O dia mal tinha começado e lá estava a dona de casa, nervosa
varrendo a calçada. Volte e meia deixava a vassoura suspensa no ar para
examinar quem vinha lá no começo da rua, tinha Maria o coração apertado de
preocupação.
__ Bom dia Maria, acordou cedo hoje?
__ Espero que seja um bom dia vizinha, porque a minha noite foi de
horror, na verdade nem dormi, passei a noite toda rezando!
__ Por que Maria? Tem alguém doente na sua casa?
__ Não, Rosa! Estou agoniada, o meu filho passou a noite fora e
até agora não chegou!
__ Calma Maria! Deve ter havido algum imprevisto e o rapaz não
teve como te avisar, como diz o velho ditado, notícia ruim chega rápido.
__ Nem fala isso Rosa, se alguma coisa de ruim acontecer com meu
filho, eu morro. Criamos nossos filhos com tanto carinho e dedicação, quando
nascem, tão pequenos e frágeis dependem da gente pra tudo, esses passam a ser a
pessoinha mais importante de toda nossa existência. Os nossos corações batem no
mesmo compasso que os deles, quando esses sofrem, nós sofremos também,
rodopiamos em volta de nossas proles como uma mariposa, vigiando os dias e as
noites amparando seus passos, esses tomam conta dos nossos pensamentos, ficamos
magoados quando alguém os magoa, sentimos suas dores, vivemos seus sonhos,
temos até a certeza que eles nos pertencem.
Rosa diz, sorrindo:
__ Até que um dia eles cressem e entram na fase do amadurecimento
e nós, os pais, no tempo de padecimento, mas também é chegado o momento de por
em prova a educação aplicada a eles, uma vez os filhos criados, o máximo que
podemos fazer por eles é só aconselhar, orientar e rezar muito pra que Deus os
protejam.
__ Rosa, confio no meu filho, sei bem o tipo de educação que dei a
ele, sei que não vai sair por aí matando, roubando, mas o que não falta aí fora
é gente ruim, o mundo está de ponta cabeça, hoje em dia roubam e matam por um
simples tênis ou celular, a vida humana vale muito pouco pras pessoas que não
tem escrúpulo, porque esses não tem amor, não tem religião, não tem Deus em
seus corações, só fico sossegada mesmo quando o meu filho está dentro de casa,
essa onda de assalto relâmpago está apavorando todo mundo, a gente sai de casa,
mas não sabe se volta, tamanha bandidagem nas ruas e esse menino me faz uma
coisa dessas, nem um telefonema até agora, estou com os nervos a flor da pele.
__ Relaxa Maria! Daqui a pouco teu filho estará aqui sã e salvo. É
preciso confiar em Deus, nosso pai maior, só ele nos protege, só ele nos salva.
__ Você fala isso porque seus filhos são adultos, pais de
famílias, já não te preocupam tanto.
Rosa, com certa experiência se aproxima de Maria tentando diminuir
a aflição que aperta o seu peito.
__ Aí que você se engana Maria, para os pais filho é filho, não
importa a idade que tem, o problema é que nós, seres humanos somos muito possessivos
com nossas crias, diferente dos animais que procriam seus filhos pro mundo,
essa é uma realidade que o bicho homem não aceita e se esse for filho único,
então piorou, os pais só faltam querer respirar por esse filho, achando bem que
tem direitos sobre eles. Na fase adulta poucos desses se rebelam do apego
sufocante de seus pais, que por muitas vezes podam seu querer, suas
personalidades, salvo os que conseguem romper o cordão umbilical e vão viver
longe de seus tutores, porque é só isso que nós pais somos para nossos filhos,
quando pequenos é dever dos genitores cuidarem e zelarem pela educação moral e
aprimoramento escolar de sua prole, mas uma vez que esse filho chega na fase
adulta devemos dar espaço para que esse descubra o seu caminho sozinho, fazendo
suas próprias escolhas. Um filho só cresce verdadeiramente quando esse
conquista seu próprio espaço.
__ O que você quer dizer com isso Rosa, que eu sufoco o meu filho
com minhas atenções?
__ Em absoluto Maria! Só acho que falta um pouco mais de confiança
na criação que você deu pro teu filho. É preciso ter fé, acreditar na
misericórdia de Deus, não é só porque nossos filhos estão longe da gente, que
estão desprotegidos.
Mal Rosa termina de falar surge o filho rebento. Maria, com
os olhos congestionados por conta da noite em claro corre a abraçar o rapagão,
como se esse fosse um garoto de colo.
__ O que aconteceu filho! Você está bem? Onde você passou a noite?
E porque não ligou avisando que ia demorar? Nunca mais faça isso de novo, eu
quase morri de preocupação.
__ Mãe, calma! Eu estou bem, não te liguei porque a bateria do
celular estava descarregada, a balada terminou tarde, pra não pegar a estrada
de madrugada, decidi dormir na casa de amigos, eu te peço desculpas, não sabia
que ia ficar nessa agonia toda.
Rosa se afasta sorrindo, deixando Maria lambendo sua cria. Ela
também já tinha passado por muitos desses perrengues quando seus filhos estavam
fora de casa. Foram muitas noites de agonias, rezando pra que Deus os
protegesse, mas o seu coração só sossegava mesmo quando os via na sua frente
diante dos seus olhos, era a fé de São Tomé, que precisava ver para crer.
Na verdade a fé de Rosa, em Deus era pouca, com o tempo ela
aprendeu a ser forte e a ter mais confiança nos desígnios de Deus, entregando
seus temores em suas mãos.
Orações sem fé é jogar palavras ao vento.
Dilma Lourenço Moreira
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