terça-feira, 3 de maio de 2011

A girafa desastrada




A girafa Zefinha estava sempre entrando em confusões, por conta de ser muito estabanada.

Outro dia ela pegou o fusca emprestado do pai, o senhor Tonico, que morre de ciúmes do seu fusquinha azul ano 62. O cuidado é tanto, que quando está chovendo, se ele precisa sair prefere deixar seu carro protegido na garagem coberto com um lençol, do que tirar o fusquinha azul na chuva. Seu Tonico não gosta de emprestar o fusca azul pra ninguém, muito menos pra Zefinha, que é uma desastrada. Mas a girafa insistiu tanto, que depois de muitas recomendações o pai muito pesaroso entregou as chaves na mão de Zefinha.

E Lá vai à girafa Zefinha no fusquinha azul para o centro da cidade fazer compras, era época de natal e a cidade estava abarrotada de gente.

A Girafa Zefinha levou um bom tempo para encontrar um lugar, para estacionar o lindo fusca azul do senhor Tonico. Feito isso, ela partiu pras compras. Horas depois aparece à girafa Zefinha cansada, acalorada, cheia de pacotes. Nisso vem passando um ônibus circular com tanta gente, que as pessoas eram obrigadas a colocar a cabeça fora das janelas do ônibus, para tomar um pouco de ar. Zefinha dá sinal e depois de muito sacrifício consegue entrar no ônibus com todas aquelas sacolas. E lá vai a girafa de volta para casa sacolejando dentro do ônibus, que mais parecia uma lata de sardinhas. Zefinha chega em casa e encontra seus filhos brincando na calçada, quando um deles pergunta:

__ Mamãe, o que ouve com o fusca do vovô?

A Girafa leva um grande susto, desesperada joga as sacolas para o ar, dizendo:

__ Chí! Esqueci o fusquinha azul estacionado no centro da cidade, o meu pai vai me matar!

Nesta mesma hora estava passando um táxi. A girafa diz apavorada para o motorista:

__ Taxi! Rápido, para o centro da cidade!

A girafa Zefinha entra no táxi completamente atordoada, estavam rodando há algum tempo quando ela reconhece o taxista, tratava-se do gorila Carlão, conhecido como marrento, intolerante, brigão, não tinha a menor paciência com os passageiros, quando ficava nervoso resolvia o problema jogando-os pela janela. Quando a girafa estava quase chegando a seu destino, descobre que estava sem dinheiro para pagar a corrida.

__ Chí!!! E agora, como vou dizer isso pro Carlão?

Zefinha precisava pensar rápido. O gorila estava furioso com o transito, berrava e xingava os outros motoristas, o suor gotejava de sua testa. Bem, só tem um jeito, vou pedir que o Carlão me aguarde aqui, enquanto isso pego o fusquinha do meu pai, corro em casa e pego o dinheiro e volto pra pagar a corrida. Se o Carlão descobre que eu não tenho dinheiro, coitado do meu pescoçinho.

E assim a girafa fez, sem dar muito tempo pro gorila pensar saiu do carro e pediu que ele a esperasse por um momento que já voltava, e sumiu no meio da multidão.

Enfim, a girafa toda atrapalhada depois de muito procurar, pois já não lembrava onde tinha estacionado o carro, até que com grande alívio vê de longe o fusquinha azul, lá quietinho a sua espera embaixo de uma árvore. Quando está se aproximando, a girafa pensa! Engraçado, não me lembro desta árvore! Entra no fusca e acelera o máximo que pode, fazendo o caminho de volta para casa. Em um determinado momento a girafa estava parada no semáforo quando olha a sua volta só agora percebeu que o painel do fusca estava diferente, os estofados também. A girafa solta um grito.

__ Meu Deus! Esse não é o fusca do meu pai! E agora, o que faço?

Nisso ela ouve a sirene da polícia pedindo para que estacionasse. Depois disso, foi só confusão. A girafa Zefinha apavorada saiu do carro com as duas patas para cima pronta pra se entregar, chorando, bastante nervosa foi parar na delegacia. O proprietário do fusca azul que Zefinha tinha pego por engano era de um japonês e ele estava muito nervoso, não falava português direito e ninguém entendia o que ele dizia. No mínimo estava xingando até a quinta geração da girafa Zefinha. O delegado depois de ouvir as duas partes, compreendeu que tudo não tinha passado de um engano, reconhecendo que a girava não teve intenção de roubar o fusca do japonês, terminando por liberar a girafa aloprada. Mas antes lhe recomendou que da próxima vez prestasse mais atenção, antes de sair abrindo o carro dos outros por aí.

Zefinha respira aliviada. Sai fazendo reverência pedindo mil desculpas para o japonês.

A girafa desastrada volta ao estacionamento público e aí sim pega o fusca certo, depois de certificar por umas três vezes o número certo da placa, porém, lembra que aquele dia de cão ainda não tinha terminado, ainda faltava acertar a corrida do táxi com o gorila Carlão, que com certeza não seria tão compreensivo quanto o delegado. Claro que ela não podia chegar à frente de Carlão sem o pagamento da corrida. Completamente zureta dirige até sua casa, pega o dinheiro e volta ao centro da cidade rezando que aquele dia logo terminasse, de preferência com todos os ossos do seu corpo, inteiro.

Chegando ao local onde o gorila estava a sua espera, este de longe avista a girafa. De passos largos, o ódio era visível em seus olhos, completamente transtornado bufando feito uma locomotiva, alcança o pescoço da girafa Zefinha.

__ Calma! Calma, senhor gorila! Peço desculpas pela demora, tive alguns transtornos, mas aqui está o seu dinheiro! O da corrida e mais algum pela sua paciência!

O gorila que estava agarrado ao pescoço da girafa, arregala os olhos quando vê nas mãos de sua vítima um pacote grande de dinheiro. Ambicioso agarra o dinheiro das mãos da girafa Zefinha, largando o pescoço dela todo retorcido.

A pobre da girafa passou uma semana com torcicolo, mas no final do dia ela aprendeu uma lição, ia procurar ser menos estabanada, pra não entrar em novas confusões.



Dilma Lourenço Moreira




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