segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O ganso preguiçoso




Biro-Biro é um ganso muito preguiçoso. O sol já vai alto, encontrando o ganso ainda largado no meio das palhas, enquanto isso a gansa Marinalva está na batalha desde cedo.

As amigas da gansa ficavam revoltadas e perguntavam:

__ Por que você aquenta esse traste? Não serve nem para varrer uma casa! Não te ajuda em nada! Se eu fosse você, colocaria esse inútil para fora da minha casa.

A pobre da gansa nada respondia, estava cansada, exaurida da lida. Sentia dores pelo corpo inteiro de tanto fazer faxina, para custear as despesas da casa. E o vagabundo do Biro-Biro, pensa que ele agradecia? Orgulhoso feito o quê. Se Marinalva se queixava que ele estava comendo demais, pronto, se sentia ofendido e ficava dias sem comer a comida que ela deixava pronta para ele, antes de ir para o trabalho.  Com os brios feridos, gritava que poderia muito bem viver sem a ajuda dela.

A gansa, penalizada com a situação de Biro-Biro pedia desculpa, o enchia de beijinhos e o ganso malandro ia continuando na vida mansa.

Mas não foi sempre assim. No início do relacionamento dos dois, Biro-Biro trabalhava e sustentava a casa, a felicidade reinava no lar dos gansos, até que um dia Biro-Biro foi demitido do emprego.

Depois disso ele nunca mais foi o mesmo, ficou desanimado e triste pelos cantos, desde estão Marinalva passou a se responsabilizar pelas despesas do lar, esperando que um dia o ganso que tinha escolhido para ser o seu companheiro se recuperasse da depressão, no entanto o tempo foi passando e o ganso continuou na veia de Marinalva, só queria ficar dentro de casa olhando pras paredes, comendo e dormindo, enquanto a gansa ralava para sustentá-lo. Terminou se acostumando a não fazer nada, perdendo de vez o gosto pelo trabalho. A gansa, quando percebeu que o malandrão não estava mais depressivo, ao contrário, estava parrudo, corado, sempre bem disposto, algumas vezes perdia a paciência com o ganso vadio e ameaçava-o, dizendo:

__ Biro-Biro! Já está passando da hora de você arranjar um novo trabalho, se não eu vou me separar de você!

 Mas o ganso sabia que a companheira não teria essa coragem, porque mandar ele embora de casa era o mesmo que chutar cachorro morto. Envelhecido, sozinho no mundo e o pior, não tinha nem como se sustentar; conclusão: a gansa Marinalva estava fadada a carregar o come-dorme do Biro-Biro, a vida inteira nas costas.

As amigas lhe recriminavam:

__ Você é a única culpada, Marinalva! Acostumou esse malandro muito mal, errou quando assumiu as responsabilidades da casa sozinha, inclusive enchendo ele de paparicos, então esse ganso ia trabalhar mais pra que? Se você cobria até os supérfluos! Agora, está aí nesse impasse.

    A gansa chorosa, por sua vez se defendia:

__ E tinha outro jeito? Ou era isso, ou nós dois teríamos morrido de fome! Tá, eu posso ter exagerado, mimei o malandro com presentes, caixas de bombons, então perdi as contas, mas eu só queria tirá-lo daquela tristeza que o pobrezinho vivia mergulhado!

__ Agora, tai amiga! Você criou um monstro, pois fique sabendo que o malandrão do Biro-Biro há muito tempo está curado da depressão, enquanto você está aí acabada, se redobrando para custear os caprichos desse ganso preguiçoso, enquanto ele está forte e formoso. Agora quero ver o que você vai fazer pra por esse safado pra trabalhar?  

A gansa Marinalva estava à beira de um colapso. Estafada com a lida, decepcionada com Biro-Biro, mas no fundo tinha esperança que um dia ele reagisse voltando a ser o ganso que ela tinha se apaixonado, mas infelizmente Biro-Biro nunca mais voltou a ser o mesmo. Se acostumando com as regalias ficava o dia inteiro de papo pro ar assistindo TV, acordando depois do meio dia, enquanto a pobre da gansa Marinalva suava em bicas para ganhar o pão.

__ Mas espera aí! Aquele que vem ali bem arrumado, banho tomado, não é o ganso Biro-Biro?

__ Não acredito!

__ É isso mesmo, minha gente! Pasmem, até onde chega à ingratidão desse ganso vagabundo. A gansa Marinalva carregou-o nas costas a vida toda e agora o traste do Biro-Biro está de caso com a franguinha da vizinha.

__ Isso não vai prestar nada, se conheço Marinalva, as penas de tal ganso preguiçoso vão voar.

Quando Marinalva ficou sabendo da traição, ficou louca de raiva e lavou a alma colocando Biro-Biro pra fora da sua casa e da sua vida, não antes de lhe dar uma sova muito bem dada, com o rolo de macarrão.

Biro-Biro saiu correndo estrada afora, com o bico todo torto, na esperança de encontrar outra trouxa que estivesse disposta a lhe sustentar.  



Dilma Lourenço Moreira

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