quarta-feira, 9 de março de 2011

O filhote ingrato




Clemilda, a pata do sítio dos Fontes estava há algum tempo tentando chocar seus ovos, mas por algum motivo eles não vingavam.

Lá estava ela em mais uma tentativa, até que a pata Clemilda chorosa constata que mais uma vez as ninhadas de seus ovos tinham gorado.

A pata abandona o ninho, triste, cabisbaixa, decepcionada, se sentindo a última das patas sai caminhando em rumo da lagoa.

Quando esta volta da lagoa eis que tem uma surpresa, em seu ninho em meio dos ovos quebrados está um lindo patinho. Clemilda embora sabendo que aquele patinho não tinha saído de um de seus ovos abraça-o como se fosse seu, de uma vez que o filhote não pertencia a nenhuma pata da região.

Daquele dia em diante Clemilda dedicou sua vida para cuidar e educar do lindo patinho Dogue, era assim que a mamãe pata carinhosamente passou a chamar o seu filhote.

Dogue era um patinho dócil, carinhoso e muito obediente, porém Clemilda nunca escondeu de Dogue que ele não tinha saído de seu ovo e sim do seu coração, apesar de Dogue não compreender o significado daquelas palavras ficava feliz em ser chamado filho do coração.

No entanto, chegando à puberdade Clemilda notou que o comportamento do patinho tinha mudado.

Apesar de a pata Clemilda tratar Dogue com muito amor, ela sentia que o seu filhote não era mais o mesmo.

Tornara-se turrão e desobediente. Nos olhos do patinho meigo e carinhoso hoje pairava uma expressão de rancor, tendo sempre nos lábios uma palavra dura quando se dirigia a pata Clemilda.

Mamãe Clemilda estava de coração partido, decepcionada, se perguntando: Onde estava o seu filhote? Não estava reconhecendo o Dogue que criara com toda sua dedicação e amor. Esse estava sempre agressivo e mal humorado. Não parava mais em casa, se afastou dos amigos de infância, passando a se juntar com os animais arruaceiros do sítio.

Mamãe pata só sabia chorar.

Não conseguia mais nem conversar com Dogue, ele simplesmente se recusava a ouvir os seus conselhos e quando Clemilda insistia terminava sempre em brigas. O filhote se tornara um pato agressivo e arrogante. Mamãe pata já não sabia o que fazer.

Um dia, em meio de mais uma dessas discussões, Dogue com os olhos carregados de ódio pergunta para Clemilda:

__ Por que você tinha que me pegar para criar?

Diante daquela pergunta a queima roupas a pata Clemilda leva um choque.

__ Como assim, meu filho!?

__ É porque se você não me pegasse pra criar talvez a minha mãe de verdade me pegasse de volta.

A pata Clemilda, embora sem chão, assim que conseguiu se recuperar do susto, diz:

__ Filho querido! Não foi bem assim! Na época até procurei descobrir quem era a sua mãe, não foi só porque você apareceu em meu ninho que eu tinha o direito de pegar você pra mim, mas ninguém sabia de qual ninhada você tinha saído! Pesquisei por toda região e depois filho, te amei desde o primeiro segundo que te vi.

O filhote ingrato grita na cara da pata Clemilda:

__ E não me chama de filho, que você não é a minha mãe! Estou cansado desta história de que eu saí do seu coração.

__ Filho! Por que está falando com a mamãe deste jeito? O que está te faltando aqui? Nós dois somos uma família, não deixo te faltar nada de material e o meu amor é só teu! O que aconteceu pra você estar tão revoltado?

__ O que aconteceu, dona Clemilda, é que eu não nasci do seu ovo! Responde o patinho com ar de arrogante.

__ Filho, a mamãe nunca te escondeu isso! Realmente não nasceste de um ovo meu, mas isso não significa que eu não te amo, depois mãe e pai são aqueles que criam. Gerar e depois abandonar não fazem desses teus pais, porque na verdade o que une duas pessoas é o amor, o carinho, a convivência e você queira, ou não, eu sou a sua mãe.

__ E quem disse que eu fui abandonado, rejeitado? Eu posso ter me perdido dos meus pais, que podem estar sofrendo até hoje sentindo a minha ausência. Ou você pode muito bem ter me roubado.

__ Não, meu filho, eu não te roubei! Não foi em cima de mentiras que te eduquei! E se caso você tivesse se perdido dos seus pais vindo parar em meu ninho alguém teria te procurado, pois todos aqui no sítio conheciam a tua história, alguém deixou você em meu ninho para que eu te criasse e eu não só te criei, te eduquei, te dei amor e carinho, você é parte do meu coração! Você foi gerado do meu amor.

__ Há, eu sei, eu sou o seu filho que saiu do seu coração! Não é isso que você ia dizer?

Respondeu o patinho Dogue, ironicamente.

__ Como você acha, dona Clemilda que me senti quando fiquei sabendo na escola que todos os patos tinham nascido do ovo de suas mães e apenas eu tinha nascido do seu coração. A turma logo matou a charada, saíram correndo gritando pelo pátio da escola dizendo que eu era adotado.

__ E o que tem demais em ser adotado? Garanto-te que você é tão amado e até mais que esses seus amiguinhos que nasceram do ovo de suas mães. Aliás, você também nasceu de um ovo, a diferença é que a pata que te chocou, por alguma razão não pode de criar.

__ É, sou um rejeitado! É assim que os animais daqui me vêem, sou um coitadinho, o filho adotado da Clemilda.

__ Se é assim que você se sente, um coitadinho! Eu lamento muito, pra mim você é o meu filho amado. Se eu tivesse que fazer tudo outra vez desde o dia que te encontrei em meu ninho, eu faria! No entanto, esta revolta que carregas em teu peito prova que apenas o amor que eu sinto por você, não basta. Pra que você seja feliz é preciso que você também aprenda a se amar. Eu sei que estás com o coração amargurado, se achando um estranho no ninho, mas uma coisa você tenha certeza, você é o filho mais amado deste mundo. Apesar de você estar sempre querendo me agredir com suas atitudes e o seu comportamento, sai de casa não me dá mais satisfações, passa a noite fora sem se preocupar em me dar um telefonema, porque segundo você, não me deves satisfações por eu não ser a tua mãe! Choro! Sofro e passo noites em claro preocupada com meu filhote, mas quando você põem o pé dentro de casa dou graças à Deus! Rezo para que esta revolta se extinga para sempre do seu coração, trazendo-me de volta o meu filhote dócil e carinhoso de antigamente.

O patinho Dogue sai batendo a porta sem dizer uma palavra, sem compreender o suplício de mamãe Clemilda.

E assim a pata Clemilda vai vivendo em seu vale de lágrimas, esperando que um dia o seu filho Dogue tenha maturidade para compreender a grandeza do seu amor.

Afinal, esta é a sina de toda mãe.




Dilma Lourenço Moreira


4 comentários:

  1. Grande Dilma!
    O patinho Dogue dizer que,caso fosse deixado abandonado poderia ter sido achado pela mãe verdadeira...
    É de fazer um coração sangrar por anos!

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    1. Louro Neves, desculpe te responder atrasado.
      Obrigada e volte sempre.

      Abraços

      Dilma

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  2. Olá Dilma,

    Que lindo o seu blog, amei, amei, adorooooooooo ler!

    Bjim

    Flavia Sandoval

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    Respostas
    1. Obrigada Flavia,volte sempre e desculpe pelo atraso da resposta.

      Bjs.

      Dilma

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