Biro-Biro é um ganso muito preguiçoso. O sol
já vai alto, encontrando o ganso ainda largado no meio das palhas, enquanto
isso a gansa Marinalva está na batalha desde cedo.
As amigas da gansa ficavam revoltadas e
perguntavam:
__ Por que você aquenta esse traste? Não serve
nem para varrer uma casa! Não te ajuda em nada! Se eu fosse você, colocaria
esse inútil para fora da minha casa.
A pobre da gansa nada respondia, estava
cansada, exaurida da lida. Sentia dores pelo corpo inteiro de tanto fazer
faxina, para custear as despesas da casa. E o vagabundo do Biro-Biro, pensa que
ele agradecia? Orgulhoso feito o quê. Se Marinalva se queixava que ele estava
comendo demais, pronto, se sentia ofendido e ficava dias sem comer a comida que
ela deixava pronta para ele, antes de ir para o trabalho. Com os brios
feridos, gritava que poderia muito bem viver sem a ajuda dela.
A gansa, penalizada com a situação de
Biro-Biro pedia desculpa, o enchia de beijinhos e o ganso malandro ia
continuando na vida mansa.
Mas não foi sempre assim. No início do
relacionamento dos dois, Biro-Biro trabalhava e sustentava a casa, a felicidade
reinava no lar dos gansos, até que um dia Biro-Biro foi demitido do emprego.
Depois disso ele nunca mais foi o mesmo, ficou
desanimado e triste pelos cantos, desde estão Marinalva passou a se
responsabilizar pelas despesas do lar, esperando que um dia o ganso que tinha
escolhido para ser o seu companheiro se recuperasse da depressão, no entanto o
tempo foi passando e o ganso continuou na veia de Marinalva, só queria ficar
dentro de casa olhando pras paredes, comendo e dormindo, enquanto a gansa
ralava para sustentá-lo. Terminou se acostumando a não fazer nada, perdendo de
vez o gosto pelo trabalho. A gansa, quando percebeu que o malandrão não estava
mais depressivo, ao contrário, estava parrudo, corado, sempre bem disposto,
algumas vezes perdia a paciência com o ganso vadio e ameaçava-o, dizendo:
__ Biro-Biro! Já está passando da hora de você
arranjar um novo trabalho, se não eu vou me separar de você!
Mas o ganso sabia que a companheira não
teria essa coragem, porque mandar ele embora de casa era o mesmo que chutar
cachorro morto. Envelhecido, sozinho no mundo e o pior, não tinha nem como se
sustentar; conclusão: a gansa Marinalva estava fadada a carregar o come-dorme
do Biro-Biro, a vida inteira nas costas.
As amigas lhe recriminavam:
__ Você é a única culpada, Marinalva!
Acostumou esse malandro muito mal, errou quando assumiu as responsabilidades da
casa sozinha, inclusive enchendo ele de paparicos, então esse ganso ia
trabalhar mais pra que? Se você cobria até os supérfluos! Agora, está aí nesse
impasse.
A gansa chorosa, por sua
vez se defendia:
__ E tinha outro jeito? Ou era isso, ou nós
dois teríamos morrido de fome! Tá, eu posso ter exagerado, mimei o malandro com
presentes, caixas de bombons, então perdi as contas, mas eu só queria tirá-lo
daquela tristeza que o pobrezinho vivia mergulhado!
__ Agora, tai amiga! Você criou um monstro,
pois fique sabendo que o malandrão do Biro-Biro há muito tempo está curado da
depressão, enquanto você está aí acabada, se redobrando para custear os
caprichos desse ganso preguiçoso, enquanto ele está forte e formoso. Agora
quero ver o que você vai fazer pra por esse safado pra trabalhar?
A gansa Marinalva estava à beira de um
colapso. Estafada com a lida, decepcionada com Biro-Biro, mas no fundo tinha
esperança que um dia ele reagisse voltando a ser o ganso que ela tinha se
apaixonado, mas infelizmente Biro-Biro nunca mais voltou a ser o mesmo. Se
acostumando com as regalias ficava o dia inteiro de papo pro ar assistindo TV,
acordando depois do meio dia, enquanto a pobre da gansa Marinalva suava em
bicas para ganhar o pão.
__ Mas espera aí! Aquele que vem ali bem
arrumado, banho tomado, não é o ganso Biro-Biro?
__ Não acredito!
__ É isso mesmo, minha gente! Pasmem, até onde
chega à ingratidão desse ganso vagabundo. A gansa Marinalva carregou-o nas
costas a vida toda e agora o traste do Biro-Biro está de caso com a franguinha
da vizinha.
__ Isso não vai prestar nada, se conheço
Marinalva, as penas de tal ganso preguiçoso vão voar.
Quando Marinalva ficou sabendo da traição,
ficou louca de raiva e lavou a alma colocando Biro-Biro pra fora da sua casa e
da sua vida, não antes de lhe dar uma sova muito bem dada, com o rolo de
macarrão.
Biro-Biro saiu correndo estrada afora, com o
bico todo torto, na esperança de encontrar outra trouxa que estivesse disposta
a lhe sustentar.
Dilma
Lourenço Moreira
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