Muitas vezes as pessoas que mais podem te ferir não é o bandido
nas ruas, nem o assaltante na esquina e sim a pessoa que está do teu lado,
aquele que olha em teus olhos e diz que te ama. Quando enfim a máscara desse
réptil cai por terra mostrando sua real natureza, de princípio a tua revolta
diante de uma traição tão fétida tem o efeito de um vulcão fazendo explodir em
suas entranhas labaredas de ódio, indignada diante do ato covarde, tanto amor,
tanta dedicação, cumplicidade e em troca você recebe uma punhalada bem no meio
do peito. A dor é enorme, a agonia é gigantesca, o teu lar, que antes era tão
harmonioso de repente se torna uma praça de batalha, da tua boca sai palavras
cruéis, amargas, com a finalidade de ferir também o responsável pela dor que
dilacera tua alma.
Foi nesse estado de espírito que a minha amiga Marisa entrou em
minha casa, não conseguia parar de chorar, desequilibrada berrava a infâmia
descoberta que acontecia bem em baixo de seu nariz, dentro do seu próprio lar.
Eu mal tinha saído da cama, ainda me encontrava de camisola,
quando a campainha da porta quebra o silêncio. Marisa invade minha sala feito
um furação, jurando vingança, essa estava completamente desnorteada com a alma
se retorcendo, agonizando, nunca tinha visto a minha amiga naquele estado,
sempre foi uma pessoa calma, feliz com a sua vidinha.
E era eu que tinha que segurar aquele furacão.
__ Calma Marisa! Respira fundo, desse jeito você vai
enfartar!
__ Antes de acontecer isso eu vou matar aquele verme miserável,
hipócrita! Como é que pode viver tanto tempo ao lado de uma pessoa e não
conhecer a podridão que se passa em seu íntimo, mas deixa está! Esse cafajeste
não perde por esperar.
De repente Marisa fica estática no meio da sala, diante de um
terrível pensamento, achando que tinha encontrado a solução de acabar com a sua
dor, essa tinha as faces desfiguradas pelo ódio, com sede de vingança.
__ Eu já sei o que vou fazer, vou colocar veneno na comida dele,
uma ameba como esse desgraçado não pode sair ileso depois dessa traição.
Enquanto isso, eu tremia diante do ar resoluto de minha amiga,
intimamente fixei meus pensamentos em Deus fazendo uma prece, pedindo forças
para segurar o vendaval que se formava no interior de Marisa, corri até a porta
trancando-a com chave, com tempo de impedir que esta saísse desarvorada pela
porta, destruindo de vez a sua vida.
__ Abre essa porta, Ângela! Pelo amor de Deus, me deixa matar
aquele miserável, gente do tipo dele não merece viver, ele é muito podre,
asqueroso, um monstro saído das trevas, eu estava dormindo com um inimigo, o
demônio em pessoa.
__ Não faça isso Marisa! Pensa nas tuas crianças, o que vai ser
desses inocentes, sem pai e sem mãe?
__ E quem precisa de um pai como esse, ele me destruiu, acabou
comigo e agora, o que faço da minha vida? O safado desonrou o nosso lar levando
aquela vagabunda pra nossa cama, você não acha que esse verme merece um bom
castigo?
__ Meu amor! Não queira agora se comparar com o seu marido, somos
espíritos criados por Deus como seres únicos, veja, você é uma pessoa, o seu
marido é outra, com personalidades, índole, caráter diferentes, sendo assim,
cada um é responsável pelos seus erros.
__ Não te entendo Ângela! Você acha que vou deixar essa traição,
barato?
__ E vai fazer o que? Justiça com as próprias mãos?
Ângela aproveitando que tinha conseguido a atenção de Marisa
abraça forte a amiga, em seguida a convida para tomar uma caneca de chá de
camomila.
__ Beba o chá, Marisa! Vai te fazer bem.
Essa dá alguns goles no chá, olhando nos olhos da amiga.
__ Ângela, você é engraçada, até parece que nunca foi traída!
__ E fui! Você melhor que ninguém sabe disso e nem por isso o
matei.
__ Mas também não o perdoou, pôs o traidor pra correr da sua casa,
da sua vida.
Ângela dá um sorrisinho sem graça.
__ Não confunda perdão, com ser condizente com os erros do outro,
todos nós estamos sujeitos a errar, estamos todos neste mundo em busca da
evolução, no entanto têm pessoas que ainda não aprenderam a nem ter respeito
por si próprio, por isso esta sempre trocando os pés pelas mãos, cometendo
asneiras, desrespeitando a quem está a sua volta, não se importando a quem,
imaturo, não se dá conta que está fazendo os outros sofrerem.
__ Há, está bom amiga, só porque o meu companheiro é imaturo,
tenho que aceitar os seus erros?
__ De forma alguma, mas o que você não deve é errar junto com ele
comprometendo a sua evolução. Sou de opinião que quando ocorre à traição entre
casais, é sinal que o traído merece coisa melhor, é como um vaso que se quebra,
se colado nunca mais vai ser o mesmo, no casamento quando se perde a confiança
dificilmente terá de volta, sendo assim fica nula o vínculo dessa união, mas
nem por isso vamos sair por aí assassinando quem nos traiu.
__ E o que eu faço com o ódio? A mágoa que está me consumindo por
dentro, eu nunca que vou perdoá-lo!
__ Perdoar, não é aceitar os erros dos outros, perdoar, é o fim da
mágoa que por agora trasborda o teu coração.
__ Não sei não Ângela, não tenho o coração que você tem, não sou
passiva, a minha vontade agora é de cortar ele bem picadinho, como uma folha de
papel.
__ E o que vai resolver toda essa violência, amiga? Quem perde o
equilíbrio, perde a razão, vai passar de vítima para se tornar uma assassina,
isso não é amor, é possessão, se ele não é mais seu, não será de mais ninguém,
não é isso mesmo?
__ Você parece a minha mãe falando, que ninguém é de ninguém.
__ É isso mesmo, não somos donos nem da nossa própria vida, que
dirá se apossar da vida do outro. Um casal se une pela química, que gera
atração, bem querer. Isso é amor, e quando esse acaba, fica a cumplicidade, a
amizade, o respeito, mas quando acontece à traição, é porque nem isso restava
mais, sendo assim, é bobagem perder tempo insistindo nessa relação, apesar de
que existem casos e casos, de repente o teu marido até te ama, mas a atração
sexual pela outra foi mais forte que ele e esse caiu em tentação, agora, se o
amor que você sente por ele é tão grande a ponto de dar a ele uma nova chance,
e por que não?
Apesar de que eu acho muito difícil conciliar falta de confiança,
com amor. É viver no inferno e no paraíso ao mesmo tempo, no entanto essa
decisão só cabe apenas a você, não é pecado amar alguém além dos seus defeitos,
pecado é matar, pagar o mal com o mal.
Quando Ângela terminou de falar, Marisa soluçava baixinho.
__ Você tem razão Ângela! Com o ódio que estava, se o safado não
tivesse corrido quando o peguei em fragrante, eu teria exterminado o crápula
ali mesmo.
__ E teria o resto da vida para se arrepender, sem contar com os
novos problemas que teria que lidar, e mais, o pior das cadeias é a tua
consciência.
__ Não se preocupe Ângela! Agora, com a cabeça mais fria, graças a
sua ajuda sei o que quero para a minha vida, e com certeza não é carregar uma
morte em minha consciência!
__ Isso mesmo, amiga! Consciência tranquila não há dinheiro que
pague! Agora, quanto ao marido, você pode encontrar outro que te mereça!
Dilma Lourenço Moreira.
Perfeito!
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