Na floresta, a coruja amarela estava
enlouquecendo porque não conseguia dormir, os vizinhos macacos não davam um só
minuto de sossego, a algazarra começava ao por do sol e ia até o anoitecer.
__ Amigo Zé macaco! Estou aqui para lhe fazer um
apelo, há dias que não durmo, será que dá pra vocês fazerem menos barulho? É
uma gritaria, um bate-bate que me deixa nervosa.
O vizinho Zé macaco estufa o peito, enfurecido
com a audácia da vizinha, chegando bem junto, quase rente do bico da coruja,
soltando um berro fazendo as penas da pequena ave estremecer, devido ao bafo
que saia da grande boca:
__ E quem está fazendo barulho aqui? Se a
senhora quer dormir, que durma, não estamos com seus olhos.
__ E como quer que eu durma com esse pandemônio
o dia inteiro, é uma falta de consideração, se o senhor quer ter uma boa
vizinhança, precisa respeitar o limite do próximo.
__ Há, mas essa é boa, que culpa nós temos se a
senhora não dorme de dia, porque passa a noite na gandaia.
__ Na gandaia não senhor, me respeite, sou uma
ave noturna.
__ Problema seu dona coruja, estou trabalhando e
preciso alimentar a minha família, os incomodados que se mudem, se não está
satisfeita com a vizinhança, que vá morar do outro lado da floresta.
__ Não é bem assim Zé macaco, seus direitos
terminam a partir do momento que invade o espaço do outro e como fica a lei da
boa vizinhança?
O macaco, com ar debochado se volta com o dedo
em risca na cara da coruja.
__ Se a senhora está insatisfeita, vá reclamar
com o papa e sai logo daqui, me deixa trabalhar em paz senão as coisas vão
esquentar para o seu lado! Ameaça Zé macaco, com vontade de depenar a ave audaciosa.
A coruja amarela, nervosa diante da reação do
vizinho arregala seus olhos enormes fazendo rodopios com a cabeça com tanta
rapidez chegando a sair fumaça, deixando claro o seu desagrado, enquanto isso, a
sua volta estava empilhado de macacos zombeteiros, pulando, fazendo algazarra, se
divertindo diante da fúria da coruja.
__ Olha só, a coruja surtou de vez macacada, cuidado
que a cabeça dela vai levantar voo, KKKKKKKKKK.
A coruja amarela, de repente ficou vermelha de vergonha
e humilhação no meio dos macacos fazendo micagem, se divertindo com o seu descontrole.
Era nítido a burrice dos macacos e ela agindo
daquela forma só estava se igualando a eles,
precisava mudar de tática, manter o equilíbrio, para então vencer a
situação. A pequena ave, que não era burra nem nada respirou fundo, procurando
manter o controle e em um fio de voz volta a apelar:
__ Então Zé macaco, essa é a sua última palavra?
__ Eu preciso ser mais claro? Estou dentro da
minha casa, portanto faço o que eu quero e se a senhora não está gostando do
nosso jeito vá procurar outro lugar pra senhora morar, na minha casa sou o rei,
portanto mando eu!
Porém, a coruja insiste.
__ Só que o senhor esqueceu vizinho, que bem
antes do senhor e a sua família barulhenta se instalaram aqui, eu já morava há
décadas nessa parte da floresta.
__ Há, não duvido! Ironizou Zé macaco, mas a
minha palavra é uma só, sou da seguinte opinião, os incomodados que se mudem.
Enquanto isso, no clarão da floresta juntava
cada vez mais primatas debochados e curiosos, ansiosos para descobrirem quem
seria o vencedor daquela rincha de vizinhos.
A coruja furiosa se vendo derrotada bate em
retirada praguejando, decepcionada com a insensibilidade dos vizinhos, porém o
que os macacos não sabiam era que a coruja amarela não era de desistir fácil,
voltou para casa pensando em uma maneira de fazer os vizinhos entenderem que se
cada um respeitasse o espaço do outro a convivência ficaria bem melhor.
Até que teve uma ideia.
__ Já sei, vou pagar a eles na mesma moeda!
Esperou
anoitecer e assim que os vizinhos se recolheram ela iniciou uma reforma geral
em sua casa. Trocou assoalhos, ajeitou o teto, construiu uma varanda novinha, não
demorou muito os macacos começaram a reclamar.
__ Ficou louca coruja? Até quando vai ficar com
essa maldita furadeira ligada?
__ O que foi vizinhos? Estou incomodando vocês?
__ Claro! Trabalhamos o dia inteiro, agora
precisamos de descanso!
__ Então, deixa ver se eu entendi! Só vocês tem
o direito de descansar, eu não!
__ Não temos culpa se a senhora dona coruja tem
o costume diferente dos nossos!
__ Pois eu lhes digo o mesmo caros vizinhos, temos
costumes diferentes, porém precisamos concordar em um conceito, para haver uma
boa vizinhança! É preciso que haja respeito entre ambas as partes. E então
vizinho, é vocês que decidem como vamos ficar? Essa minha reforma vai durar a
noite toda e mais umas dez noites para terminar toda a obra, se vocês insistem
em serem maus vizinhos, posso ser também, é assim que se começa uma guerra e com
brigas e violências não se tem vencedores, portanto tudo que peço vizinhos é compreensão
e respeito. Eu preciso de silêncio para dormir durante o dia e vocês também de silêncio
durante a noite para descansarem da lida do dia. E então macacos, o que sugerem?
O Zé macaco, zonzo de sono se vendo sem saída entra
em um acordo com a coruja, que ela trabalhasse em silêncio durante a noite para
não atrapalhar o descanso deles a noite e em troca eles durante o dia fariam o
mesmo fazendo o mínimo de barulho, assim não atrapalhariam o sono de beleza da coruja
amarela.
E assim a paz voltou a reinar outra vez na
floresta, cada um respeitando o jeito de viver, um do outro.
Se os homens também fossem mais consciente um
com o outro, a paz mundial não seria um sonho e sim uma realidade!
Dilma Lourenço Moreira
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