaças dos risos traziam o remédio, fazendo curar as feridas
daquelas almas, com momentos mágicos e dulcificante, transformando risos em
pílulas douradas, contendo efeitos de curas em seres debilitados e assim a
animação continuava, com brincadeiras de rodas e cabras cegas. Dona Chica, com
uma venda nos olhos tentava pegar bolinha, essa se escondia atrás das crianças
e era aquela gritaria.
Na hora da cantoria, dona Chica tocava guitarra, bolinha dançava sobre
duas patinhas tocando um tamborzinho, por último, era um quadro de mágica, dona
Chica tirava de sua cartola balões coloridos, balas e pirulitos, adoçando a
vida dos pequenos, arrancando risos de contentamentos diante dos confeitos que
caiam feito chuva na cabeça das crianças. Médicos e enfermeiros eram suspensos
nessas poucas horas que as palhaças dos risos tomavam conta das crianças, não
havia emergências, remédios, comprimido, injeções. Soros, nem pensar, só se
ouviam risos de crianças a se espalharem pelo ar, formando uma magia
contagiante. Até o tempo parecia parar, querendo perpetuar os sorrisos das
crianças.
No final do dia, dona Chica e bolinha voltaram para casa, com a alma
radiante de alegria. Sobre elas, acompanham um manto de estrelas. Dona Chica
olhando para o céu, sentindo ainda a felicidade transbordar em seu íntimo,
lembrando dos rostinhos risonhos das crianças do hospital de câncer, elevando o
pensamento a Deus e em prece agradece ao pai pela oportunidade de amenizar pelo
menos um pouquinho o sofrimento daquelas pobres crianças.
Ao término das preces, ela esbarra com os olhos de bolinha a lhe
sorrir. Dona Chica se comove diante do olhar meigo da cadelinha, era como se
ela também estivesse acompanhando-a em preces. Com carinho, pega a cachorrinha
em seu colo aninhando-a em seus braços, dizendo sorrindo:
__ Obrigada companheira, por me auxiliar nesse trabalho tão
gratificante pra nós duas!
E assim, Dona Chica e bolinha, diante das bênçãos do pai maior se
recolhem para o descanso merecido, com a certeza que ao raiar de um novo dia,
sairão em busca de novos sorrisos.
Dilma Lourenço Moreira
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