Caio é um peixinho muito esperto, agitado e
super ativo, não parava um segundo. Sua mãe estava sempre lhe recomendando.
__ Fica tranqüila mãe, quando eu vejo uma vara
de pescar passo bem longe! Acha que sou bobo como o peixe Bilú? Ele se arrisca
muito, está sempre se divertindo em volta dos anzóis tirando onda com os
pescadores, dá sempre uma beliscadinha de leve nas iscas presas na vara de
pescar, ontem mesmo ele estava com uma barriga que parecia uma bola de tanto
que roubou iscas!
__ É filho, não pode ficar se arriscado desse
jeito, é perigoso! Não quero que você nunca faça isso! Se a mãe do Bilú ficar
sabendo dessas peraltices que o filho anda fazendo, vai ficar uma fera com ele,
numa dessa ele é fisgado pelo anzol e adeus um peixinho guloso! Vai ser frito
em uma frigideira em óleo quente!
__ Ai credo mãe, o Bilú é esperto! Ele se
diverte vendo os pescadores apavorados puxando o caniço da vara de pescar,
achando que fisgou um baita peixão e quando constata que não tem nada na vara,
perdendo não só a isca, como também o anzol fica roxo de raiva!
__ Caio, ou o Bilú não tem noção nenhuma do
perigo ou ele não dá o menor valor a sua vida! Nós, os peixes, somos
privilegiados, moramos em um mundo aquático que é um paraíso, mas que também
está cheio de perigos e quem brinca com o perigo um dia termina se dando mal.
Conversa com ele filho! Alerta-o do perigo! Diga a ele que pare com essas
brincadeiras antes que aconteça alguma desgraça.
__ Tá bom mãe, vou falar com o Bilú e pedir
para ele deixar os pescadores em paz.
__ Falando nele, olha o Bilú ali! Veja Caio, o
seu amigo está indo na direção da ponte dos pescadores, está com cara que vai
aprontar outra vez.
__ Vou falar com ele mãe!
__ Oi Bilú, como é que vai? Aonde vai com
tanta presa?
__ Vou comer um pouco de iscas, estou com fome.
__ Não tem comida na sua casa?
__ Claro que sim, mas na ponte dos pescadores
além de encher o bucho, ainda me divirto!
__ Você não tem medo, Bilú?
__ Medo! Quem tem medo, não vive!
__ A mamãe disse que o medo nos afasta do
perigo e que todos nós temos que ter um pouco de medo.
__ Bobagem, eu não tenho medo de nada! Quem
tem medo é covarde! Vai me dizer que você é covarde, Caio?
__ Covarde eu não sou, mas concordo com a
minha mãe, o medo nos afasta do perigo.
__ Se você está dizendo isso, é porque você é
covarde!
__ Não sou não! Tornou Caio com raiva.
__ Então vou te fazer um desafio, prova que
você não é covarde indo comigo na ponte dos pescadores.
__ Eu disse que não sou covarde, mas não disse
que não tenho medo.
__ E qual é a diferença?
__ Covarde é aquele que está sempre se
arriscando para fingir que não tem medo!
__ Espera aí Caio, eu ouvi bem, você está me
chamando de covarde? Pra mim o maior covarde é aquele que não enfrenta os seus
medos!
__ Então Bilú, você se acha corajoso só porque
rouba as iscas dos pescadores mesmo sabendo que está arriscando a sua vida?
Pois pra mim um ato de covardia é não dar valor a própria vida, você deve estar
muito insatisfeito com a sua, para se arriscar desta maneira. Quando você faz
essas loucuras Bilú, você por acaso pensa na sua mãe, na sua família, o quanto
eles vão sofrer se você morrer? Não sei se você sabe Bilú, muitas famílias
sofrem porque seus filhos se suicidam, por que ainda não descobriram a sua
verdade, uns por drogas, outros por alcoolismo e outros como você estão sempre
em busca da tal adrenalina se divertindo com o perigo, querendo provar que não
tem medo, mas sentir medo Bilú, não é ruim, o medo impede que a gente faça
muita bobagem em nossas vidas, até mesmo a não morrer em vão.
__ Você está enganado Caio, se pensa que eu
quero morrer. Pra mim, correr perigo é sentir o meu coração acelerar, vibrar
com o sangue correndo velozmente em minhas veias, é adrenalina pura, isso pra
mim que é viver intensamente!
__ Pois isso que você acaba de descrever, se
chama paúra, é medo puro. Quem vive se arriscando provocando o perigo é porque
tem medo de enfrentar a vida, um dia essa adrenalina que você diz acelerar o
seu coração pode ser fatal, se você fosse realmente valente daria mais valor a
sua vida, porque se você não se cuidar, logo, logo vai se transformar em comida
do bicho homem.
__ Sai pra lá Caio, até parece a minha vó
falando! Disse Bilú rindo da cara de Caio.
__ Tudo isso pra não ir comigo na ponte dos
pescadores. Há, há, há! Tá provado que você é um covarde!
Bilú saiu rindo ignorando os conselhos do
amigo, tomando o caminho da ponte dos pescadores.
Essa foi a última vez que Caio viu Bilú.
Certa manhã chegou à notícia de que o amigo
Bilú tinha sido capturado e morto em um anzol de um pescador.
O peixe Bilú tanto provocou que terminou se
dando mal, isso é o que sempre acontece com quem brinca com o perigo.
Dilma
Lourenço Moreira
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