Joãozinho é escoteiro mirim, estava andando na
trilha com a turma, quando mais que de repente se vê sozinho no meio da mata.
O primeiro momento foi de apavoramento, o
menino corria para um lado, corria para o outro, em busca de um som, um
movimento entre a mata fechada que indicasse o paradeiro da turma dos
escoteiros. Um suor frio escorria-lhe pela testa, o menino assustado, completamente
apavorado se sentou em um tronco de árvore procurando se controlar. Respirou
fundo, mentalmente contou até dez procurando se acalmar, quando em sua mente
veio os conselhos do instrutor, o chefe dos escoteiros.
“Se um dia vocês se perderem na mata, fiquem
onde estão. Não saiam da trilha, toquem a corneta que a turma vai a seu
socorro”.
Assim Joãozinho fez, continuou sentado no
tronco de árvore e se pôs a tocar a corneta com todo o seu fôlego. O tempo
passou, a noite começava a cair e nada do instrutor ou alguém da turma vir lhe
salvar. Joãozinho ansioso e temeroso tocava cada vez mais alto a corneta,
agora com mais intensidade, até que percebe que pelo balançar dos matos vem se
aproximando alguém. Com a esperança de ser um dos componentes da turma, o
menino, animado se levanta.
__ Olá pessoal, estou aqui!
Não demora muito só se ouve urros muito fortes
ressonar como trovão, quebrando o silêncio da floresta. Do meio da mata surge
um urso enorme vindo em sua direção, com garras afiadas pronto a lhe da um
abraço, o primeiro pensamento do garoto era que precisava fugir, correr para
bem longe dali e mais uma vez Joãozinho se lembrou da recomendação do
instrutor.
“Quando vocês um dia se depararem com um urso,
deitem-se no chão e finjam-se de morto”.
O menino se jogou no chão na hora, dando uma
de morto, quase que nem respirava de tanto medo. O urso chegando bem perto do
menino, dando-lhe alguns cutucões vai logo dizendo:
__ Que barulheira infernal é essa que você
está fazendo? Há horas que está tocando esta joça e não adianta fingir que está
morto, este truque é velho!
Enquanto isso, Joãozinho tremia da cabeça aos
pés, o menino, apavorado pensava.
“Estou com tanto medo, que estou ouvindo o
urso falar”.
Joãozinho sentia o urso bem próximo do seu
corpo, tanto cutucava, tanto cheirava.
__ Hei menino, pode parando com esse
fingimento! Levanta já daí, ou vai virar comida de cobra!
Joãozinho mal respirava, sentindo o bafo do
animal em sua cara.
Como ele não se mexia, o urso pegou o menino
jogou-o nas costas e saiu andando.
__ Bem, já que está morto mesmo, vou levar pra
casa pra fazer uma boquinha mais tarde! O urso dá alguns passos e entra em uma
caverna, urrando:
__ Crianças! Venham todos, trouxe carne
fresca!
Os ursinhos se aproximaram curiosos.
__ Quem é ele, pai? Pergunta um dos filhotes,
enquanto cutucava o menino com uma varinha.
__ Não sei, encontrei-o na mata!
Com um cutucão mais forte dado pelo ursinho,
Joãozinho dá um salto correndo caverna afora, subindo rapidamente na primeira
árvore que estava a sua frente.
__ Olha pai, ele está vivo! Posso ficar com
ele pra mim, papai?
__ Claro! Responde o urso pro filhote,
balançando a árvore fazendo o menino cair com todo o corpo no chão.
O garoto chorando ajoelha nos pés do urso
grande, em total desespero, roga.
__ Por favor, senhor urso, não me coma! Se o
senhor me deixar ir embora, prometo nunca mais lhe incomodar com o barulho da
corneta!
Um dos filhotes agarra a corneta das mãos de
Joãozinho e sai pulando em volta do menino, completamente apavorado.
Até que um dos ursinhos observa:
__ Xi pai, o menino está com tanto medo, que
está fazendo xixi!
O urso grande se aproxima de Joãozinho,
penalizado, fazendo um cafuné em sua cabeça.
__ Fica calmo garoto, aqui ninguém vai te
comer, somos vegetarianos, nos alimentamos de mel e frutas, só te trouxe para
minha casa porque sabia que você estava perdido e a selva é muito perigosa,
principalmente à noite, meu nome é Gibão e esses aqui são os meus filhotes Luiz
e Maria.
Nisso, o ursinho se aproxima de Joãozinho, com
os olhos pidões.
__ Posso brincar um pouco com a corneta?
O menino, agora um pouco mais relaxado, diz
que sim acenando com a cabeça, a ursinha corre até o irmão e rouba-lhe o
instrumento das mãos e começa assoprar sem obter som algum. Luiz se aproxima e
arranca a corneta da irmã.
__ Como você é burra, Maria! Está soprando do
lado errado, me dá isso aqui!
Luis tenta tocar a corneta dourada, mas
este também não tem sucesso, por mais que sopre fazendo um esforço tremendo,
não consegue tirar nota do instrumento.
__ Eu não consigo tocar esse troço, toma pra
você Maria, a corneta, que eu vou ficar com o bichinho que o papai achou!
__ Há não Luis, ele é meu! Deixa eu ficar com
ele pra mim? Diz Maria, chorosa.
__ Não! Eu pedi primeiro, ele é meu. O papai
disse que posso ficar com o bichinho pra mim!
Nisso, os filhotes de ursos começaram a
brigar, cada um agarrado em uma das pernas de Joãozinho.
__ Epa! Calma aí! Desse jeito vocês vão
dividir o menino ao meio!
__ Essa é a ideia! Disse Maria, sorrindo.
__ Não! Não desse jeito! Vocês vão estragá-lo,
vamos resolver isso de uma maneira mais civilizada.
Joãozinho estava se sentindo uma marionete,
por pouco os ursos não lhe arrancaram as duas pernas. Esse, aproveitando a
intromissão do urso grande, correu para a árvore, novamente.
__ Viu o que você fez Maria! Assustou o
bichinho!
Joãozinho, de cima da árvore, grita bravo:
__ Eu não sou nenhum bichinho de estimação,
sou gente! Tenho os meus sentimentos e mereço ser tratado com respeito.
É Gibão, o urso grande que responde:
__ Nós sabemos que você é um animal racional,
pelo menos é o que deveria ser, no entanto é dessa forma que somos tratados no
mundo de vocês, maltratados, colocados em exposições, em circos, feiras-livres,
parques, etc, como se fossemos meras mercadorias e ainda você vem exigindo
respeito?
__ Espera aí, seu urso! Agora o senhor está
generalizando, nem todos os homens judiam dos animais, ao contrário, existem
Ongs espalhadas no mundo inteiro na luta pela preservação de todas as espécies
animais. Caçadores e exploradores, como o senhor bem diz, esses, hoje
felizmente são a minoria, falo isso com causa de conhecimento, sou escoteiro
mirim desde os meus 6 anos de idade e na sede dos escoteiros tem como base a
ensinar as crianças a amar e preservar os animais e a natureza. E para provar
que eu sou amigos de vocês, proponho uma troca! O senhor me leva de volta para o
meu acampamento e em troca ensino vocês a tocarem a corneta!
O urso Gibão dá uma gostosa gargalhada.
__ E quem disse menino, que você está em
condições de exigir alguma coisa e além do mais, os meus filhotes não precisam
aprender a tocar corneta, não somos de circos e muito menos, escravos dos
homens.
__ Acontece que esse objeto que vocês estão
vendo, não é um instrumento qualquer! Está vendo esta corneta dourada aqui em
minhas mãos? Ela é mágica!!!
__ Mágica!!! Pergunta os ursos, admirados.
Quando Joãozinho sentiu aguçar a curiosidade
dos animais, pulou de cima da árvore, caindo no meio dos três ursos.
E continuou o menino chamando a atenção para a
corneta dourada.
__ Dentro desta corneta tem um gênio que
realiza os desejos de todos aqueles que conseguir tirar pelo menos uma única
nota musical do instrumento, só tem um único problema, a corneta dourada só
funciona ao meu comando. Ela pode realizar todos os seus sonhos! Imaginem vocês
cercados de potes gigantes de mel amarelinho, quentinho, jorrando de bicas
saindo de dentro de suas cavernas!!!
Os três ursos estavam hipnotizados, diante
desta imagem.
A ursinha, de olhos brilhantes foi a primeira
a se manifestar.
__ Eu quero aprender a tocar a corneta, você
me ensina como se faz?
Luiz diz em seguida, sem tirar os olhos da
corneta.
__ Eu também quero!
__ Espera aí, moleque! Se esta corneta é assim
tão especial, então porque você não pede para ela te levar de volta para o
acampamento? Pergunta o urso grande, desafiando Joãozinho.
__ Muito simples, é que a corneta dourada só
funciona com muito calor humano, de forma que preciso voltar ao meu
acampamento, para que o instrumento volte a funcionar e dessa forma realizar
todos os seus desejos.
O urso maior torna a gargalhar e aplaudir o
desempenho do menino.
__ Você é muito bom, garoto! Como piadista
realmente você é ótimo.
Joãozinho, com ar de inocente tenta por
veracidade no que diz.
__ É verdade seu urso, o senhor não tem um
sonho a realizar?
Maria pede, chorando:
__ Papai, eu quero tocar a corneta dourada, eu
tenho um grande sonho!
__ E qual é Maria? Pergunta Joãozinho,
interessado.
__ Quero ser a única ursinha a mergulhar em
uma banheira cheia de mel!
__ Qual é Maria, o meu pedido é muito mais
importante!
__ Diz aí Luiz, qual é o seu desejo? Pergunta
o menino exibindo a corneta brilhante, diante dos olhos fascinados dos
ursinhos.
__ Quero ser o primeiro urso a pisar na lua!
__ Que pena! Diz o garoto olhando o
instrumento, desanimado. Se a minha corneta não estivesse descarregada, seus
desejos seriam uma ordem.
Os filhotes se voltam para o pai, de carinhas
tristes, esse, de coração mole não resiste.
__ Está bem crianças, se isso é tão importante
pra vocês, vamos levar o menino ao acampamento amanhã bem cedinho, para que a
corneta seja carregada com calor humano e vocês possam realizar os seus
desejos.
E assim fizeram nos primeiros raios do sol. Lá
ia Joãozinho acompanhando os rastros dos três ursos pela mata. A ursinha Maria
não parava de tagarelar, fazendo planos pra quando tivesse a sua banheira de
mel e também ia querer uma cascata borbulhando, jorrando mel bem próximo de sua
janela. Quando já dava pra avistar as cabanas dos escoteiros, o urso grande
perguntou:
__ E aí menino, daqui a corneta já está
recebendo calor humano?
__ Ainda não, vamos nos aproximar mais um
pouquinho! Responde Joãozinho, preocupado em como sair daquela situação.
Os ursos deram mais alguns passos.
__ E agora menino, a corneta está funcionando?
Podemos fazer os nossos pedidos?
O urso Gibão chega bem próximo do rosto do
garoto, soltando um grande urro.
__ Se for mentira tua, se essa corneta não
realizar os desejos dos meus filhotes agora mesmo, você vai se arrepender!
Joãozinho suava frio, quando avista um cartaz
bem na sua frente com os dizeres: “Reunião anual dos escoteiros”. Isso queria
dizer, que havia centenas de crianças no acampamento.
Joãozinho pensando rápido grita.
__ Olha, a corneta está brilhando! É sinal que
está carregada de calor humano, é chegada a hora de realizar os seus desejos.
Todos fechem os olhos, o gênio da corneta é muito tímido.
Luiz e Maria obedecem, alegremente.
__ O senhor também, seu urso!
__ E por que eu também tenho que fechar os
olhos? Eu não fiz nenhum pedido!
__ É pra ajudar o gênio a se concentrar,
afinal levar um urso até a lua, não é fácil! Vamos, vamos rápido, todos de
olhos fechados e não vale olhar, hem! Ordena Joãozinho correndo em toda
disparada, em rumo ao acampamento, tocando a corneta a todo pulmão. Não demorou
muito tempo se começa a ouvir uma grande agitação, vozes e passos de centenas
de crianças saindo de tudo que era canto da mata, atendendo o chamado da
corneta. Os escoteiros chegavam em bando, como se fosse uma boiada.
Joãozinho simplesmente se misturou entre as centenas de escoteiros, se perdendo
das vistas das feras e foi assim que Joãozinho conseguiu se salvando das garras
dos animais.
Os três ursos quando abriram os olhos, ficaram
admirados diante de tantos escoteiros juntos. Logo, perceberam que tinham sido
enganados.
Maria chorou muito, porque queria se banhar na
cascata com mel.
Luiz ficou nervoso olhando a lua ao longe,
desejando arrancar o coro de Joãozinho e mais bravo ainda ficou o pai dos
ursinhos, diante das caras de decepção de seus filhotes.
Hoje, Joãozinho é chefe de escoteiros e essa é
uma das histórias que ele conta pra sua turma, do dia que escapou de três ursos
bravos, enormes, que queriam devorá-lo.
O tempo passou e Joãozinho continuou se
vangloriando da sua esperteza, até que um dia ele se perdeu de novo na mata e
pra sua surpresa, surge três ursos a sua volta.
E agora, como será que Joãozinho vai escapar
dessa?
Dilma Lourenço Moreira
Será?! rsrsrs
ResponderExcluirLegal Dilma.
Sucesso e um abraço.