A formiga tanajura estava atarefada preparando o
jantar, quando alguém bate insistentemente na porta. Era o senhor jabuti.
__ Entre senhor jabuti, como você vê estou
ocupada, mas tenho sempre um tempinho para papear com os amigos.
O senhor jabuti tira o chapéu da cabeça, nervoso.
__ Dona tanajura, eu não sei se a senhora
percebeu, mas eu tenho muito apreço pela senhora, estou viúvo há alguns anos, minha
querida esposa partiu muito cedo, no entanto, apesar da companhia das crianças,
a solidão está pesando e como a senhora é sozinha também, poderíamos nos juntar
para nos aquecer nas noites frias de inverno.
Dona tanajura ficou um tempão pensando, estava tanto
tempo sozinha que já tinha se acostumado, nunca tinha se casado. Era muito
alegre, gostava muito de se divertir, gostava muito de baladas, viagens, não
tinha ninguém pegando no seu pé.
__ E então dona tanajura, a senhora aceita se
casar comigo?
__ Senhor jabuti, o senhor sabe que eu sou uma
moça solteira, tenho minha vida livre e a alma jovem, adoro dançar, cantar e viajar
pelo mundo. O senhor tem quantos filhos, mesmo?
__ Ao total são cinco! Todos ainda muito pequenos.
A tanajura olhou no semblante do jabuti, que
suava em bicas torcendo o chapéu nas mãos, com um sorriso maroto nos lábios
comentou bem humorada:
__ Meu caro amigo, você não está precisando de
uma esposa e sim de uma babá.
__ Não dona tanajura, não é apenas pelos meus
filhos que estou pedindo a sua mão, realmente tenho afeição pela senhora, gosto
muito do seu jeito alegre e extrovertido de ver a vida, e então dona tanajura,
posso ter esperança?
O primeiro impulso da formiga tanajura era
correr com o folgado do jabuti de sua casa, ela era uma formiga livre, feliz, a
troco de quê ia pegar essa responsabilidade, no entanto não podia perder a
compostura, afinal o senhor jabuti era um animal respeitável na floresta, sendo
assim, por consideração por sua pessoa, respondeu-lhe amavelmente:
__ Senhor jabuti, estou muito honrada com o seu
convite e prometo pensar com carinho na sua proposta, lhe darei a resposta
daqui a uma semana.
O jabuti se retirou de cabeça baixa mostrando a
sua desolação, enquanto a formiga tanajura mordia os lábios de raiva dela mesmo,
por não ter tido coragem de dizer não de uma vez.
__ Essa é boa, aguentar cinco pirralhos que nem
são meus, nem sonhando!
Os dias se passaram e a tanajura não perdia uma
só noite de farra. Sua preocupação era só com a diversão, até que em uma certa
madrugada de volta da balada, estava passando na frente da casa do senhor jabuti
e estranhou que aquela hora a casa estava toda iluminada, ouviu um choro de
criança, pensou em parar e bater na porta, mas pensando melhor resolveu seguir
o seu caminho, afinal ela não tinha nada a ver com isso.
No dia seguinte a notícia que corria na floresta
era que um dos filhos do jabuti estava muito doente.
A formiga badaleira apesar de não querer se
envolver resolveu fazer uma vizita pro jabuti.
Depois de uma leve batida na porta ele atende, esse,
estava com um semblante muito abatido, com ar preocupado.
__ Bom dia seu jabuti, fiquei sabendo da doença
do seu filho e tomei a liberdade de fazer uma visitinha.
O rosto do jabuti se iluminou.
__ Pois não dona tanajura, entre, obrigado pela
gentileza! Esses aqui são os meus
meninos, a razão da minha vida, estamos passando por momentos difíceis porque o
meu caçulinha está atravessando por uma grave crise de bronquite, mas tenho fé
em Deus que ele vai superar essa doença. O senhor jabuti abaixa a cabeça entristecido,
tentando esconder as lágrimas.
A formiga tanajura olhando a sua volta se
surpreende, tudo muito simples, limpinho e organizado, ficou até emocionada
diante daquela família, no leito estava Jujú, o filho caçula, esse, mesmo
bastante debilitado esboça um sorriso para a tanajura.
Na hora da despedida quando o senhor jabuti foi
levar a tanajura até a porta, muito sem graça pega em suas mãos.
__ Me desculpe dona tanajura pela ousadia de
pedir que se casasse comigo, a senhora que tem uma vida tão alegre e festiva não
ia mesmo querer se comprometer com um jabuti com tantas responsabilidades. A tanajura
por sua vez sorriu bem humorada, perguntando em seguida:
__ Isso quer dizer que o senhor está retirando o
pedido de casamento?
__ Não, em absoluto! Se a senhora me aceitar eu
serei o animal mais feliz desta floresta, mas eu não sou sozinho e eu não tenho
o direito de pedir que assuma essa responsabilidade comigo, seria pedir demais,
agora com licença está na hora de dar os remédios do meu filho.
A tanajura saiu caminhando pensativa, se
perguntando se não estava sendo egoísta pensando só em si, afinal o senhor
jabuti não era de se jogar fora, porém no pacote vinham as crianças e esse era
um item que não se podia ignorar, seria uma mudança radical em sua vida, teria
que esquecer as noitadas com os amigos, dizer adeus as baladas, por outro lado
a tanajura também pensava. “Será que já não está na hora de parar com essa vida
fútil”? Afinal, crescer não é assumir responsabilidades?
No dia seguinte a tanajura volta à casa do senhor
jabuti com a desculpa de visitar o doentinho.
__ Que surpresa boa, dona tanajura!
__ Obrigada senhor jabuti, o senhor é muito
gentil e como está o nosso caçulinha?
__ Está melhorando a cada dia, a propósito, ia mesmo
lhe procurar hoje, termina o prazo que a senhora me pediu para dar a resposta a
respeito da proposta de casamento, lembra?
__ Não esqueci senhor jabuti, aliás, é só nisso
que penso nesses últimos dias.
__ Então a senhora aceita se casar comigo, dona tanajura?
Pergunta o jabuti, cheio de esperança.
Após um suspiro profundo a tanajura responde:
__ Sim, senhor jabuti! Eu aceito me casar com o
senhor, confesso que o seu pedido há dias atrás me pegou de surpresa, mas
depois de pensar resolvi que estava na hora de encarar um pouco de
responsabilidade e enfrentá-la como gente grande, cheguei a conclusão que a
vida não é feita apenas de diversões, é preciso também crescer intimamente. De
hoje em diante me comprometo a ser a sua companheira e não apenas vou auxiliar
na educação das crianças, mas também as assumirei como se fossem meus filhos
também!
O senhor jabuti, entre surpreso e emocionado,
abraça forte a tanajura.
__ Prometo que nunca vai se arrepender de ser a
minha companheira e mais, de hoje em diante também serei seu companheiro nas
noites de baladas.
__ Voce está brincando?
__ E porque não? Só porque vai ser a minha esposa,
tem que parar de se divertir?
__ E as crianças?
__ Nada que uma boa babá não resolva!
A formiga badaleira no auge da felicidade, com
um sorriso iluminado abraça o futuro marido, selando o compromisso.
Hoje estão casados e vivem felizes com seus dez
filhotes, mas ainda hoje os dois saem para se divertirem juntos, apesar de
serem pais responsáveis.
Assumir responsabilidade não significa deixar de
ser livre ou deixar de se divertir.
Ser responsável nos faz sentir seguros diante das
situações que estão por vir.
Um ser responsável mostra que está pronto para enfrentar
a vida de frente, ciente do seu crescimento pessoal.
Ser responsável, é o reflexo do amadurecimento
da alma.
Dilma Lourenço Moreira
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