Tonico se distrai brincando com um carrinho de madeira na porta do
humilde casebre. Ao seu redor o sol a pico queimava feito brasa. A seca estava
matando plantações, os gados morriam de sede no pasto, a água que restava na
cacimba nem os animais queriam beber.
O sol batia
forte abrindo fendas ferindo sem dó o solo do nordeste, enquanto o sertanejo de
olhos velados rogava aos céus uma gota de água.
Tonico,
apesar de ter apenas seis anos de idade também se preocupava em vigiar o céu,
volte e meia, entre uma brincadeira e outra corria os olhinhos esperançosos a
procura de uma nuvem, o sol a pino fervilhava a catinga deixando rastro de
destruições pra todo canto que se olhava, até que em um belo dia o menino teve
uma surpresa, ao olhar para o céu tinha uma nuvenzinha bem próximo de sua
choupana, mais exatamente em cima do telhado de sua casa. Tonico mal acreditava
no que os seus olhos viam e radiante, diante da nuvenzinha chama os pais para
verem a novidade.
__ Pai, mãe,
correm aqui rápido, tem uma nuvem em cima da nossa casa!
Seu Joaquim e
dona Angelina correm pro terreiro da casa assustados com os gritos do menino.
__ Mainha,
mainha, olhe pra li! Diz Tonico, apontando com o dedinho pra cima do telhado.
Pai Joaquim,
de olhos brilhantes exclama:
__ Não é que
é uma nuvem mesmo, muié! Pega as bacias, destampa a cacimba que vai cair chuva,
com a graça de Deus esse ano a lavoura está salva!
A mãe ria e
chorava de contentamento, não conseguia tirar os olhos da pequena nuvem.
Logo a
notícia correu feito pólvora entre os sitiantes vizinhos, que nas terras do seu
Joaquim tinha aparecido uma nuvem.
Acabou que a
pequena nuvenzinha se tornou uma atração, vinha gente de longe, com baldes e
vasilhas nas mãos. Em volta da cabana do seu Joaquim se juntou muita gente, com
a esperança de reter um pouco do líqüido sagrado, parecia uma romaria, tinha
gente que até se ajoelhavam diante da pequena nuvenzinha, as beatas pegavam
firme na novena, rogando a São José que mandasse logo uma chuvinha, porém não
demorou muito, uma brisa um pouco mais forte carregou a pequena nuvem, essa foi
se afastando devagarzinho flutuando no céu, foi pra longe do nordeste, acabando
com a esperança do povo nordestino. Esses, com ar entristecidos, decepcionados
voltam para suas casas com cuias e baldes vazios.
Tonico,
sentado na porta de casa acompanha também com o olhar entristecido o mundaréu
de gente indo embora de cabeça baixa, de volta a suas vidinhas sofridas, até
que o menino tem uma ideia, levanta ligeiro, entra dentro de casa retornando
com uma corda nas mãos, saindo em disparada em rumo a estradinha de terra
batida, a mãe curiosa pergunta:
__ Aonde vai
Tonico, com essa corda na mão?
Esse se volta
sorridente apontando para nuvem.
__ Vou laçar
aquela nuvem, trazer ela de volta, nem que eu tenha que montar nela feito
garrote, vou buscar chuva aqui pro nordeste, logo estarei de volta, a benção
mainha!
__ Deus te
abençoe, meu filho!
A mãe balança
a cabeça sorrindo, achando graça da inocência do menino.
__ Não vá
muito longe, Tonico! Logo vai anoitecer!
Esse se volta
sorrindo, acenando com as mãos pequeninas na direção da mãe, dando Adeus pra
mainha.
E assim o
menino galeguinho com cabelos e pele queimado pelo sol quente do agreste,
corria jogando o laço na direção da nuvem, vestindo apenas um calção, pés
descalço, quase que se confundia com o chão de terra batida do carreirinho
rachado pela seca do nordeste.
O tempo foi
passando e nada do menino voltar, dona Angelina e o seu Joaquim tudo que faziam
era chorar, se a vida estava ruim, pior estava agora com o sumiço de Tonico,
até que um dia apareceu na porta de dona Angelina e de seu Joaquim um rapazote segurando
uma nuvem gigantesca presa em uma corda.
Com um
sorriso largo, quase morto de saudades Tonico dá um forte abraço no pai e na
mãinha, essa com o rosto banhado em lágrimas, pergunta:
__ Onde você
estava menino?
O
garoto sorrindo, aponta para o céu.
__ Vocês
reconhecem essa nuvem? Deu trabalho, mas consegui laçar essa danada. Veja, está
quase estourando.
Tonico mal
termina a frase e foi água pra todo lado regando lavouras, transbordando
riachos. Em todo canto do nordeste só se ouvia o clamor de vozes dos sertanejos
dizendo muito obrigado.
E assim nunca
mais ouve seca no nordeste.
Quando os
açudes começavam a secar, logo chamavam o menino Tonico, que ficou conhecido
como o salvador do nordeste.
E
assim, saía pelo mundo afora o herói do nordeste, com seu laço poderoso para
laçar mais uma nuvem e refrescar a seca do agreste.
Não
demorava muito surgia o menino vindo do sul, ou do sudeste, arrastando,
trazendo em seu laço uma nuvem carregada de águas pra fazer chover no chão
árido do nordeste, terminando enfim para sempre o sofrimento do povo
nordestino.
Esses, não
mais padecem, não são mais um povo sofrido. Os açudes transbordam com tanta
água, a lavoura é farta e todo mundo vive feliz, sem ter que deixar suas
terrinhas.
Dilma
Lourenço Moreira
Que história linda, gostei, grande abraço!
ResponderExcluirObrigado pela visita, volte sempre.
ExcluirAbraços
Dilma