quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O peixinho peralta





Caio é um peixinho muito esperto, agitado e super ativo, não parava um segundo. Sua mãe estava sempre lhe recomendando.

__ Filho, cuidado com os anzóis das varas dos pescadores, olhe sempre por onde passa!

__ Fica tranqüila mãe, quando eu vejo uma vara de pescar passo bem longe! Acha que sou bobo como o peixe Bilú? Ele se arrisca muito, está sempre se divertindo em volta dos anzóis tirando onda com os pescadores, dá sempre uma beliscadinha de leve nas iscas presas na vara de pescar, ontem mesmo ele estava com uma barriga que parecia uma bola de tanto que roubou iscas!

__ É filho, não pode ficar se arriscado desse jeito, é perigoso! Não quero que você nunca faça isso! Se a mãe do Bilú ficar sabendo dessas peraltices que o filho anda fazendo, vai ficar uma fera com ele, numa dessa ele é fisgado pelo anzol e adeus um peixinho guloso! Vai ser frito em uma frigideira em óleo quente!

__ Ai credo mãe, o Bilú é esperto! Ele se diverte vendo os pescadores apavorados puxando o caniço da vara de pescar, achando que fisgou um baita peixão e quando constata que não tem nada na vara, perdendo não só a isca, como também o anzol fica roxo de raiva!

__ Caio, ou o Bilú não tem noção nenhuma do perigo ou ele não dá o menor valor a sua vida! Nós, os peixes, somos privilegiados, moramos em um mundo aquático que é um paraíso, mas que também está cheio de perigos e quem brinca com o perigo um dia termina se dando mal. Conversa com ele filho! Alerta-o do perigo! Diga a ele que pare com essas brincadeiras antes que aconteça alguma desgraça.

__ Tá bom mãe, vou falar com o Bilú e pedir para ele deixar os pescadores em paz.

__ Falando nele, olha o Bilú ali! Veja Caio, o seu amigo está indo na direção da ponte dos pescadores, está com cara que vai aprontar outra vez.

__ Vou falar com ele mãe!

__ Oi Bilú, como é que vai? Aonde vai com tanta presa?

__ Vou comer um pouco de iscas, estou com fome.

__ Não tem comida na sua casa?

__ Claro que sim, mas na ponte dos pescadores além de encher o bucho, ainda me divirto!

__ Você não tem medo, Bilú?

__ Medo! Quem tem medo, não vive!

__ A mamãe disse que o medo nos afasta do perigo e que todos nós temos que ter um pouco de medo.

__ Bobagem, eu não tenho medo de nada! Quem tem medo é covarde! Vai me dizer que você é covarde, Caio?

__ Covarde eu não sou, mas concordo com a minha mãe, o medo nos afasta do perigo.

__ Se você está dizendo isso, é porque você é covarde!

__ Não sou não! Tornou Caio com raiva.

__ Então vou te fazer um desafio, prova que você não é covarde indo comigo na ponte dos pescadores.

__ Eu disse que não sou covarde, mas não disse que não tenho medo.

__ E qual é a diferença?

__ Covarde é aquele que está sempre se arriscando para fingir que não tem medo!

__ Espera aí Caio, eu ouvi bem, você está me chamando de covarde? Pra mim o maior covarde é aquele que não enfrenta os seus medos!

__ Então Bilú, você se acha corajoso só porque rouba as iscas dos pescadores mesmo sabendo que está arriscando a sua vida? Pois pra mim um ato de covardia é não dar valor a própria vida, você deve estar muito insatisfeito com a sua, para se arriscar desta maneira. Quando você faz essas loucuras Bilú, você por acaso pensa na sua mãe, na sua família, o quanto eles vão sofrer se você morrer? Não sei se você sabe Bilú, muitas famílias sofrem porque seus filhos se suicidam, por que ainda não descobriram a sua verdade, uns por drogas, outros por alcoolismo e outros como você estão sempre em busca da tal adrenalina se divertindo com o perigo, querendo provar que não tem medo, mas sentir medo Bilú, não é ruim, o medo impede que a gente faça muita bobagem em nossas vidas, até mesmo a não morrer em vão.

__ Você está enganado Caio, se pensa que eu quero morrer. Pra mim, correr perigo é sentir o meu coração acelerar, vibrar com o sangue correndo velozmente em minhas veias, é adrenalina pura, isso pra mim que é viver intensamente!

__ Pois isso que você acaba de descrever, se chama paúra, é medo puro. Quem vive se arriscando provocando o perigo é porque tem medo de enfrentar a vida, um dia essa adrenalina que você diz acelerar o seu coração pode ser fatal, se você fosse realmente valente daria mais valor a sua vida, porque se você não se cuidar, logo, logo vai se transformar em comida do bicho homem.

__ Sai pra lá Caio, até parece a minha vó falando! Disse Bilú rindo da cara de Caio.

__ Tudo isso pra não ir comigo na ponte dos pescadores. Há, há, há! Tá provado que você é um covarde!

Bilú saiu rindo ignorando os conselhos do amigo, tomando o caminho da ponte dos pescadores.

Essa foi a última vez que Caio viu Bilú.

Certa manhã chegou à notícia de que o amigo Bilú tinha sido capturado e morto em um anzol de um pescador.

O peixe Bilú tanto provocou que terminou se dando mal, isso é o que sempre acontece com quem brinca com o perigo.



Dilma Lourenço Moreira

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