O urubu se
apaixonou pela gaivota e foi aquela confusão!
O rei dos urubus quando ficou
sabendo que o urubu Cícero foi visto na praia aos beijos com a gaivota Talita,
ficou furioso com o filho e chamou-o para uma conversa.
__ Cícero! Venha Já aqui, filho!
Onde você está com a cabeça? Tá ficando louco moleque? Foi para isso que te
criei? Urubus e gaivotas não se misturam, eles são apenas aves belas que
encantam os olhos dos homens, enquanto nós, urubus, somos considerados feios,
pavorosos, porém nascemos com uma grande missão, a de limpar o planeta e você
está proibido de se misturar com essa ave de ornamentação!
__ Pai! Eu e a Talita estamos apaixonados e o senhor não
vai poder fazer nada para mudar isso. Ela é a minha alma gêmea! Estamos prontos
pra lutar contra o mundo se for preciso, mas não vamos permitir que ninguém nos
impeça de vivermos o nosso amor!
O senhor urubu se volta para o
filho, espumando de raiva.
__ Que apaixonado, o que! E que
papo de alma gêmea é esse? Nós, urubus não temos essa frescura de alma gêmea ou
cara metade, a gente acasala e pronto! Você está sendo muito mal influenciado
por aquela branquela de praia.
__ Meu pai, eu te peço que
respeite a minha Talita, ela é o amor da minha vida, foi paixão a primeira
vista!
__ Há! Agora está explicado! Pois
volte lá, moleque e dê a segunda olhada no bico da branquela, vai ver o tamanho
da besteira que está fazendo, ela é horrorosa e fede a peixe fresco, e mais!
Que tipo de vida você vai ter com uma branquela caiçara? Ela não vai aceitar
participar dos nossos banquetes onde nós nos fartamos com especiarias da melhor
qualidade, porque essa espécie só comem peixe fresco, alegam que tem estômagos
delicados! Kkkkkkkk! Só falta você agora me dizer, que também vai ser um
pescador! Que tipo de família você vai criar? Caiçaras não gostam de urubus em
suas praias, em sua visão somos feios, considerados aves de mau agouro,
servimos apenas para fazer a limpeza do ambiente. Essa união, nunca que vai dar
certo! O que essa tal de Talita deseja, é te destruir, colocando você contra a
sua família.
Enquanto isso, dona urubu, mãe de
Cícero, chorava em um canto ouvindo a conversa.
__ Não adianta marido, de um
jeito ou de outro elas sempre conseguem tirar os nossos filhotes debaixo de
nossas asas, mas o Cícero, eu tenho que admitir, ele foi longe demais, com
tantas urubus interessadas nele, nosso filho foi se engraçar justamente por uma
gaivota. São uma espécie nojentas que se alimentam de caça viva, e sabe como as
gaivotas nos chamam? De lixeiros! Prefiro comer cadáver do que ser assassina! É
isso que elas são, matam pra comer e você ainda quer se misturar com essa
espécie de aves?
__ Calma pai! Calma mãe! Eu não
estou pedindo permissão pra vocês, pra namorar com a Talita, estou apenas
comunicando que queira vocês ou não, vou me casar com a minha gaivotinha, em
breve.
__ Veja marido e ainda por cima é
malcriado! Reclama a dona urubu, magoada em um canto.
__ Mãe, pai, eu não gostaria que
fosse assim! Não escolhi gostar de uma gaivota, tanto eu, quanto a Tatá
sabíamos que pra viver o nosso amor íamos ter que enfrentar muitos obstáculos.
Os pais dela também agiram da mesma maneira que vocês e pior, me colocou porta
a fora, me puseram pra correr da casa deles dizendo que se lá voltasse outra
vez eu ia virar comida de siris!
__ Credo, filho! É esse tipo de
família que você quer entrar? Dizem que aquela família são da máfia, se reúnem
em bandos pra roubar os peixes dos pescadores, tem preguiça até de pegar a
própria comida no mar, são uma espécie medonha, fico até arrepiada quando
imagino você junto daquela corja.
__ Mãe, para! Não adianta, a
senhora não vai conseguir me envenenar! Se vocês não aceitam a minha união com
a Talita por puro preconceito porque ela é de outra espécie do que a nossa, eu
que não vou ficar aqui brigando com vocês. Vou embora em busca do meu destino,
construir minha história de amor com a gaivota da minha vida!
__ Filho, não faça isso, nós
somos a sua família!
Cícero olha pros pais fixamente
com carinho, como se quisesse registrar as feições dos seus entes queridos em
sua memória.
__ Vocês deixariam o preconceito
de lado, para abraçar Talita como a nora de vocês?
A mãe chorosa olha para o marido
esperando uma resposta, esse diz um NÃO convicto.
__ Se é assim que vocês querem!!!!
Cícero abaixa a cabeça, põe a
mochila nas costas e corre para os braços de sua amada, deixando mamãe urubu se
desmanchando em lágrimas, porém, não muito longe dali a gaivota Talita também
esta tendo o seu momento difícil, seus pais também não aceitam aquela união.
__ Talita, filha querida! Essa
relação não vai dar certo, esse tal Cícero é um lixeiro, comedor de carniça,
deve ter um tremendo mal hálito! Eu não quero esse bicho nojento aqui!
__ Mamãe, a senhora não conhece o
Cícero! Foi a senhora mesmo que me ensinou que é feio falar de quem não se
conhece, ainda mais quando esse está ausente!
O pai da gaivotinha pergunta para
filha, nervoso:
__ E vocês vão morar aonde, no
lixão? Não quero ter netos, cujo o pai é um urubu comedor de carne podre! Você
me decepciona filha, é de um tremendo mal gosto se apaixonar por um urubu! Não
quero esse mostro na minha família!
__ Eu sinto muito papai, mas se
vocês não aceitam o meu futuro marido, então só tem uma coisa a fazer, o Cícero
está passando aqui para me pegar, nós vamos viver a nossa vida longe de vocês!
Lembre-se, foram vocês que quiseram assim! Eu pensei que o mais importante para
os pais fosse a felicidade dos filhos, mas vejo que me enganei, vocês estão
colocando o preconceito acima do amor filial, preferindo que eu saia da vida de
vocês, a me ver feliz com o Cícero, ou seja, o preconceito é mais forte dentro
de vocês, do que o amor que diziam sentir por mim!
__ Você está fazendo o mesmo com
a gente, Talita! Está nos trocando pelo amor de um urubu, te criamos com tanto
carinho e agora recebemos essa paga!
__ Não pai! É vocês que estão
sendo preconceituosos, se vocês me deixarem ficar aqui com o Cícero, é claro
que eu não vou embora, mas vocês não estão me dando outra opção!
Foi dona gaivota quem respondeu:
__ E o que os outros vão falar?
Familiares, vizinhos vão rir em nossas costas!
__ Se a opinião dos outros é mais
importante que a felicidade de sua única filha, então é melhor que eu vá embora
mesmo, não quero envergonhar ninguém!
Talita se despede dos seus pais
sentindo uma forte dor no coração, penalizada por eles se deixarem derrotar por
conta de um sentimento tão mesquinho, como o preconceito.
Cícero está na praia, quando
avista Talita saindo de sua casa carregando uma malinha, esse, voa ao seu
encontro.
__ E então meu amor, conseguiu
fazer com que os seus pais mudassem de ideia?
__ Não!!! Respondeu a gaivota,
triste.
Cícero abraça a sua amada, com
carinho.
__ Não quero que você fique
triste! Temos que ser fortes e juntos venceremos o preconceito. Não vamos
permitir que ninguém atrapalhe o nosso amor, só porque somos diferentes, aliás,
tenho uma surpresa pra você, minha gaivotinha linda! Esse aqui é o senhor
gavião, ele vai realizar a cerimônia do nosso casamento! Você está pronta?
Perguntou o urubu, extasiado, conduzindo a noiva até o altar improvisado de
pedras, onde o senhor gavião os aguardava. A gaivota Talita chorava emocionada,
tinha sido pega de surpresa, não era assim que tinha sonhado o dia do seu
casamento, mas com certeza não deixou de ser emocionante.
E assim, a cerimônia foi
realizada. A beira mar, tendo como testemunha o sol brilhante a sorrir,
caminharam em tapetes macios de areias ao som das ondas que se quebravam nas
pedras, e ainda tinham como damas de honras, nuvens bailarinas dançando sobre o
ritmo da brisa vindo do oceano. Foi nesse cenário banhado de magia que o senhor
gavião deu início a cerimônia de casamento, unindo o urubu e a gaivota sobre as
juras do casal apaixonado.
Nesse momento o céu também se
abriu para assistir esse acontecimento único e emocionante, coroando o urubu e
a gaivota, com o primor das bênçãos celestiais.
Depois dessa linda cerimônia, o
casal amparado sobre as benções de Deus e do senhor gavião construirão seu
ninho de amor no farol e viverão felizes para sempre.
O urubu Cícero e a gaivota
Talita, apesar do preconceito de alguns, o amor que sentiam um pelo outro, com
o tempo só fazia aumentar, sendo que às vezes sentiam certa tristeza, tinham
saudades de seus entes queridos. A esperança era, que com o tempo os seus pais
aceitassem o amor dos dois, consentindo na união do casal, deixando para trás o
preconceito, que tem o peso de uma âncora, fazendo emergir esses seres,
impedindo que a luz entre em seus corações.
Desde o começo do mundo que os
pais tentam escolher os parceiros dos seus filhos, se deixando levar pela
possessão, causando atritos entre familiares, destruindo laços de famílias.
Por muitas vezes essa rixa dura a
vida inteira, esquecendo que o belo está justamente na diferença!
Dilma Lourenço Moreira
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