Clemilda, a pata do sítio dos Fontes estava há
algum tempo tentando chocar seus ovos, mas por algum motivo eles não vingavam.
Lá estava ela em mais uma tentativa, até que a
pata Clemilda chorosa constata que mais uma vez as ninhadas de seus ovos tinham
gorado.
A pata abandona o ninho, triste, cabisbaixa,
decepcionada, se sentindo a última das patas sai caminhando em rumo da lagoa.
Quando esta volta da lagoa eis que tem uma
surpresa, em seu ninho em meio dos ovos quebrados está um lindo patinho.
Clemilda embora sabendo que aquele patinho não tinha saído de um de seus ovos
abraça-o como se fosse seu, de uma vez que o filhote não pertencia a nenhuma
pata da região.
Daquele dia em diante Clemilda dedicou sua
vida para cuidar e educar do lindo patinho Dogue, era assim que a mamãe pata
carinhosamente passou a chamar o seu filhote.
Dogue era um patinho dócil, carinhoso e muito
obediente, porém Clemilda nunca escondeu de Dogue que ele não tinha saído de
seu ovo e sim do seu coração, apesar de Dogue não compreender o significado
daquelas palavras ficava feliz em ser chamado filho do coração.
No entanto, chegando à puberdade Clemilda
notou que o comportamento do patinho tinha mudado.
Apesar de a pata Clemilda tratar Dogue com
muito amor, ela sentia que o seu filhote não era mais o mesmo.
Tornara-se turrão e desobediente. Nos olhos do
patinho meigo e carinhoso hoje pairava uma expressão de rancor, tendo sempre
nos lábios uma palavra dura quando se dirigia a pata Clemilda.
Mamãe Clemilda estava de coração partido,
decepcionada, se perguntando: Onde estava o seu filhote? Não estava
reconhecendo o Dogue que criara com toda sua dedicação e amor. Esse estava
sempre agressivo e mal humorado. Não parava mais em casa, se afastou dos amigos
de infância, passando a se juntar com os animais arruaceiros do sítio.
Mamãe pata só sabia chorar.
Não conseguia mais nem conversar com Dogue,
ele simplesmente se recusava a ouvir os seus conselhos e quando Clemilda
insistia terminava sempre em brigas. O filhote se tornara um pato agressivo e
arrogante. Mamãe pata já não sabia o que fazer.
Um dia, em meio de mais uma dessas discussões,
Dogue com os olhos carregados de ódio pergunta para Clemilda:
__ Por que você tinha que me pegar para criar?
Diante daquela pergunta a queima roupas a pata
Clemilda leva um choque.
__ Como assim, meu filho!?
__ É porque se você não me pegasse pra criar
talvez a minha mãe de verdade me pegasse de volta.
A pata Clemilda, embora sem chão, assim que
conseguiu se recuperar do susto, diz:
__ Filho querido! Não foi bem assim! Na época
até procurei descobrir quem era a sua mãe, não foi só porque você apareceu em
meu ninho que eu tinha o direito de pegar você pra mim, mas ninguém sabia de
qual ninhada você tinha saído! Pesquisei por toda região e depois filho, te
amei desde o primeiro segundo que te vi.
O filhote ingrato grita na cara da pata
Clemilda:
__ E não me chama de filho, que você não é a
minha mãe! Estou cansado desta história de que eu saí do seu coração.
__ Filho! Por que está falando com a mamãe deste
jeito? O que está te faltando aqui? Nós dois somos uma família, não deixo te
faltar nada de material e o meu amor é só teu! O que aconteceu pra você estar
tão revoltado?
__ O que aconteceu, dona Clemilda, é que eu
não nasci do seu ovo! Responde o patinho com ar de arrogante.
__ Filho, a mamãe nunca te escondeu isso!
Realmente não nasceste de um ovo meu, mas isso não significa que eu não te amo,
depois mãe e pai são aqueles que criam. Gerar e depois abandonar não fazem
desses teus pais, porque na verdade o que une duas pessoas é o amor, o carinho,
a convivência e você queira, ou não, eu sou a sua mãe.
__ E quem disse que eu fui abandonado,
rejeitado? Eu posso ter me perdido dos meus pais, que podem estar sofrendo até
hoje sentindo a minha ausência. Ou você pode muito bem ter me roubado.
__ Não, meu filho, eu não te roubei! Não foi
em cima de mentiras que te eduquei! E se caso você tivesse se perdido dos seus
pais vindo parar em meu ninho alguém teria te procurado, pois todos aqui no
sítio conheciam a tua história, alguém deixou você em meu ninho para que eu te
criasse e eu não só te criei, te eduquei, te dei amor e carinho, você é parte
do meu coração! Você foi gerado do meu amor.
__ Há, eu sei, eu sou o seu filho que saiu do
seu coração! Não é isso que você ia dizer?
Respondeu o patinho Dogue, ironicamente.
__ Como você acha, dona Clemilda que me senti
quando fiquei sabendo na escola que todos os patos tinham nascido do ovo de
suas mães e apenas eu tinha nascido do seu coração. A turma logo matou a
charada, saíram correndo gritando pelo pátio da escola dizendo que eu era
adotado.
__ E o que tem demais em ser adotado?
Garanto-te que você é tão amado e até mais que esses seus amiguinhos que
nasceram do ovo de suas mães. Aliás, você também nasceu de um ovo, a diferença
é que a pata que te chocou, por alguma razão não pode de criar.
__ É, sou um rejeitado! É assim que os animais
daqui me vêem, sou um coitadinho, o filho adotado da Clemilda.
__ Se é assim que você se sente, um
coitadinho! Eu lamento muito, pra mim você é o meu filho amado. Se eu tivesse
que fazer tudo outra vez desde o dia que te encontrei em meu ninho, eu faria!
No entanto, esta revolta que carregas em teu peito prova que apenas o amor que
eu sinto por você, não basta. Pra que você seja feliz é preciso que você também
aprenda a se amar. Eu sei que estás com o coração amargurado, se achando um estranho
no ninho, mas uma coisa você tenha certeza, você é o filho mais amado deste
mundo. Apesar de você estar sempre querendo me agredir com suas atitudes e o
seu comportamento, sai de casa não me dá mais satisfações, passa a noite fora
sem se preocupar em me dar um telefonema, porque segundo você, não me deves
satisfações por eu não ser a tua mãe! Choro! Sofro e passo noites em claro
preocupada com meu filhote, mas quando você põem o pé dentro de casa dou graças
à Deus! Rezo para que esta revolta se extinga para sempre do seu coração,
trazendo-me de volta o meu filhote dócil e carinhoso de antigamente.
O patinho Dogue sai batendo a porta sem dizer
uma palavra, sem compreender o suplício de mamãe Clemilda.
E assim a pata Clemilda vai vivendo em seu
vale de lágrimas, esperando que um dia o seu filho Dogue tenha maturidade para
compreender a grandeza do seu amor.
Afinal, esta é a sina de toda mãe.
Dilma
Lourenço Moreira
Grande Dilma!
ResponderExcluirO patinho Dogue dizer que,caso fosse deixado abandonado poderia ter sido achado pela mãe verdadeira...
É de fazer um coração sangrar por anos!
Louro Neves, desculpe te responder atrasado.
ExcluirObrigada e volte sempre.
Abraços
Dilma
Olá Dilma,
ResponderExcluirQue lindo o seu blog, amei, amei, adorooooooooo ler!
Bjim
Flavia Sandoval
Obrigada Flavia,volte sempre e desculpe pelo atraso da resposta.
ExcluirBjs.
Dilma