O senhor
Agripino é um marujo muito orgulhoso de suas façanhas em alto mar. Freqüentador
assíduo de um barzinho a beira-mar estava sempre rodeados de amigos, para
escutarem o velho marujo contar suas aventuras, até mesmo o garçom que servia
os chopes não perdia uma história contada com muito entusiasmo e com uma
riqueza de detalhes incrível, fazendo todos que ouviam Agripino contar suas
histórias, embarcarem em suas aventuras.
Esse tinha os
olhos sempre perdidos em mar aberto, todas as vezes que começava a narrar uma
história.
Essa noite, o
marujo contador de histórias contava que um dia, certa sereia tinha lhe
aparecido em uma noite clara de verão.
Certa noite,
clara como o dia, eu estava deitado na proa do navio. Estava muito quente, o
manto de estrelas cobriam todo céu, quando surge a minha frente à mulher mais
linda do universo! De imediato ela me enfeitiçou, seus olhos mais pareciam duas
pedras de diamantes negros, que me atraiam feito imã em sua direção. Eu,
embevecido com tanta beleza não conseguia desviar os olhos daquela linda
mulher, que era simplesmente deslumbrante!
Ao mesmo
tempo, tinha a cabeça vazia, não conseguia conciliar o pensamento, só tinha
olhos pra mulher que estava a minha frente. Se ela me pedisse a lua, eu não
pensaria duas vezes para realizar o seu desejo, eu, Agripino deixaria de ser
marujo para me transformar em um astronauta, apenas para satisfazer os
caprichos daquela linda mulher.
Estava eu
assim, ainda tonto, diante de tanta beleza, quando vejo a linda mulher depois
de me soprar um beijo cair no mar, desaparecendo bem embaixo dos meus pés.
Desesperado, não pensei duas vezes e mergulhei em seu encalce. Nadamos por um
bom tempo, até que ela entrou em uma caverna que dava passagem a um portal, nos
levando a um recanto que me parecia mágico. Pra todo lugar que se olhava só se
viam sereias, só aí percebi que aquela linda mulher também era uma sereia e o
mais incrível, naquele lugar que chamei de oásis das sereias, eu respirava
livremente como se eu estivesse fora da água, mas a minha felicidade durou
pouco. Aquele paraíso, de repente se tornou um pesadelo, sentindo as narinas e
a garganta fecharem, comecei a me debater dentro d’água. Estava eu me afogando,
sentindo a agonia da morte. A minha sereia quando percebeu o que estava acontecendo
correu comigo nas costas me levando as pressas de volta para navio.
Quando
recuperei os sentidos já era dia, o sol quente batia em minha cara, levantei-me
apressado ainda com tempo de ver ao longe a linda sereia acenando um adeus.
Depois desse
dia nunca mais a vi. Não sei quanto tempo passei no mundo das sereias, mas
posso dizer pra vocês com certeza, que aqueles foram os melhores momentos que
vivi em toda a minha vida.
E assim,
termina o marujo de contar a história da sereia, com os olhos marejados de saudades.
Kico, o dono
do bar, que também era um dos fãs das histórias do marujo sai de trás do
balcão, dizendo sorrindo, quebrando o silêncio:
__ Olha aqui,
Marujo! Vou te dizer, tu mentes muito bem, mas uma coisa não posso negar, um
oásis de sereia é tudo de bom, é tudo que um homem pode desejar. Depois quero
que me faça um mapa de como chegar a esse recanto maravilhoso das sereias.
Tenho certeza que muitos marmanjões que estão aqui vão preferir morrer
afogados, que sair desse paraíso.
O botequim se
enche de gargalhadas e mais ainda quando Agripino afirmou que tudo que tinha
dito era a mais pura verdade.
__
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK, verdade marujo! KKKKKKK! Se fosse verdade você não
estaria aqui perdendo seu tempo na boemia, estaria lá no oásis das sereias
dando umas beijocas na boca da linda sereia. KKKKKKKKKKKK.
Terminou que
o velho marujo foi embora, aborrecido, decepcionado com os amigos.
O dia estava
amanhecendo, ele entrou em seu barco, contornou a linha do horizonte, pegando o
rumo do portal que levava ao mundo das sereias.
__ Vou
mostrar para eles que não estou mentindo! Resmungava o velho marujo, remando
mar adentro.
Passaram-se
alguns dias e nada do marujo Agripino aparecer no bar da orla.
Todos sentiam
a ausência do marujo, os fregueses chegavam ao bar e logo perguntavam, olhando
para a mesa vazia dele, de costume.
__ Ué
pessoal! O que aconteceu com o velho marujo, sumiu? Esse bar sem a presença do
contador de histórias fica parecendo um velório, até o chope perde o sabor.
Kico,
querendo ser engraçado, diz:
__ O marujo
deu um pulinho no oásis das sereias, foi buscar umas mulheres pra nós. Daqui a
pouco ele estará aqui! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!
O que
ninguém podia imaginar era que justamente foi esse o seu destino.
O tempo
passou e nada do marujo aparecer, até que em uma noite de tempestade de mar
agitado, eis que surge o marujo, na porta do bar, acompanhado de uma mulher
muito bonita, o espanto foi geral.
Logo, o casal
foram cercados pelos freqüentadores do bar, curiosos, querendo saber a razão do
sumiço do contador de histórias.
Agripino
estava diferente, parecia medir uns dois metros de altura, tinha alguma coisa
estranha nele, um brilho, uma coloração diferente em sua pele chamava a
atenção, proseou um pouco com os amigos e logo se despediu mergulhando de volta
ao mar, sempre seguido pela linda mulher.
Os
freqüentadores do bar juram que viram quando o marujo emergiu sobre as águas,
ele tinha uma calda com mais de três metros de altura, pra se despedir fez
algumas piruetas se exibindo para a turma e em seguida, mergulhou pra sempre
nas águas do mar, de braços dados com a linda sereia.
E assim, o contador
de histórias se tornou uma lenda.
Até hoje se
contam histórias do marujo, no bar da orla, mas o que ninguém sabe, é que todas
as noites, ele, o marujo Agripino chega bem perto da margem do mar, para ouvir
alguém contar suas historias.
Dilma Lourenço Moreira
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