sexta-feira, 30 de março de 2012

O marujo




O senhor Agripino é um marujo muito orgulhoso de suas façanhas em alto mar. Freqüentador assíduo de um barzinho a beira-mar estava sempre rodeados de amigos, para escutarem o velho marujo contar suas aventuras, até mesmo o garçom que servia os chopes não perdia uma história contada com muito entusiasmo e com uma riqueza de detalhes incrível, fazendo todos que ouviam Agripino contar suas histórias, embarcarem em suas aventuras.

Esse tinha os olhos sempre perdidos em mar aberto, todas as vezes que começava a narrar uma história.

Essa noite, o marujo contador de histórias contava que um dia, certa sereia tinha lhe aparecido em uma noite clara de verão.

Certa noite, clara como o dia, eu estava deitado na proa do navio. Estava muito quente, o manto de estrelas cobriam todo céu, quando surge a minha frente à mulher mais linda do universo! De imediato ela me enfeitiçou, seus olhos mais pareciam duas pedras de diamantes negros, que me atraiam feito imã em sua direção. Eu, embevecido com tanta beleza não conseguia desviar os olhos daquela linda mulher, que era simplesmente deslumbrante!

Ao mesmo tempo, tinha a cabeça vazia, não conseguia conciliar o pensamento, só tinha olhos pra mulher que estava a minha frente. Se ela me pedisse a lua, eu não pensaria duas vezes para realizar o seu desejo, eu, Agripino deixaria de ser marujo para me transformar em um astronauta, apenas para satisfazer os caprichos daquela linda mulher.

Estava eu assim, ainda tonto, diante de tanta beleza, quando vejo a linda mulher depois de me soprar um beijo cair no mar, desaparecendo bem embaixo dos meus pés. Desesperado, não pensei duas vezes e mergulhei em seu encalce. Nadamos por um bom tempo, até que ela entrou em uma caverna que dava passagem a um portal, nos levando a um recanto que me parecia mágico. Pra todo lugar que se olhava só se viam sereias, só aí percebi que aquela linda mulher também era uma sereia e o mais incrível, naquele lugar que chamei de oásis das sereias, eu respirava livremente como se eu estivesse fora da água, mas a minha felicidade durou pouco. Aquele paraíso, de repente se tornou um pesadelo, sentindo as narinas e a garganta fecharem, comecei a me debater dentro d’água. Estava eu me afogando, sentindo a agonia da morte. A minha sereia quando percebeu o que estava acontecendo correu comigo nas costas me levando as pressas de volta para navio.

Quando recuperei os sentidos já era dia, o sol quente batia em minha cara, levantei-me apressado ainda com tempo de ver ao longe a linda sereia acenando um adeus. 

Depois desse dia nunca mais a vi. Não sei quanto tempo passei no mundo das sereias, mas posso dizer pra vocês com certeza, que aqueles foram os melhores momentos que vivi em toda a minha vida.

E assim, termina o marujo de contar a história da sereia, com os olhos marejados de saudades.

Kico, o dono do bar, que também era um dos fãs das histórias do marujo sai de trás do balcão, dizendo sorrindo, quebrando o silêncio:

__ Olha aqui, Marujo! Vou te dizer, tu mentes muito bem, mas uma coisa não posso negar, um oásis de sereia é tudo de bom, é tudo que um homem pode desejar. Depois quero que me faça um mapa de como chegar a esse recanto maravilhoso das sereias. Tenho certeza que muitos marmanjões que estão aqui vão preferir morrer afogados, que sair desse paraíso.

O botequim se enche de gargalhadas e mais ainda quando Agripino afirmou que tudo que tinha dito era a mais pura verdade.

__ KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK, verdade marujo! KKKKKKK! Se fosse verdade você não estaria aqui perdendo seu tempo na boemia, estaria lá no oásis das sereias dando umas beijocas na boca da linda sereia. KKKKKKKKKKKK.

Terminou que o velho marujo foi embora, aborrecido, decepcionado com os amigos.

O dia estava amanhecendo, ele entrou em seu barco, contornou a linha do horizonte, pegando o rumo do portal que levava ao mundo das sereias.

__ Vou mostrar para eles que não estou mentindo! Resmungava o velho marujo, remando mar adentro.

Passaram-se alguns dias e nada do marujo Agripino aparecer no bar da orla.

Todos sentiam a ausência do marujo, os fregueses chegavam ao bar e logo perguntavam, olhando para a mesa vazia dele, de costume.

__ Ué pessoal! O que aconteceu com o velho marujo, sumiu? Esse bar sem a presença do contador de histórias fica parecendo um velório, até o chope perde o sabor.

Kico, querendo ser engraçado, diz:

__ O marujo deu um pulinho no oásis das sereias, foi buscar umas mulheres pra nós. Daqui a pouco ele estará aqui! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!

 O que ninguém podia imaginar era que justamente foi esse o seu destino.

O tempo passou e nada do marujo aparecer, até que em uma noite de tempestade de mar agitado, eis que surge o marujo, na porta do bar, acompanhado de uma mulher muito bonita, o espanto foi geral.

Logo, o casal foram cercados pelos freqüentadores do bar, curiosos, querendo saber a razão do sumiço do contador de histórias.

Agripino estava diferente, parecia medir uns dois metros de altura, tinha alguma coisa estranha nele, um brilho, uma coloração diferente em sua pele chamava a atenção, proseou um pouco com os amigos e logo se despediu mergulhando de volta ao mar, sempre seguido pela linda mulher.

Os freqüentadores do bar juram que viram quando o marujo emergiu sobre as águas, ele tinha uma calda com mais de três metros de altura, pra se despedir fez algumas piruetas se exibindo para a turma e em seguida, mergulhou pra sempre nas águas do mar, de braços dados com a linda sereia.

E assim, o contador de histórias se tornou uma lenda.

Até hoje se contam histórias do marujo, no bar da orla, mas o que ninguém sabe, é que todas as noites, ele, o marujo Agripino chega bem perto da margem do mar, para ouvir alguém contar suas historias.

   


                                Dilma Lourenço Moreira 

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