UMA
HISTÓRIA REAL
Era um sábado à noite.
Estávamos entrando no horário de verão, mal sabíamos que ao adiantar os
ponteiros do relógio nossas vidas iriam sofrer certa turbulência. Bia e o seu
marido Tito assistiam a um filme na TV no conforto do seu quarto quando Pedro,
o filho do casal entrou dizendo:
___ Pai, mãe, tenho uma novidade pra vocês, não sei se vocês vão
gostar, sinto muito, mas não resisti! De repente surge na porta do quarto um
cachorro enorme da raça Bóxer, com a cara preta o corpo cor de mel e com um
porte muito elegante.
___ De quem é esse cachorro? Perguntou Bia assustada.
___ É uma cachorra mãe, encontrei ela na rua abandonada! Respondeu
Pedro apreensivo.
___ Filho, você ficou louco, trazendo este animal aqui pra casa? Reagiu
Bia pulando da cama. Olha o tamanho desta cachorra, ela vai morder a gente!
Você esqueceu que moramos em um apartamento?
___ Eu sei mãe, mas essa cachorra deve estar perdida ou foi abandonada
pelos donos. Há três dias que ela está no ponto final da lotação, está faminta
e maltratada, tive pena de vir embora e deixar ela sozinha nessa noite fria,
ela é mancinha, brincalhona e dócil. Coloquei o nome dela de Shitara, vocês vão
gostar dela! Bia diz:
___ A questão não é gostar, porque você sabe que gostamos de animais, o
problema é que ela é maior que o nosso apartamento! Eu sei que da pena de ver
os bichinhos abandonados nas ruas, se eu pudesse também pegaria todos eles, mas
infelizmente nem tudo que desejamos podemos alcançar, porque nem sempre está em
nossas mãos decidir o destino, até mesmo de um animal. Filho, não temos
condições de ficar com essa cachorra, principalmente com este porte em um
apartamento. Amanhã mesmo você vai procurar o dono desse animal. Por um anúncio
nos jornais, colar algumas fotos dela nos pontos comerciais, enquanto você não
encontrar o dono dessa cachorra ela é de sua responsabilidade, pegar um animal
abandonado na rua e levar para casa é fácil, o difícil é o destino que você vai
dar para esse animal!
Enquanto Bia e Tito discutiam com Pedro se a cachorra ia ficar ou não,
ela já tinha feito um baita cocozão e xixi, que mais parecia uma lagoa, no
tapete da sala. Tito e Pedro correram desesperados e arrastaram a cachorra
enorme para o banheiro, forraram o box do banheiro com jornais, mas ai era tarde
demais, o estrago já estava feito, a cachorra já tinha marcado o apartamento
inteiro com seu xixi, não sobrou um só tapete, começou com o grande da sala, os
da cozinha, área de serviço do corredor e do banheiro, só salvou os do quarto
porque ali Bia não deixou ela entrar. Fechou a porta do quarto e eles ficaram
lá feitos loucos correndo atrás da cachorra, que a cada parada fazia xixi, sem
poder fazer nada, apenas olhando embasbacado. Pedro ia atrás da cachorra
jogando jornais onde ela fazia xixi, chamando por Bia, avisando que a cachorra
tinha feito xixi outra vez. Bia não saiu do quarto, respondeu lá de dentro.
___ E eu com isso Pedro, foi você quem trouxe a cachorra, agora limpe a
sua sujeira!
Tito gritou da sala avisando para Bia que o Pedro só estava jogando
jornais em cima dos xixis e do cocô, não estava limpando nada. Bia gritou do
quarto.
___ Pedro, quero tudo limpo como estava! Tranca a cachorra no banheiro,
recolhe os jornais com xixi, limpa o cocô e passa um pano com desinfetante na
casa inteira!
Claro, que terminou sobrando também para Tito quando viu Pedro todo
estabanado no meio de toda aquela sujeira, não tinha como ficar só de braços
cruzados, além do mais Pedro estava limpando tudo por cima, Tito ia atrás
fazendo o acabamento, em seguida juntaram todos os tapetes no tanque com água e
sabão e deixaram lá de molho. Enquanto isso, Bia continuou quietinha na cama só
ouvindo a bagunça que se formara no resto do apartamento, tem hora que temos
que por a razão na frente do coração. Pensava Bia. Pedro precisava aprender,
que quando tomamos a decisão de levar um animal abandonado pra casa somos
responsáveis pela vida dele. Por traz da frase adote um animal está contida a
responsabilidade e a condição de vida que você vai dar a esse bichinho, que
depende de você pra sobreviver. Enquanto Pedro com a ajuda de Tito terminavam
de limpar a sujeira da cachorra, Bia pegou um acolchoado do armário e foi fazer
a cama do animal no corredor, antes que ele destruísse o box do banheiro.
Depois que a cachorra estava acomodada e o apartamento limpo, todos foram
dormir. Não demorou muito, tinha se passado apenas alguns minutos que a família
tinha se recolhido, quando se ouve os passos da cachorra andando pelo
apartamento fazendo cocô e xixi outra vez, do quarto se ouvia Pedro falando
bravo com Shitara. Que era pra ela fazer xixi nos jornais, levou-a até o
banheiro mostrando os jornais onde ela tinha que fazer xixi. Bia sabia que isso
não ia dar certo, mas o filho precisava ver com seus próprios olhos, que ela e
Tito não estavam com má vontade em ficar com a cachorra, o problema era que ela
não ia se acostumar em viver num apartamento era um animal adulto e com aquele
porte só podia ter sido criado em um quintal com liberdade, deixar o bichinho
preso em um apartamento seria uma judiação. Tito diante do barulho que vinha da
sala levanta-se irritado. Bia o impede.
___ Fica aqui, vamos dormir, deixa o Pedro cuidar da cachorra, é
preciso que nosso filho aprenda que toda decisão que tomamos tem suas
conseqüências!
No dia seguinte bem cedinho, Tito se levantou e foi comprar ração e uma
coleira pra Shitara. Alguém tinha que levar a cachorra pra fazer suas
necessidades lá fora, porque o Pedro, logo cedinho se mandou para o seu
compromisso. Bia continuou deitada por mais um tempo, não conseguia mais
dormir, rolava na cama pensando na confusão que Pedro os tinha colocado, porque
querendo ou não termina envolvendo toda família, Bia se lembra que precisava
levantar, tinha um tanque cheio de tapetes pra ela lavar, isso em um pleno
domingo, lavar o banheiro e o resto do apartamento que estava impregnado com
cheiro de xixi, Bia ainda estava dentro do seu quarto com a porta fechada,
sabia que tinha uma cachorra enorme logo atrás da porta. Seu marido Tito estava
demorando pra voltar, o jeito foi enfrentar, ela respirou fundo e abriu a porta
devagarzinho, a cachorra estava deitada no box do banheiro, o apartamento
inteiro tinha poças de xixi, o único lugar limpo a sabichona estava deitada era
o box do banheiro forrado com jornais, Bia procurou não olhar nos olhos da
cachorra para que ela não farejasse o seu medo, começou a falar com ela
procurando fazer amizade, Bia foi pra cozinha, a cachorra foi atrás. Pensou,
deve estar com fome, tinha uns pães em cima da mesa, ela foi cortando e jogando
pro animal que ia abocanhando os pedaços de pães em um apetite feroz. Nisso,
chega Tito com a ração e uma coleira tipo enforcador e um remédio para
estimular a cachorra a fazer as necessidades fisiológica sempre no mesmo lugar,
Bia não acreditou muito, sabia que aquele truque só funcionava com filhotes,
pelo sim pelo não espalhou uma boa quantidade do liquido no box do banheiro.
Depois que a cachorra estava alimentada, Tito saiu com ela para passear, Pedro
já nos tinha prevenido que a Shitara tinha medo de escadas, que ele tinha
subido os andares trazendo ela no colo. Pobre animal, Bia e Tito ficaram
penalizados com o estado de Shitara, não era só medo, era verdadeira fobia. A
família morava no terceiro andar, o prédio não tem elevador. Bia e Tito não
sabiam se riam ou se choravam diante da situação, a pobre coitada se deitou no
topo da escada com a cabeça abaixada em cima das duas patas e tremia virando os
olhos como se estivesse tendo uma vertigem. Sendo assim, não tinha outro jeito,
Tito pegou Shitara no colo e desceu três andares carregando um baita cachorrão
nos braços e ainda assim ela tremia de medo. Enquanto Tito pagava o carma dele
descendo e subindo escadas levando a cachorra enorme no colo, Bia foi limpar o
apartamento e lavar os tapetes.
Quando Tito retornou com a cachorra do passeio horas depois, Bia estava
quase terminando a limpeza, os tapetes estavam escorrendo no varal, ela estava
acabando de secar os pisos, pensou pelo tempo que a cachorra ficou lá fora,
devia ter feito de tudo, ou seja, xixi e cocô, Bia puxou a cachorra pela
coleira e colocou a para deitar no corredor em cima do acolchoado, antes a
levou até o box do banheiro, onde Shitara ficou um bom tempo cheirando o tal
remedinho que o veterinário do pet-shop tinha indicado. Bia falou firme olhando
nos olhos de Shitara, que era ali em cima dos jornais que ela tinha que fazer
cocô e xixi. Presa dentro do banheiro, não tinha dado certo, quase destruiu o
box e a porta, ela tanto chorava e arranhava querendo por a porta abaixo, que o
jeito foi soltá-la no apartamento, antes que Bia,Tito e Pedro também fossem
expulsos do prédio, se tornando igual a Shitara, uns sem teto. Bia deixou a
cachorra deitada no acolchoado e foi terminar de secar o chão. Foi apenas o
tempo de ir ate a área de serviço pegar outro pano, quando volto pra sala
estava Shitara fazendo uma poça de xixi bem no meio da sala. Bia deu um grito,
a cachorra nem ligou, continuou fazendo xixi parecia uma torneira aberta.
___ Não acredito! Resmungou Bia. Essa cachorra acabou de vir da praça e
não para de fazer xixi!
Pedro chegou na hora exata.
___ Você está vendo, Pedro, a situação que você criou! Esta cachorra
não para de fazer xixi! Parece que vai se transformar em água. Não adianta você
ter pena, compaixão e sair pegando os animais abandonados e trazer-los para um
apartamento, isso é pura maluquice! Gritava Bia, histérica no meio da sala.
___ Mãe, me desculpe por todo esse trabalhão, mas não consegui vir
embora e deixá-la sozinha no meio da noite fria ameaçando temporal, sem ter
para onde ir, ela só tem tamanho, não ataca ninguém, sabe como animal de rua é,
fez um carinho, deu comida, pronto, ela já não me largava mais. Lá no ponto
final da lotação, todos pensavam que ela era minha, só era eu descer da lotação
lá vinha Shitara correndo atrás de mim, eu só te peço um pouco mais de
paciência, ela vai aprender a fazer as suas necessidades só lá na praça,
igualzinho a Xuxa e a Cindy, você vai ver!
___ Filho, tanto a Xuxa como a Cindy, pegamos quando eram filhotes,
foram ensinadas, tinham hora certa e lugar certo para fazer as suas
necessidades, diferente desse animal ai, que já é um adulto, dificilmente
aprenderá, não estou dizendo que seja impossível, mas isso vai levar algum
tempo trazendo sofrimentos tanto prá nós, como para o animal. Às vezes
acontecem fatos em nossas vidas que não temos o poder da resolução, por mais
que desejamos! Vamos fazer o combinado, a cachorra fica aqui até você encontrar
o dono dela, está bom assim?
___ Então Pedro, fez o que eu te pedi? Colou a foto da cachorra nos
lugares públicos, para que o dono venha buscar a cachorra?
___ Fiz, Mãe, mas eu já falei pra vocês, ela foi abandonada, jogada na
rua, não tem dono. Lá no ponto final da lotação tem outros cachorros na mesma
situação que a Shitara, que foram abandonados pelos seus donos. É triste, mas é
a pura verdade!
___ Certo Pedro, mas a nossa primeira obrigação é tentar localizar o
dono do animal e se o dono não aparecer você vai arranjar outro lar para ela
ficar!
___ E se a Shitara aprender a fazer xixi na praça, ela pode ficar?
___ Pedro, olha pra esse apartamento, até na cozinha o piso está
coberto de jornais, já que ela só faz no lugar que não tem jornal, então em
cobri o apartamento inteiro com jornais e deixei o box do banheiro livre, vamos
ver se assim funciona. Agora eu te pergunto, até quando vamos agüentar viver
nessa bagunça? Com o apartamento forrado com jornais e cheirando a xixi! Claro
que não vamos jogar o animal na rua, mas também nós não podemos viver muito
tempo nessas condições!
Pedro não disse mais nada, abaixou a cabeça e saiu triste puxando
Shitara pela corrente levando-a pra fazer xixi na praça, enquanto Bia
desinfetava mais uma vez o apartamento. Tito também estava triste. A família
estava vivendo uma situação difícil, queriam muito ficar com Shitara se o dono
dela não aparecesse, porém, não basta apenas ter o desejo de adotar um animal,
é preciso ter condições, para que ambos vivam bem, para que tanto o homem como
animal sobreviva com certo conforto. Era mesmo uma pena. Pensava Bia, Shitara é
realmente especial e lembrava muito as duas cachorras que tiveram, o mais
incrível é que na personalidade de Shitara se reunia as qualidades de Xuxa e
Cindy, não apenas na meiguice e no carisma, mas em suas atitudes e maneira de
ser, apesar da revolução que Shitara estava causando em nossas vidas, tinha
conquistado a todos nós. Agora, era torcer para que Pedro encontrasse logo o
dono de Shitara, caso contrário, a separação vai ser mais dolorosa. Outra coisa
que Shitara não gostava era de ficar sozinha, não podia ver nenhuma porta
fechada, nem a porta do banheiro podíamos fechar, chorava e arranhava a porta
querendo entrar, para todo canto da casa que íamos ela ia atrás e deitava-se
bem próximo dos nossos pés, a carência dela era visível. Era complicado, porque
Shitara fazia xixi a toda instante, não sei se era ansiedade ou o que? O fato
de Bia ter forrado o apartamento com jornais e deixado o box do banheiro livre,
por algumas horas até que deu certo, porém não demorou muito Shitara começou a
ficar agitada procurando um canto pra se aliviar. Tito correu e arrastou a
cachorra para o box, ela ficou um tempo cheirando o tal remedinho estimulante
até que fugiu pra sala espirrando, terminando arranjando um cantinho para
arriar um baita cocozão, voltando assim a estaca zero. Sem contar, que todo
esse tempo Shitara não deu um só latido, o que era bom pra nós. Com o porte que
tinha, o latido deveria ser bem forte, o que iria nos trazer problemas com os
vizinhos e ao mesmo tempo tínhamos pena, porque se ela não estava latindo era
porque não estava bem. E assim o tempo ia se passando, quando Shitara não
estava fazendo xixi estava brincando com uma bolinha de borracha e destruindo
um ursinho de pelúcia que Bia tinha dado para ela se distrair, ou estava
dormindo, aliás, roncava mais que o marido de Bia, soltava "pum"
feito gente grande, isso bem alto, que mesmo com a porta do quarto fechado,
dava para ouvir Shitara roncando e soltando "pum". Nessa hora Bia e
Tito riam muito, porque os animais, diferentes do homem, não têm certos
pudores, eles mostram o que são. Dava pena também quando ela estava tendo
pesadelos, chorava, gruía, o peito arfava tanto que parecia que estava tendo um
ataque cardíaco. Tito ou quem estivesse por perto corria em seu socorro
acordando-a e fazendo carinho, tentando acalmá-la.
Nisso, já era segunda-feira. Tito já rolava pelo chão da sala brincando
com Shitara, ela fingia que mordia o braço dele, ele fazia cócegas na barriga
dela, quem via pensava que Shitara já estava há muito tempo em nossas vidas,
estava claro que a amizade já tinha se formado. Tanto Pedro quanto Tito ficavam
se lamentando pelos cantos, que era uma pena que não podíamos ficar com
Shitara. Seu dono, apesar dos apelos não tinha aparecido, ficávamos imaginando,
afinal o que teria acontecido com os donos de Shitara para agir daquela forma,
um animal tão dócil como esse ser jogado na rua. Bia também estava sentida, mas
alguém tinha que ser forte naquela família e como sempre a carga caia em seus
ombros. Pedro sugeriu que mudassem para uma casa, assim não teriam que se
desfazer de Shitara. Bia riu da ingenuidade do filho.
___ Pra você é tudo fácil, não é meu filho? Seria bom se na prática
funcionasse assim! Esse apartamento é próprio, voltar para o aluguel, nem
pensar! Eu sei que você e o seu pai estão loucos pra ficarem com a cachorra,
até eu, mas como eu já te disse, nem tudo que desejamos podemos ter, a Shitara
não é um brinquedo que podemos guardar em um armário, ela precisa fazer suas
necessidades fisiológicas com tranqüilidade, ela é um ser que tem sentimentos e
precisa ser tratada com respeito, você deveria ter pensado nisso antes de
trazê-la aqui pra casa. Estamos em uma situação difícil, até mesmo
decepcionante, estamos todos apaixonados pela Shitara, mas não temos condições
de ficar com ela. Só nos resta aquela segunda opção, já que o dono de Shitara
não atendeu ao chamado vamos arranjar outro lar para ela. Teu pai esteve
conversando com o vizinho do outro bloco, ele também adorou a Shitara, achou
ela linda, disse que tem uma filha que mora aqui perto em uma cidade vizinha e
tem uma casa com quintal, gosta muito de animais e se o teu pai não fosse ficar
com a cachorra o homem disse que levaria Shitara para a filha dele! O que você
acha Filho? Pensa no melhor para Shitara, em uma casa ela vai ter mais
liberdade, um quintal para correr e brincar, fazer suas necessidades
tranqüilas, sem escadas pra lhe aterrorizar!
Pedro ficou alguns minutos triste, pensativo olhando pra cachorra
deitada no acolchoado. Depois de um tempo pensando, perguntou.
___ Mãe e se eles judiarem de Shitara?
___ O vizinho disse que o casal adora animais, carismática do jeito que
Shitara é, duvido que não vão gostar dela!
___ Tá bom! Concordou Pedro, com os olhos tristes!
___ Se não tem outro jeito, mas eu quero ir junto para conhecer o
casal, quero ter certeza que Shitara vai ficar bem!
Bia teve essa conversa com Pedro na segunda-feira a tarde. A noitinha
dessa mesma segunda, Shitara partiu para levar amor para um novo lar.
A despedida foi muito difícil, enquanto Bia dobrava o acolchoado de
Shitara e recolhia o ursinho, a bola de borracha e também a ração, colocando
tudo dentro de uma sacola, Shitara que estava sentada do seu lado prestando
atenção em tudo o que Bia fazia, parecia até que estava entendendo o que estava
acontecendo. Bia disse:
___ Shitara, foi um prazer acolher você em nossa casa, perdão por não
poder ficar com você, agradeço por ter feito parte de nossa família, apesar de
ter sido apenas dois dias e meio, você nos marcou com seu carisma, com seu
afeto! Bia lhe dá um abraço apertado com carinho, lhe desejando sorte.
O interfone toca, é o vizinho chamando Tito e Pedro, avisando que era
hora de partir.
Bia acompanhou pela última vez o sofrimento de Shitara para descer as
escadas, seu coraçãozinho estava acelerado, era nítido o medo estampado em seu
rosto, trêmula, empacou no topo da escada. Tito penalizado pegou a cachorra em
seu colo e desceu cambaleando as escadas com o peso de Shitara. Bia emocionada
joga um beijo de adeus para ela, desejando que fosse feliz. E assim, partiram
levando Shitara para conhecer o seu novo lar. Não demorou muito, Tito e meu
filho estavam de volta. Pedro apesar de estar muito triste disse que Shitara ia
ficar bem, o casal eram simpáticos e adoraram a Shitara, deixaram até que ela
cheirasse o bebê que estava no colo da moça, a casa era modesta, porém o
quintal era espaçoso, tinha também um menino, o Caio, de mais ou menos cinco
anos de idade, o filho mais velho do casal, que veio brincar com a bola de
borracha de Shitara, que logo se soltou, correndo no quintal com Caio. Enfim,
esta história teve um final feliz, Shitara ganhou uma nova família. Quanto ao
meu filho lhe restou uma lição, tem momentos em nossas vidas que não importa o
que queremos, por mais que desejamos, o mais importante é fazer feliz a quem se
ama. Não era o que queríamos, deixar Shitara partir de nossas vidas. Meu marido
diz estar sentindo uma tristeza, um vazio muito grande, até mesmo decepcionado
por não ter tido condições de ficar com a Shitara. Eu penso da seguinte forma,
a Shitara só estava de passagem em nossas vidas, não era para ser nossa. Esses
momentos que passamos junto com ela veio nos trazer muitos aprendizados, entre
eles despertar o sentimento da solidariedade e amor aos animais.
Observação (1): Mesmo de longe continuamos acompanhando a vida de
Shitara. A última notícia que tivemos através do vizinho, é que ela está se
adaptando muito bem, inclusive está até latindo.
Observação (2): Os nomes verdadeiros dos personagens contidos nesta
história foram alterados por motivo de privacidade.
Dilma Lourenço Moreira
UMA
HISTÓRIA REAL
Era um sábado à noite.
Estávamos entrando no horário de verão, mal sabíamos que ao adiantar os
ponteiros do relógio nossas vidas iriam sofrer certa turbulência. Bia e o seu
marido Tito assistiam a um filme na TV no conforto do seu quarto quando Pedro,
o filho do casal entrou dizendo:
___ Pai, mãe, tenho uma novidade pra vocês, não sei se vocês vão
gostar, sinto muito, mas não resisti! De repente surge na porta do quarto um
cachorro enorme da raça Bóxer, com a cara preta o corpo cor de mel e com um
porte muito elegante.
___ De quem é esse cachorro? Perguntou Bia assustada.
___ É uma cachorra mãe, encontrei ela na rua abandonada! Respondeu
Pedro apreensivo.
___ Filho, você ficou louco, trazendo este animal aqui pra casa? Reagiu
Bia pulando da cama. Olha o tamanho desta cachorra, ela vai morder a gente!
Você esqueceu que moramos em um apartamento?
___ Eu sei mãe, mas essa cachorra deve estar perdida ou foi abandonada
pelos donos. Há três dias que ela está no ponto final da lotação, está faminta
e maltratada, tive pena de vir embora e deixar ela sozinha nessa noite fria,
ela é mancinha, brincalhona e dócil. Coloquei o nome dela de Shitara, vocês vão
gostar dela! Bia diz:
___ A questão não é gostar, porque você sabe que gostamos de animais, o
problema é que ela é maior que o nosso apartamento! Eu sei que da pena de ver
os bichinhos abandonados nas ruas, se eu pudesse também pegaria todos eles, mas
infelizmente nem tudo que desejamos podemos alcançar, porque nem sempre está em
nossas mãos decidir o destino, até mesmo de um animal. Filho, não temos
condições de ficar com essa cachorra, principalmente com este porte em um
apartamento. Amanhã mesmo você vai procurar o dono desse animal. Por um anúncio
nos jornais, colar algumas fotos dela nos pontos comerciais, enquanto você não
encontrar o dono dessa cachorra ela é de sua responsabilidade, pegar um animal
abandonado na rua e levar para casa é fácil, o difícil é o destino que você vai
dar para esse animal!
Enquanto Bia e Tito discutiam com Pedro se a cachorra ia ficar ou não,
ela já tinha feito um baita cocozão e xixi, que mais parecia uma lagoa, no
tapete da sala. Tito e Pedro correram desesperados e arrastaram a cachorra
enorme para o banheiro, forraram o box do banheiro com jornais, mas ai era tarde
demais, o estrago já estava feito, a cachorra já tinha marcado o apartamento
inteiro com seu xixi, não sobrou um só tapete, começou com o grande da sala, os
da cozinha, área de serviço do corredor e do banheiro, só salvou os do quarto
porque ali Bia não deixou ela entrar. Fechou a porta do quarto e eles ficaram
lá feitos loucos correndo atrás da cachorra, que a cada parada fazia xixi, sem
poder fazer nada, apenas olhando embasbacado. Pedro ia atrás da cachorra
jogando jornais onde ela fazia xixi, chamando por Bia, avisando que a cachorra
tinha feito xixi outra vez. Bia não saiu do quarto, respondeu lá de dentro.
___ E eu com isso Pedro, foi você quem trouxe a cachorra, agora limpe a
sua sujeira!
Tito gritou da sala avisando para Bia que o Pedro só estava jogando
jornais em cima dos xixis e do cocô, não estava limpando nada. Bia gritou do
quarto.
___ Pedro, quero tudo limpo como estava! Tranca a cachorra no banheiro,
recolhe os jornais com xixi, limpa o cocô e passa um pano com desinfetante na
casa inteira!
Claro, que terminou sobrando também para Tito quando viu Pedro todo
estabanado no meio de toda aquela sujeira, não tinha como ficar só de braços
cruzados, além do mais Pedro estava limpando tudo por cima, Tito ia atrás
fazendo o acabamento, em seguida juntaram todos os tapetes no tanque com água e
sabão e deixaram lá de molho. Enquanto isso, Bia continuou quietinha na cama só
ouvindo a bagunça que se formara no resto do apartamento, tem hora que temos
que por a razão na frente do coração. Pensava Bia. Pedro precisava aprender,
que quando tomamos a decisão de levar um animal abandonado pra casa somos
responsáveis pela vida dele. Por traz da frase adote um animal está contida a
responsabilidade e a condição de vida que você vai dar a esse bichinho, que
depende de você pra sobreviver. Enquanto Pedro com a ajuda de Tito terminavam
de limpar a sujeira da cachorra, Bia pegou um acolchoado do armário e foi fazer
a cama do animal no corredor, antes que ele destruísse o box do banheiro.
Depois que a cachorra estava acomodada e o apartamento limpo, todos foram
dormir. Não demorou muito, tinha se passado apenas alguns minutos que a família
tinha se recolhido, quando se ouve os passos da cachorra andando pelo
apartamento fazendo cocô e xixi outra vez, do quarto se ouvia Pedro falando
bravo com Shitara. Que era pra ela fazer xixi nos jornais, levou-a até o
banheiro mostrando os jornais onde ela tinha que fazer xixi. Bia sabia que isso
não ia dar certo, mas o filho precisava ver com seus próprios olhos, que ela e
Tito não estavam com má vontade em ficar com a cachorra, o problema era que ela
não ia se acostumar em viver num apartamento era um animal adulto e com aquele
porte só podia ter sido criado em um quintal com liberdade, deixar o bichinho
preso em um apartamento seria uma judiação. Tito diante do barulho que vinha da
sala levanta-se irritado. Bia o impede.
___ Fica aqui, vamos dormir, deixa o Pedro cuidar da cachorra, é
preciso que nosso filho aprenda que toda decisão que tomamos tem suas
conseqüências!
No dia seguinte bem cedinho, Tito se levantou e foi comprar ração e uma
coleira pra Shitara. Alguém tinha que levar a cachorra pra fazer suas
necessidades lá fora, porque o Pedro, logo cedinho se mandou para o seu
compromisso. Bia continuou deitada por mais um tempo, não conseguia mais
dormir, rolava na cama pensando na confusão que Pedro os tinha colocado, porque
querendo ou não termina envolvendo toda família, Bia se lembra que precisava
levantar, tinha um tanque cheio de tapetes pra ela lavar, isso em um pleno
domingo, lavar o banheiro e o resto do apartamento que estava impregnado com
cheiro de xixi, Bia ainda estava dentro do seu quarto com a porta fechada,
sabia que tinha uma cachorra enorme logo atrás da porta. Seu marido Tito estava
demorando pra voltar, o jeito foi enfrentar, ela respirou fundo e abriu a porta
devagarzinho, a cachorra estava deitada no box do banheiro, o apartamento
inteiro tinha poças de xixi, o único lugar limpo a sabichona estava deitada era
o box do banheiro forrado com jornais, Bia procurou não olhar nos olhos da
cachorra para que ela não farejasse o seu medo, começou a falar com ela
procurando fazer amizade, Bia foi pra cozinha, a cachorra foi atrás. Pensou,
deve estar com fome, tinha uns pães em cima da mesa, ela foi cortando e jogando
pro animal que ia abocanhando os pedaços de pães em um apetite feroz. Nisso,
chega Tito com a ração e uma coleira tipo enforcador e um remédio para
estimular a cachorra a fazer as necessidades fisiológica sempre no mesmo lugar,
Bia não acreditou muito, sabia que aquele truque só funcionava com filhotes,
pelo sim pelo não espalhou uma boa quantidade do liquido no box do banheiro.
Depois que a cachorra estava alimentada, Tito saiu com ela para passear, Pedro
já nos tinha prevenido que a Shitara tinha medo de escadas, que ele tinha
subido os andares trazendo ela no colo. Pobre animal, Bia e Tito ficaram
penalizados com o estado de Shitara, não era só medo, era verdadeira fobia. A
família morava no terceiro andar, o prédio não tem elevador. Bia e Tito não
sabiam se riam ou se choravam diante da situação, a pobre coitada se deitou no
topo da escada com a cabeça abaixada em cima das duas patas e tremia virando os
olhos como se estivesse tendo uma vertigem. Sendo assim, não tinha outro jeito,
Tito pegou Shitara no colo e desceu três andares carregando um baita cachorrão
nos braços e ainda assim ela tremia de medo. Enquanto Tito pagava o carma dele
descendo e subindo escadas levando a cachorra enorme no colo, Bia foi limpar o
apartamento e lavar os tapetes.
Quando Tito retornou com a cachorra do passeio horas depois, Bia estava
quase terminando a limpeza, os tapetes estavam escorrendo no varal, ela estava
acabando de secar os pisos, pensou pelo tempo que a cachorra ficou lá fora,
devia ter feito de tudo, ou seja, xixi e cocô, Bia puxou a cachorra pela
coleira e colocou a para deitar no corredor em cima do acolchoado, antes a
levou até o box do banheiro, onde Shitara ficou um bom tempo cheirando o tal
remedinho que o veterinário do pet-shop tinha indicado. Bia falou firme olhando
nos olhos de Shitara, que era ali em cima dos jornais que ela tinha que fazer
cocô e xixi. Presa dentro do banheiro, não tinha dado certo, quase destruiu o
box e a porta, ela tanto chorava e arranhava querendo por a porta abaixo, que o
jeito foi soltá-la no apartamento, antes que Bia,Tito e Pedro também fossem
expulsos do prédio, se tornando igual a Shitara, uns sem teto. Bia deixou a
cachorra deitada no acolchoado e foi terminar de secar o chão. Foi apenas o
tempo de ir ate a área de serviço pegar outro pano, quando volto pra sala
estava Shitara fazendo uma poça de xixi bem no meio da sala. Bia deu um grito,
a cachorra nem ligou, continuou fazendo xixi parecia uma torneira aberta.
___ Não acredito! Resmungou Bia. Essa cachorra acabou de vir da praça e
não para de fazer xixi!
Pedro chegou na hora exata.
___ Você está vendo, Pedro, a situação que você criou! Esta cachorra
não para de fazer xixi! Parece que vai se transformar em água. Não adianta você
ter pena, compaixão e sair pegando os animais abandonados e trazer-los para um
apartamento, isso é pura maluquice! Gritava Bia, histérica no meio da sala.
___ Mãe, me desculpe por todo esse trabalhão, mas não consegui vir
embora e deixá-la sozinha no meio da noite fria ameaçando temporal, sem ter
para onde ir, ela só tem tamanho, não ataca ninguém, sabe como animal de rua é,
fez um carinho, deu comida, pronto, ela já não me largava mais. Lá no ponto
final da lotação, todos pensavam que ela era minha, só era eu descer da lotação
lá vinha Shitara correndo atrás de mim, eu só te peço um pouco mais de
paciência, ela vai aprender a fazer as suas necessidades só lá na praça,
igualzinho a Xuxa e a Cindy, você vai ver!
___ Filho, tanto a Xuxa como a Cindy, pegamos quando eram filhotes,
foram ensinadas, tinham hora certa e lugar certo para fazer as suas
necessidades, diferente desse animal ai, que já é um adulto, dificilmente
aprenderá, não estou dizendo que seja impossível, mas isso vai levar algum
tempo trazendo sofrimentos tanto prá nós, como para o animal. Às vezes
acontecem fatos em nossas vidas que não temos o poder da resolução, por mais
que desejamos! Vamos fazer o combinado, a cachorra fica aqui até você encontrar
o dono dela, está bom assim?
___ Então Pedro, fez o que eu te pedi? Colou a foto da cachorra nos
lugares públicos, para que o dono venha buscar a cachorra?
___ Fiz, Mãe, mas eu já falei pra vocês, ela foi abandonada, jogada na
rua, não tem dono. Lá no ponto final da lotação tem outros cachorros na mesma
situação que a Shitara, que foram abandonados pelos seus donos. É triste, mas é
a pura verdade!
___ Certo Pedro, mas a nossa primeira obrigação é tentar localizar o
dono do animal e se o dono não aparecer você vai arranjar outro lar para ela
ficar!
___ E se a Shitara aprender a fazer xixi na praça, ela pode ficar?
___ Pedro, olha pra esse apartamento, até na cozinha o piso está
coberto de jornais, já que ela só faz no lugar que não tem jornal, então em
cobri o apartamento inteiro com jornais e deixei o box do banheiro livre, vamos
ver se assim funciona. Agora eu te pergunto, até quando vamos agüentar viver
nessa bagunça? Com o apartamento forrado com jornais e cheirando a xixi! Claro
que não vamos jogar o animal na rua, mas também nós não podemos viver muito
tempo nessas condições!
Pedro não disse mais nada, abaixou a cabeça e saiu triste puxando
Shitara pela corrente levando-a pra fazer xixi na praça, enquanto Bia
desinfetava mais uma vez o apartamento. Tito também estava triste. A família
estava vivendo uma situação difícil, queriam muito ficar com Shitara se o dono
dela não aparecesse, porém, não basta apenas ter o desejo de adotar um animal,
é preciso ter condições, para que ambos vivam bem, para que tanto o homem como
animal sobreviva com certo conforto. Era mesmo uma pena. Pensava Bia, Shitara é
realmente especial e lembrava muito as duas cachorras que tiveram, o mais
incrível é que na personalidade de Shitara se reunia as qualidades de Xuxa e
Cindy, não apenas na meiguice e no carisma, mas em suas atitudes e maneira de
ser, apesar da revolução que Shitara estava causando em nossas vidas, tinha
conquistado a todos nós. Agora, era torcer para que Pedro encontrasse logo o
dono de Shitara, caso contrário, a separação vai ser mais dolorosa. Outra coisa
que Shitara não gostava era de ficar sozinha, não podia ver nenhuma porta
fechada, nem a porta do banheiro podíamos fechar, chorava e arranhava a porta
querendo entrar, para todo canto da casa que íamos ela ia atrás e deitava-se
bem próximo dos nossos pés, a carência dela era visível. Era complicado, porque
Shitara fazia xixi a toda instante, não sei se era ansiedade ou o que? O fato
de Bia ter forrado o apartamento com jornais e deixado o box do banheiro livre,
por algumas horas até que deu certo, porém não demorou muito Shitara começou a
ficar agitada procurando um canto pra se aliviar. Tito correu e arrastou a
cachorra para o box, ela ficou um tempo cheirando o tal remedinho estimulante
até que fugiu pra sala espirrando, terminando arranjando um cantinho para
arriar um baita cocozão, voltando assim a estaca zero. Sem contar, que todo
esse tempo Shitara não deu um só latido, o que era bom pra nós. Com o porte que
tinha, o latido deveria ser bem forte, o que iria nos trazer problemas com os
vizinhos e ao mesmo tempo tínhamos pena, porque se ela não estava latindo era
porque não estava bem. E assim o tempo ia se passando, quando Shitara não
estava fazendo xixi estava brincando com uma bolinha de borracha e destruindo
um ursinho de pelúcia que Bia tinha dado para ela se distrair, ou estava
dormindo, aliás, roncava mais que o marido de Bia, soltava "pum"
feito gente grande, isso bem alto, que mesmo com a porta do quarto fechado,
dava para ouvir Shitara roncando e soltando "pum". Nessa hora Bia e
Tito riam muito, porque os animais, diferentes do homem, não têm certos
pudores, eles mostram o que são. Dava pena também quando ela estava tendo
pesadelos, chorava, gruía, o peito arfava tanto que parecia que estava tendo um
ataque cardíaco. Tito ou quem estivesse por perto corria em seu socorro
acordando-a e fazendo carinho, tentando acalmá-la.
Nisso, já era segunda-feira. Tito já rolava pelo chão da sala brincando
com Shitara, ela fingia que mordia o braço dele, ele fazia cócegas na barriga
dela, quem via pensava que Shitara já estava há muito tempo em nossas vidas,
estava claro que a amizade já tinha se formado. Tanto Pedro quanto Tito ficavam
se lamentando pelos cantos, que era uma pena que não podíamos ficar com
Shitara. Seu dono, apesar dos apelos não tinha aparecido, ficávamos imaginando,
afinal o que teria acontecido com os donos de Shitara para agir daquela forma,
um animal tão dócil como esse ser jogado na rua. Bia também estava sentida, mas
alguém tinha que ser forte naquela família e como sempre a carga caia em seus
ombros. Pedro sugeriu que mudassem para uma casa, assim não teriam que se
desfazer de Shitara. Bia riu da ingenuidade do filho.
___ Pra você é tudo fácil, não é meu filho? Seria bom se na prática
funcionasse assim! Esse apartamento é próprio, voltar para o aluguel, nem
pensar! Eu sei que você e o seu pai estão loucos pra ficarem com a cachorra,
até eu, mas como eu já te disse, nem tudo que desejamos podemos ter, a Shitara
não é um brinquedo que podemos guardar em um armário, ela precisa fazer suas
necessidades fisiológicas com tranqüilidade, ela é um ser que tem sentimentos e
precisa ser tratada com respeito, você deveria ter pensado nisso antes de
trazê-la aqui pra casa. Estamos em uma situação difícil, até mesmo
decepcionante, estamos todos apaixonados pela Shitara, mas não temos condições
de ficar com ela. Só nos resta aquela segunda opção, já que o dono de Shitara
não atendeu ao chamado vamos arranjar outro lar para ela. Teu pai esteve
conversando com o vizinho do outro bloco, ele também adorou a Shitara, achou
ela linda, disse que tem uma filha que mora aqui perto em uma cidade vizinha e
tem uma casa com quintal, gosta muito de animais e se o teu pai não fosse ficar
com a cachorra o homem disse que levaria Shitara para a filha dele! O que você
acha Filho? Pensa no melhor para Shitara, em uma casa ela vai ter mais
liberdade, um quintal para correr e brincar, fazer suas necessidades
tranqüilas, sem escadas pra lhe aterrorizar!
Pedro ficou alguns minutos triste, pensativo olhando pra cachorra
deitada no acolchoado. Depois de um tempo pensando, perguntou.
___ Mãe e se eles judiarem de Shitara?
___ O vizinho disse que o casal adora animais, carismática do jeito que
Shitara é, duvido que não vão gostar dela!
___ Tá bom! Concordou Pedro, com os olhos tristes!
___ Se não tem outro jeito, mas eu quero ir junto para conhecer o
casal, quero ter certeza que Shitara vai ficar bem!
Bia teve essa conversa com Pedro na segunda-feira a tarde. A noitinha
dessa mesma segunda, Shitara partiu para levar amor para um novo lar.
A despedida foi muito difícil, enquanto Bia dobrava o acolchoado de
Shitara e recolhia o ursinho, a bola de borracha e também a ração, colocando
tudo dentro de uma sacola, Shitara que estava sentada do seu lado prestando
atenção em tudo o que Bia fazia, parecia até que estava entendendo o que estava
acontecendo. Bia disse:
___ Shitara, foi um prazer acolher você em nossa casa, perdão por não
poder ficar com você, agradeço por ter feito parte de nossa família, apesar de
ter sido apenas dois dias e meio, você nos marcou com seu carisma, com seu
afeto! Bia lhe dá um abraço apertado com carinho, lhe desejando sorte.
O interfone toca, é o vizinho chamando Tito e Pedro, avisando que era
hora de partir.
Bia acompanhou pela última vez o sofrimento de Shitara para descer as
escadas, seu coraçãozinho estava acelerado, era nítido o medo estampado em seu
rosto, trêmula, empacou no topo da escada. Tito penalizado pegou a cachorra em
seu colo e desceu cambaleando as escadas com o peso de Shitara. Bia emocionada
joga um beijo de adeus para ela, desejando que fosse feliz. E assim, partiram
levando Shitara para conhecer o seu novo lar. Não demorou muito, Tito e meu
filho estavam de volta. Pedro apesar de estar muito triste disse que Shitara ia
ficar bem, o casal eram simpáticos e adoraram a Shitara, deixaram até que ela
cheirasse o bebê que estava no colo da moça, a casa era modesta, porém o
quintal era espaçoso, tinha também um menino, o Caio, de mais ou menos cinco
anos de idade, o filho mais velho do casal, que veio brincar com a bola de
borracha de Shitara, que logo se soltou, correndo no quintal com Caio. Enfim,
esta história teve um final feliz, Shitara ganhou uma nova família. Quanto ao
meu filho lhe restou uma lição, tem momentos em nossas vidas que não importa o
que queremos, por mais que desejamos, o mais importante é fazer feliz a quem se
ama. Não era o que queríamos, deixar Shitara partir de nossas vidas. Meu marido
diz estar sentindo uma tristeza, um vazio muito grande, até mesmo decepcionado
por não ter tido condições de ficar com a Shitara. Eu penso da seguinte forma,
a Shitara só estava de passagem em nossas vidas, não era para ser nossa. Esses
momentos que passamos junto com ela veio nos trazer muitos aprendizados, entre
eles despertar o sentimento da solidariedade e amor aos animais.
Observação (1): Mesmo de longe continuamos acompanhando a vida de
Shitara. A última notícia que tivemos através do vizinho, é que ela está se
adaptando muito bem, inclusive está até latindo.
Observação (2): Os nomes verdadeiros dos personagens contidos nesta
história foram alterados por motivo de privacidade.
Dilma Lourenço Moreira
Meu comentário é em forma de história.Quando fiquei grávida de minha primeira e única filha,meu pai me deu de presente uma Dalmata, eu dei o nome a ela de Cigana.Ela dormia sempre comigo na rede,na cama,estava sempre no meu colo,era um filhotinho.Minha nene nasceu e quando cheguei em casa ela pulou dentro do berço e lambeu ela todinha...Quando minha filha tinha 1 anos e meio, dois não me recordo bem ,ela desapareceu no imenso quintal que possuiamos no interior de Minas gerais,ai na loucura de procura-la descobrimos algo.A cachorra havia dado cria tinha uns 8 ou mais cachorrinhos tudo branco branco,as manchas aparecem após,acreditem se quisere,Minha criança tirou uma a um os cachorros da teta da mãe(a cachorra) e mamou na cadela.Coincidência ou não, essa minha filha nunca aodeceu,e uma menina feita de aço ,tanto de mente ,coração e de saúde.Eu amo os animais.thaisreder2006@gmail.com(não soub postar de outra forma se não fosse anonimo.
ResponderExcluirSeja lá quem for, desculpe te responder atrasado.
ResponderExcluirObrigada e volte sempre.
Abraços
Dilma