sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Meu pai, meu amigo




A ingratidão é uma flecha sentida bem no meio do peito, por muitas vezes culpa nossa mesmo por esperar mais do que as pessoas podem oferecer.
Acaba que ficamos decepcionados, tristes por ver amigos e familiares se afastarem do seu convívio quando você está passando por momentos difíceis em sua vida. Esses, simplesmente desaparecem, porque você já não tem mais nada a oferecer, é nessas horas que se reconhece o verdadeiro amigo, só assim você percebe a diferença entre o joio e o trigo.
Antes minha casa era requisitada por amigos e familiares, nos finais de semana oferecíamos sempre um churrasquinho regado a muitas bebidas, os amigos não precisavam nem de convites, eles iam chegando. Quem quisesse se fartar só era chegar. Os amigos traziam outros amigos e a farra não tinha hora para acabar, porém, um dia perdi o emprego. Na hora de ser remunerado pouco tinha pra receber, sendo que há meses atrás tinha sacado o que tinha em meu fundo de garantia pra terminar de quitar a minha casinha, como eu tinha um pouco mais de 40 anos mesmo sendo um ótimo profissional estava difícil de arranjar outro emprego dentro da minha área. Vendi carros, tirei as crianças do colégio particular e coloquei na escola municipal, cortei excessos até a vida se equilibrar.
Hoje estou aqui, em um final de semana sozinho, sem ninguém pra ouvir os meus desabafos.
De repente soa o alarme da campainha, essa dispara insistentemente fazendo acelerar o meu coração, de emoção.
__ Pessoal, aguenta aí que a campainha da porta está tocando!
Quem será que se lembrou de mim nesse tempo de vaca magra?
Veja só, não podia ser outra pessoa! É o meu pai com o fusquinha dele carregado de compras.
__ O que é isso, pai? Aqui tem comida pra mais de um mês, não precisava se incomodar.
__ Como não, filho! Você sabe que sempre pode contar comigo.
__ Mas tem muita coisa aqui pai, dá pra abastecer a geladeira e a dispensa também. Fico até envergonhado meu velho, era eu que deveria estar te ajudando.
O velho pai e amigo dá uns tapinhas nas costas do filho querido, dizendo com a voz embargada pela emoção, enquanto o enlaçava em um abraço.
__ Vergonha de que filho, isso é apenas uma fase, logo você vai arranjar outro emprego, a vida vai melhorar.
Os dias se passaram, vieram os meses e eu ainda na corrida atrás de um emprego e esse anjo apareceu muitas vezes na minha casa trazendo alimentos pra minha família. Os amigos de antes de farra quando me encontravam na rua alguns deles fingiam não me ver, mas o tempo passou e o meu velho tinha razão, arranjei um novo emprego, adquiri confiança, tinha de volta a minha dignidade, a minha vida melhorou, pagava minhas contas, sustentava minha filha.
Hoje sou outro homem, nada é igual como antes, o sofrimento do desemprego me fez amadurecer, me tornei uma pessoa mais responsável, passei a escolher a dedos os meus amigos, antes tinha uma casa cheia de pessoas que se diziam meus amigos, pois hoje sei que meu verdadeiro amigo e meu camarada é o meu pai. Ele foi o único que não me abandonou quando eu estava numa pior.
A vida tem dessas coisas, a tragédia, o sofrimento nos torna mais seletivos, descobrimos quem são os nossos verdadeiros amigos. Tá! Fiquei triste, magoado com a ingratidão das pessoas, quando me lembro da minha casa cheia de gente bebendo e comendo e só agora sei, com um sorriso falso nos lábio, pessoas essas que recebia de coração aberto sem se importar com o trabalho que dava para a minha esposa, que se redobrava na cozinha para servir os supostos amigos, que idiota eu fui.
Mas hoje eu sei, aprendi a reconhecer o que vem a ser um amigo. Continuo tendo muitos conhecidos, mas amigo do peito mesmo, é o meu pai.
Se você tem um pai assim, cuide bem do seu, ele pode ser o seu único amigo!

  
                          
Dilma Lourenço Moreira

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