Glorinha é a
terceira, de oito filhos de dona Zezé. Uma lavadeira e passadeira de roupas de
mão cheia, que trabalha o dia inteiro para alimentar suas crias, tarefas essas
que ficou ultrapassada, hoje em dia só em casa de ricos tem passadeira de
roupas exclusiva, o que obriga dona Zezé a pegar pesado na faxina, para obter
mais alguns trocados e ajudar nas despesas do lar.
Apenas com um
salário da pensão de viúva que recebe do INSS não basta para alimentar tantas
bocas, aliás, com a pensão e mais que ganha na faxina, mal dá para o gasto.
A vida dessa
família sempre foi muito difícil, pior agora, com a morte do marido, que para
completar a desgraça esse bebeu até morrer. O barraco onde moram se der um
vento mais forte, periga desabar. Embora Glorinha só tenha 10 anos, na ausência
de dona Zezé ela que é responsável pelos irmãos mais novos, a menina, às vezes
se revolta em meio de tanta pobreza. A mãe, dona Zezé chega todos os dias com
uma bolsa cheia de pães velhos e roupas usadas que ganhava das patroas.
Pra viver
está muito caro e às vezes é tudo que tem para o jantar. A mãe carinhosa corta
os pães em rodelinhas, espalha um pouco de margarina ou óleo e assa no forno,
colhe em meio de suas plantações um pouco de folhas de melissa, preparando um
gostoso chá e esta era toda a nossa ceia, assim não dormíamos de barriga vazia.
Quanto às roupas usadas, o que não servia pra nós mamãe trocava no brechó da
cidade, por mantimentos.
Às vezes,
enquanto comemos vejo lágrimas rolarem no rosto de mamãe. Temos na mesa o
básico, para não se morrer de fome, mas também aqui não se reclama por ser
pobre, porque nunca ninguém conheceu vida melhor que esta. Comida boa aqui em
casa só se vê nas novelas da tevê, café da manhã com fartura, queijos, frutas,
leite e pão fresco, era apenas olhar com os olhos e lamber com a testa, quando
desligávamos a tevê e olhávamos ao nosso redor, o contraste entre os dois
mundos era triste e feio.
O bairro onde
morávamos ficava longe de tudo, vivíamos isolados da civilização, às vezes
tinha a impressão que só existíamos nós aqui nesse fim de mundo esquecido por
Deus.
Eram esses os
pensamentos de Glorinha, lançando um olhar de melancolia pela janela, enquanto
banhava os irmãos gêmeos mais velhos que nasceram com síndrome de down. Eles
têm doze anos, o que vale é que no mundo deles parece que são felizes. Mamãe
quando chega em casa cansada, recebe uma atenção especial dos meninos Bill e
Bernardo, são uns grudes de tão meigos e carinhosos, abraçam e beijam até ver
brotar um sorriso no rosto sofrido de dona Zezé. Ninguém conseguia ficar triste
ao lado dos meninos, mamãe se rendendo aos carinhos dos gêmeos abraça e
beija-os muito retribuindo o carinho, ela costuma dizer que eles representam em
nossas vidas um oásis de felicidades.
À noite,
antes de dormir mamãe reza com a gente e em círculo, com todos de mão dadas ela
agradece a Deus pela nossa saúde, pelo teto que abriga nossas cabeças e também
pelo pão nosso de cada dia. Eu também gostava de rezar, a reza me dava calma e
esperança de ainda viver dias melhores que aqueles, mas também tinha dias que a
revolta me subia à cabeça, principalmente quando estava com fome.
__ Mãe! Eu
não sei por que a senhora tanto agradece? Será que não seria o caso da gente
pedir? Veja! O gás está quase acabando, não tem arroz, não tem feijão, a horta
que a senhora tem no quintal, quando está quase na hora de colher, vem à
enxurrada e carrega tudo, a bíblia mesmo, diz: “Pede, que os céus te obterás”
__ Filha,
você também não ouviu falar que Deus dá o frio conforme o cobertor? O pai não dá
carga maior que os filhos não possam suportar!
__ Mas mãe,
se conformar com essa vida de miséria que levamos, é querer sofrer, é ser
masoquista!
__ Como
assim, filha?
__ Em minha
opinião, só agradecemos aquilo que temos! Que Deus é esse que dá tanto a uns e
quase nada a outros? A senhora acha que isso é ser justo? O que fizemos de tão
horroroso, que não merecemos um bom prato de arroz com feijão, o mínimo que
conseguimos é tudo com muito sacrifício, enquanto que muitos já nascem em
berços de ouro!
Dona Zezé
segurando as mãos da filha com carinho, pergunta:
__ Glorinha,
filha querida, você se considera pobre?
__ Mãe, que
piada é essa? Mais pobres que nós, só os mendigos que vivem nas ruas e não tem
onde morar!
__ Pois é por
isso que devemos sempre agradecer o que temos. Se voce olhar a nossa volta vai
perceber que tem gente em situações bem piores que a nossa! Bem ou mal temos
uma casa para nos abrigar da chuva e do vento, enquanto Deus me der saúde, bem
ou mal tem sempre uma fatia de pão pra matar a nossa fome, e mais, não tem
felicidade maior que voltar para casa e encontrar a família reunida a nossa
espera. Quem tem família, Glorinha, tem tesouros e são poucos que sabem
cultivar!
Dilma Lourenço Moreira
Gostei da história reflexiva,serve a todos nós.
ResponderExcluirAbraço.
Obrigada pela visita.
ResponderExcluirBjs. e volte sempre
Oi Dilma!
ResponderExcluirInteressante.
Concordo com a Fatima Zanin, que seja um instrumento de reflexão.
Um abraço.
Óla Dilma,
ResponderExcluirGostei muito do seu blog, parabéns e sucesso !
www.arenafama.com
Ademir Palácios
Muito obrigada pela bela história.
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